Por Hugo Daniel Sousa in Publico
A crise económica transformou o mercado de transferências deste ano em algo mais calmo do que noutros anos, mas a Liga portuguesa continua em alta. A mudança de Angel di María, do Benfica para o Real Madrid por 25 milhões de euros, é, até agora, o terceiro maior negócio do defeso, ao que se juntam ainda as vendas do portista Bruno Alves ao Zenit e do benfiquista Ramires ao Chelsea, ambas por 22 milhões. A cereja no topo do bolo surgiu anteontem à noite com a transferência do quase desconhecido Bebé do V. Guimarães para o Manchester United, por 8,8 milhões de euros.
Estes negócios permitem à Liga portuguesa ser aquela que, na Europa, tem mais "lucro" na relação entre o dinheiro gasto e recebido pelos clubes em transferências. Os clubes portugueses já encaixaram 106 milhões de euros, mesmo descontando os montantes a que o Benfica não tem direito nas vendas de Di María e Ramires - é que o clube da Luz só arrecadou 17 milhões com a venda do brasileiro e 20 por cento do argentino era do fundo de jogadores, pelo que Di María rendeu, para já, 22 milhões aos cofres da Luz, valor que inclui já uma parte (1,25 milhões) de uma das componentes variáveis previstas no negócio (a utilização do jogador) e que pode subir mediante a inscrição do jogador no Real Madrid nas próximas épocas e os títulos conquistados pelo clube espanhol.
Assim, os 16 clubes da Liga encaixaram 106 milhões de euros (incluindo as transferências internas) e gastaram 67,7 milhões em contratações de jogadores para a nova temporada, apresentando um saldo positivo de 38,3 milhões de euros.
Só quatro investidores
Este saldo da Liga portuguesa só é ultrapassado pelo campeonato da Argentina, o grande exportador da América do Sul, a par do Brasil. Os clubes argentinos já encaixaram 70 milhões de euros em transferências (menos do que os clubes portugueses), mas como compram bem menos o saldo positivo é de 43,2 milhões, segundo os dados do site Transfermarkt, que não tem informação sobre o campeonato do Brasil.
Nas grandes ligas europeias, só há duas em que os encaixes são superiores aos de Portugal. Os clubes espanhóis receberam até agora 212 milhões de euros e os italianos 170 milhões, embora em ambos os casos o balanço final seja inferior ao da Liga portuguesa: em Espanha, o deve e haver entre receitas e gastos é de dez milhões positivos, enquanto em Itália é de 31 milhões negativos. Em Inglaterra, o saldo é de 176 milhões negativos, na Alemanha de 16 milhões negativos e em França de seis milhões positivos.
O que até agora se viu do mercado 2010-11 reforça também outras duas características da Liga portuguesa: a preferência pelo mercado sul-americano e o facto de a capacidade de investimento se restringir quase exclusivamente aos três "grandes". Benfica, FC Porto e Sporting gastaram 66,4 milhões de euros, o que representa 98 por cento das verbas despendidas. Além destes três clubes, apenas o Nacional da Madeira despendeu verbas relevantes e conhecidas em transferências. Todos os outros 12 clubes portugueses fizeram contratações a custo zero - pelo menos tendo por base os valores que são públicos.
V. Guimarães lucra mais
Ainda no campo das contratações, os clubes portugueses voltaram a virar-se preferencialmente para o mercado sul-americano. O Benfica apostou nos argentinos Gaitán e Jara, o FC Porto nos brasileiros Souza e Walter, bem como no colombiano James Rodríguez, enquanto o Sporting contratou o argentino Torsiglieri e o chileno Valdés. O Sporting de Braga também apostou em vários brasileiros, como Elton, Felipe, Eduardo e Léo Fortunato.
O mercado, no entanto, não se limitou à vertente externa. A mudança de João Moutinho do Sporting para o FC Porto, por 11 milhões de euros, foi a maior transferência interna de sempre do futebol português. A mudança de Evaldo do Braga para Alvalade (três milhões) foi outro negócio que merece algum destaque.
Olhando para as receitas de transferências, os três "grandes" já não estão sozinhos, embora estejam novamente no topo da lista dos encaixes - Benfica, FC Porto e Sporting representam 79 por cento das receitas. A diferença é que, se contabilizarmos o saldo de gastos e receitas, surgem os clubes minhotos à cabeça. Com as vendas de Bebé ao Manchester United (8,8 milhões), Nuno Assis ao Al-Ittihad (800 mil) e Moreno ao Leicester (400 mil), os vimaranenses encaixaram dez milhões de euros, não havendo gastos registados. Logo a seguir surge o Braga, que recebeu 7,5 milhões de euros com as transferências de Eduardo para o Génova (4,5 milhões) e de Evaldo para o Sporting (três milhões).
Clubes da Liga portuguesa
Receitas em transferências (106 milhões de euros)
Benfica 39*
FC Porto 24,5
Sporting 20
V. Guimarães 10
Sp. Braga 7,5
Rio Ave 2
Naval 1,5
U. Leiria 0,9
Académica 0,4
Marítimo 0,2
Gastos em transferências (67,7 milhões de euros)
Benfica 29,4
FC Porto 24,5
Sporting 12,5
Nacional 1,3
* O Benfica encaixou 17 milhões de euros com a venda de Ramires: 11 milhões por metade do passe na mudança para o Chelsea mais os 6 milhões recebidos por ter cedido em Junho 50 por cento do passe à empresa Jazz Limited.
No caso de Di María, a transferência para o Real Madrid foi negociada por 25 milhões de euros, havendo cinco milhões indexados à utilização do jogador e seis milhões à performance desportiva do Real Madrid. Como 20 por cento do passe do argentino pertencia ao fundo de jogadores no qual o Benfica detém 15 por cento, o clube da Luz encaixou já 20,75 milhões de euros. A este valor deve somar-se desde já uma parcela de 1,25 milhões de euros respeitantes à utilização de Di María na temporada que agora se vai iniciar, já que basta o jogador ser inscrito para o clube português ter direito a esse montante. Em resumo, a transferência de Di María rendeu já 22 milhões de euros ao Benfica, podendo este montante crescer em 1,25 milhões por cada uma das outras três épocas que o argentino venha a ser inscrito pelo Real Madrid e mais 6 milhões mediante resultados desportivos do clube espanhol.
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