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12 agosto 2010

As nossas coisinhas de Verão - Por Leonor Pinhão

Por Leonor Pinhão in A Bola

Carlos Queiróz não tem no seu país um estatuto de ídolo. O que é estranho porque Queiroz, ainda que uns bons degraus curriculares abaixo de José Mourinho, trabalhou no estrangeiro com sucesso ao serviço de um gigante europeu como é o Manchester United.

Em Portugal, há duas décadas, Queiroz levou a selecção nacional de juniores à conquista de dois títulos mundiais do escalão e este ano, em 2010, na fase final do mundial de seniores, levou a equipa nacional até aos oitavos-de-final e soçobrou perante a Espanha que haveria de se sagrar campeã do mundo, o que não é pouco.

No entanto, a FPF está farta de Carlos Queiroz e magicou um modo desajeitado de se ver livre do seleccionador. Não será coisa de espantar se Carlos Queiroz fizer vingar o seu contrato e os seus direitos e acabar por ser ele, o treinador, a despedir o presidente, Gilberto Madaíl. E não venham depois dizer que nunca viram nada parecido…
Não sendo um ídolo, Carlos Queiroz não arrasta multidões, não tem lobbies a favor nem contra e o seu destino profissional é mais ou menos indiferente à grande massa de adeptos portugueses que censurarão mais facilmente ao treinador a total ausência de brilho da Selecção na África do Sul do que a fraca “postura verbal” de que é formalmente acusado.
E é este o risco que corre Carlos Queiroz se não for ele próprio a meter um travão ao aproveitamento que se está a fazer do seu lamentável caso. É que, pelo andar da carruagem, Queiroz que não é um ídolo dos amantes do futebol, arrisca tornar-se um ídolo dos amantes da ordinarice e da violência e, francamente, ninguém merece uma coisa destas.

Carlos Queiroz agrediu um jornalista no Aeroporto de Lisboa e insultou um funcionário do Estado português, que se limitava a cumprir com o seu trabalho, em termos de fazer corar as pedras da calçada. Este currículo de Queiroz dá-lhe uma aura de ídolo e de santidade por todas as capelas onde bater em jornalistas e falar como um labrego é a liturgia oficial.
Inevitavelmente, os dois episódios fazem já parte do anedotário futebolístico nacional e se há coisa de que um seleccionador nacional não precisa é de entrar como protagonista em anedotas ainda que as anedotas se esqueçam facilmente até porque, no nosso país, há uma grande capacidade de renovação de reportórios tantas são as situações com que a realidade nos bombardeia.
O presidente do FC Porto, por exemplo, apresentou-se na sede da Federação Portuguesa de Futebol para colaborar na defesa de Carlos Queiroz. Pinto da Costa considerou o caso «ridículo» e considerou «normais» as palavras que terão dado origem ao processo disciplinar. E curvou-se, humildemente, perante a figura respeitável do manager do Manchester United afirmando: «Vir alguém como o Sir Alex Ferguson de Inglaterra para testemunhar até se torna preocupante…».

Fica, assim, provado que Pinto da Costa já se esqueceu da melhor anedota jamais contada por Sir Alex Ferguson que, um certo dia, falou na competitividade do campeonato português nos seguintes e escorreitos termos: «O FC Porto está habituado a comprar títulos no supermercado». E nem lhe foi preciso dizer uma asneirola.

NÃO é comum acontecer mas, pelo menos nesta semana, entre benfiquistas e portistas regista-se uma espécie de unanimidade de opinião que é digna de enaltecer. Se o mérito do vencedor da Supertaça mal se discute, também a eleição do nome do melhor jogador em campo não oferece, praticamente, motivo para argumentações e contra-argumentações.
Em A veiro, o melhor em campo foi Silvestre Varela, ponto final, parágrafo.
É sempre curioso quando vemos concordar duas multidões rivais vocacionadas para discordar. E porque é diferente é original e é saudável.
Menos original e menos saudável é, aparentemente, a posição expressa em público e em privado por muitos adeptos do Sporting que hesitam em atribuir o título de melhor em campo a Silvestre Varela visto que também lhes agradou imenso a exibição de João Moutinho, na sua estreia oficial pelo FC Porto, no jogo de domingo passado.
Se para uns, Varela foi a gazua que desarticulou as capacidades defensivas do campeão, para outros foi Moutinho o herói de Aveiro porque foi ele quem, sozinho conseguiu carregar de cartões amarelos meia equipa do Benfica, o que também tem o seu valor.

Observando o universo leonino, de fora e de longe, conclui-se que é uma verdadeira alegria sportinguistas oferecer os seus melhores jogadores ao FC Porto só para os ver, finalmente, ganhar títulos ao Benfica. Ou seja, o Sporting projecta-se mentalmente no FC Porto e acaba por dar razão a Moutinho que, mais esperto, se projectou fisicamente para o Estádio do Dragão para, como o próprio explicou, «ganhar títulos», que só muito dificilmente ganharia em Alvalade.
Com o devido respeito, trata-se de uma situação curiosa do ponto de vista da psiquiatria de massas. Não tenho nada mais a acrescentar.

HONESTAMENTE, nada tenho a censurar aos jogadores do Benfica na final da Supertaça no que diz respeito ao pouco entusiasmo e à reduzidíssima capacidade de concentração que exibiram no sábado passado em Aveiro. Eu própria, só mesmo à hora do jogo é que me lembrei que havia futebol e que o Benfica ia jogar. Isto para verem como uma pessoa pode desconcentrar-se facilmente em certos momentos que deviam exigir maior acuidade e empenho.
Presumo que aos jogadores do Benfica tenha acontecido precisamente a mesma coisa. Pronto, passaram um sábado distraído e quando deram pela coisa já não havia nada a fazer. É normal, ao fim e ao cabo. A Supertaça não nos diz muito. O Benfica entrou em campo no sábado com um registo de 9-1 em finais perdidas para o FC Porto. Valeria a pena tentar reduzir para9-2? Não, de modo algum, até parecia mal. Pessoalmente, prefiro 10-1 a 9-2, tem mais dignidade. 10-1 em finais da Supertaça perdidas para o FC Porto não é nenhum desastre. É apenas um depoimento sobre a dita competição, uma espécie de tese de pedantismo levado ao extremo. Confesso, gosto. E antes isto do que nos desculparmos com o facto de a Federação Portuguesa de Futebol, organizadora da prova, não ter feito disputar o jogo com a Jabulani, a moderna bola a que a nossa equipa tão bem se adaptou na pré-temporada.

A mudança de bola pode-nos ter sido fatal? Provavelmente. E poderíamos até elaborar uma longa dissertação sobre o tema, à laia de desculpa esfarrapada, se não tivesse sido exactamente essa a desculpa dada por André Villas-Boas depois das duas derrotas do FC Porto no torneio de Paris…

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