Por Hugo Daniel Sousa in Público
Jorge Fernando Pinheiro de Jesus é, aos 55 anos, o quarto treinador português a ganhar o campeonato nacional pelo Benfica. Antes dele, apenas os portugueses Fernando Cabrita (14 jornadas da época 1967-68), Mário Wilson (75-76) e Toni (88-89 e 93-94) tinham conduzido a equipa "encarnada" ao título. Menos inédito é ser campeão pelo Benfica logo na primeira época. Jesus será o 14.º a vencer na Luz na temporada de estreia.
"Sei que só três [portugueses] foram campeões, mas também sei que vou ser o 18.º [campeão]", disse Jorge Jesus, em Junho passado, quando foi apresentado na Luz. Dez meses depois, o técnico da Amadora cumpre a promessa e junta-se à lista dos treinadores campeões pelo Benfica, que é agora formada por 14 estrangeiros e quatro portugueses.A explicação para este domínio dos estrangeiros é que, durante muitos anos, o Benfica privilegiou a contratação de técnicos oriundos de outros países. "Criou-se a mentalidade de só apostar em portugueses em casos excepcionais. Isso transformou-se numa tradição e quase num dogma", explica Mário Wilson, que foi campeão na Luz em 1975-76.
O domínio dos treinadores estrangeiros não é, aliás, um exclusivo do Benfica. Dos 76 campeonatos nacionais já realizados (incluindo o desta época), 48 títulos foram conquistados por técnicos estrangeiros, 25 por portugueses e três a meias entre técnicos oriundos de Portugal e do estrangeiro. Ao todo, são 20 os treinadores portugueses campeões, contra 28 estrangeiros.
E mesmo se olharmos para a realidade dos outros clubes, a conclusão é a mesma. Na história do FC Porto, há seis portugueses campeões e nove estrangeiros. No Sporting, são sete os portugueses e nove os estrangeiros campeões. As excepções são Boavista, campeão com Jaime Pacheco, e o Belenenses, levado ao título por Augusto Silva.
Onze húngaros a abrir
Augusto Silva, que em 1945-46 deu o primeiro e único campeonato ao Belenenses, foi mesmo o primeiro português a conquistar o título, pondo fim a uma exclusividade de treinadores húngaros. Nos primeiros 11 anos do campeonato nacional, o campeão foi sempre dirigido por um técnico magiar: Josef Szabo (FC Porto, 34-35 e Sporting 40-41 e 43-44), Lipo Herczka (Benfica, 35-36 a 37-38), Mihaly Siska (FC Porto, 38-39 e 39-40), Josef Szabo e Janos Biri (Benfica, 41-42, 42-43 e 44-45).
Esta tendência tem vindo a ser invertida nos últimos anos. Na mudança de milénio, entre 1996-97 e 2000-01, tinha havido um ciclo de domínio de treinadores portugueses, com cinco títulos consecutivos (dois de Oliveira, um de Fernando Santos, outro de Inácio e outro de Jaime Pacheco), embora seja necessário realçar que Giuseppe Materazzi comandou o Sporting campeão em cinco jornadas de 1999-2000.
E, agora, pela quarta época consecutiva, é um português a vencer, com Jesus a suceder ao tricampeão Jesualdo Ferreira. "A vitória de Jorge Jesus é um reforço da qualidade dos treinadores portugueses", argumenta Toni, que tinha sido o último luso campeão no Benfica, em 1993-94.
"O que interessa é a competência e não a nacionalidade, mas muitas vezes assistimos à escolha de estrangeiros sem grande crédito. Houve durante muito tempo uma desconfiança estúpida em relação aos portugueses", acrescenta Mário Wilson, para quem esse "dogma" está a ser ultrapassado. Toni não descarta que a conjuntura económica ajuda à opção por técnicos nacionais, mas sublinha que a "formação melhorou substancialmente": "E também vimos treinadores como Mourinho, Manuel José ou Artur Jorge abrir portas."
Sempre que um clube tem de escolher um treinador português e um estrangeiro, além de factores como a idade, a experiência, os vencimentos e a competência, esgrime-se o argumento de que um técnico nacional conhece melhor o futebol português. É este um argumento decisivo? Mário Wilson considera-o "importante". "A língua é extremamente importante, assim como o conhecimento dos adversários e a até as relações humanas, com jogadores e comunicação social", destaca o antigo treinador.
Toni, que já emigrou várias vezes, também reconhece que é uma vantagem treinar uma equipa do próprio país, apesar do mundo global em que vivemos. "Ver vídeos não é a mesma coisa", refere o técnico, alertando também para a importância de se conhecer todos os detalhes sobre os adversários e até as condições dos estádios em que se joga. "Em 1983, era eu, adjunto do Eriksson, quem na palestra falava aos jogadores sobre as equipas adversárias", recorda Toni.
Treinadores campeões pelo Benfica
Lipo Herczka (Hungria) 35-36; 36-37; 37-38
Janos Biri (Hungria) 41-42; 42-43; 44-45
Ted Smith (Inglaterra) 49-50
Otto Glória (Brasil) 54-55; 56-57; 67-68 (5 jogos); 68-69
Béla Guttman (Hungria) 59-60; 60-61
Fernando Riera (Chile) 62-63; 66-67; 67-68 (7 jogos)
Lajos Czeizeer (Hungria) 63-64
Elek Schwartz (Roménia) 64-65
Fernando Cabrita (Portugal) 67-68 (14 jogos)
Jimmy Hagan (Inglaterra) 70-71; 71-72; 72-73
Milorad Pavic (Jugoslávia) 74-75;
Mário Wilson (Portugal) 75-76
John Mortimore (Inglaterra) 76-77, 86-87
Lajos Baroti (Hungria) 80-81
Sven-Goran Eriksson (Suécia) 82-83; 83-84; 90-91
Toni (Portugal) 88-89; 93-94
Giovanni Trapattoni (Itália) 2004-05
Jorge Jesus (Portugal) 2009-10
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