Por João Pinto in O Jogo
1 Benfica denotou falta de frescura física
Apesar de ter entrado com mais iniciativa - como seria de esperar pelo facto de jogar em casa e na qualidade de campeão nacional - e de ter tido uma oportunidade de golo logo aos oito minutos por Coentrão, este Benfica não me pareceu fresco fisicamente. Fez as coisas em esforço, sem a naturalidade que demonstrava no ano passado. E quando falta frescura física, os jogadores não pensam nem executam da mesma maneira. Daí que, na primeira parte, além da de Coentrão, só tenha tido outra ocasião clara de golo, num lance de bola parada concluído com uma cabeçada de Sidnei.
2 Sobrecarga da pré-temporada?
Há equipas italianas que começam os campeonatos assim, com os jogadores a sentirem dificuldades nos primeiros jogos devido às elevadas cargas físicas. Não conheço a estratégia da equipa técnica do Benfica em termos físicos, mas quer-me parecer que os treinos não diferem dos do ano passado. Onde se nota uma diferença grande é precisamente em relação à frescura física, quem sabe como resultado de uma sobrecarga da pré-temporada, em que o Benfica fez jogos de dois em dois dias com viagens pelo meio. Tanto na Supertaça, com o FC Porto, como ontem, frente à Académica, aquilo que vi não foi um ou dois jogadores fisicamente mal, mas sim uma equipa inteira, e assim torna-se mais difícil disfarçar as saídas.
3 Ausências de Di María e Ramires por colmatar
O Benfica não conseguiu fazer esquecer Di María e Ramires. O brasileiro é muito bom tacticamente, lê muito bem o jogo, tem simplicidade de processos e ainda aparece na área; não é por acaso que é internacional pelo seu país e foi contratado pelo Chelsea. Rúben Amorim é obviamente um jogador diferente. Quanto ao argentino, que é um desequilibrador nato e muito veloz, no actual plantel dos encarnados Coentrão é aquele que mais se aproxima das suas características. No ano passado, o Benfica também não começou a Liga a ganhar (empatou com o Marítimo), mas desta vez a resposta da equipa não esteve ao mesmo nível.
4 Uma Académica à imagem do treinador
A Académica, por seu lado, foi uma equipa bem organizada, que recuava no seu meio-campo quando defendia, mas procurava as transições rápidas, através dos alas Sougou e Diogo Valente, para surpreender. Atacava e defendia com muitos elementos e mostrou personalidade, o que é mais notável se atendermos ao local do encontro, o Estádio da Luz, e ao adversário, nada mais nada menos que o campeão nacional. Esta Académica é a imagem do treinador! A vitória de ontem fez-me recordar os jogos que o Olhanense da época passada, treinado por Jorge Costa, fez em Alvalade, no Dragão e na Luz. Tal como essa, também esta Académica é uma equipa destemida, que não se fecha, que não põe o autocarro à frente da baliza e que discute o jogo. Embora sendo mais débil quando comparada com os grandes, procura jogar, não dá pontapés para a frente. Acredito que esta será uma das boas equipas do campeonato e, nos jogos fora de casa, vai aproveitar bem os seus jogadores mais rápidos. Conheço bem Jorge Costa, fui treinado por ele e sei que gosta de que as suas equipas joguem bom futebol.
5 Um golo candidato ao Top 5 da Liga e outro fruto da defesa à zona
A vitória da Académica surgiu graças a um grande golo, que provavelmente estará no Top 5 deste campeonato. É um remate indefensável, muito colocado e que entrou junto ao ângulo - Roberto não está adiantado, ninguém evitaria aquele golo. Ficou a dever-se a um desequilíbrio defensivo do Benfica e à capacidade da Académica, em transições rápidas, de libertar três ou quatro jogadores para o ataque. O primeiro golo da equipa de Coimbra surge de uma bola parada, situação que o Benfica defende à zona e em que, quando não se ataca a bola, se correm grandes riscos quando - como foi o caso - o adversário é mais rápido.
6 A expulsão, Coentrão e Laionel
A expulsão de Addy marcou a segunda parte, período em que o Benfica teve total domínio do jogo, embora a Académica não tenha abdicado do ataque. Sempre que ganhava a bola, saíam dois ou três jogadores para a frente. Com grande espírito de sacrifício e solidariedade, subiam e desciam no terreno. Foi isso que fizeram Sougou e Diogo Valente na primeira parte e, mais tarde, apenas o primeiro. Com dez, o jogo tornou-se muito complicado, mas os visitantes continuaram a demonstrar uma forte personalidade. Do lado do Benfica, o perigo surgia pelas alas, em especial por Coentrão, não só no golo de Jara como noutras situações. Aliás, o esquerdino é o único jogador do Benfica a merecer um destaque individual, não só pelos desequilíbrios que criou, mas especialmente porque, ao contrário do que seria de esperar pelo facto de ter estado no Mundial, pareceu o menos cansado. Na Académica, o destaque óbvio vai para o golo de Laionel, que é do outro mundo, pela intenção, pela forma como chutou, pelo local de onde o fez. Entrou fresco, com capacidade para decidir, e demonstrou muita qualidade.
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