Ir ou não ir ao futebol - Por Manuel Tavares

Por Manuel Tavares in O Jogo

Não foi certamente um acaso que a assistência do último FC Porto-Benfica tenha sido a mais baixa desde que este clássico é disputado no Dragão. A mim, isso não me espantou: ao longo dos dias da semana passada, entre os meus amigos e conhecidos de ambos os emblemas, foram sempre mais os que se mostraram indisponíveis para arriscar uma ida ao estádio. E não necessariamente porque temessem desacatos especialmente graves. Simplesmente não estavam dispostos a serem molestados ao vivo por um ambiente demasiado antipático para quem gosta de desfrutar do futebol com paixão, mas no quadro de uma vivência que não inclua foleirices mais ou menos bárbaras.

Claro que o futebol, pelo que propicia de contacto físico entre jogadores e entre adeptos, estará sempre longe de um espectáculo sereno, como a ginástica ou o atletismo. Além disso, as bandeiras sociais e até políticas que suscita, seja no sentido da crispação ou da descrispação, também não facilitarão nunca uma versão do futebol exclusivamente dedicada ao espectáculo pelo espectáculo. Isso seria pura e simplesmente antinatura.

Ainda assim, há um caminho a percorrer para que o futebol não perca a capacidade de nos emocionar e aglutinar profundamente, não permitindo que seja atirado para terrenos inaceitáveis.

Inaceitáveis mesmo para aqueles que vêem nas contradições do jogo e da competição a oportunidade de poderem vingar-se da vida madrasta.

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