Por João Gobern in Record
Há mais ou menos um ano já eram nítidos os rumores que indicavam Jorge Jesus a caminho do Benfica. É certo que o clube dispersava a sua atenção por outro foco: o de uma eleição presidencial com alguns discursos e algumas atitudes que - uns por nobreza de caráter e olhos postos no presente e no futuro, outros porque os tempos os reduziram ao silêncio - já ninguém recorda. É mais certo ainda que vinha de outra temporada abaixo das expectativas e necessidades. Ainda houve "choro e ranger de dentes" na despedida de Quique Flores, mesmo depois de comprovado o desajustamento do espanhol às realidades portuguesas. Hoje, os maiores contestatários de Jesus assobiam para o lado e deviam ser sentenciados a longas peregrinações de penitência. Não são só o título "reservado", a dignidade reconquistada na Europa, a Taça da Liga desviada dos aprendizes de La Fontaine ("está verde, não presta", diz a raposa das uvas para que, afinal, corre, assim que pensa ouvi-las cair). É aquele futebol "de cilindro", é a alma que se ganha com a segurança. É a enchente que se repete, em vez de esvaziar. O Benfica pagou ao Braga pela transferência de Jesus? Abençoados euros, pensam e dizem os adeptos da águia.
Vem isto a propósito da mudança de Paulo Sérgio de Guimarães para Alvalade. Que ao longo de todo o dia de ontem gerou - sobretudo na feira franca da Internet - manifestações de "tolerância zero", que foram desde o "repúdio" à "vergonha". Porque se paga a terceiros? Pelo demonstrado acima, não é crime, facto mais sublinhado ainda se recordarmos o entendimento entre Boavista e FC Porto para a mudança de Jesualdo Ferreira. Porque não tem currículo? Mas haverá campeões em estreia se não lhes for dada a primeira oportunidade? Sejamos claros: entre André Villas-Boas e Paulo Sérgio, descontado o passado em comum com Mourinho, o corte de fatos, a marca das camisas ou o corte de cabelo, para quem pende uma análise justa?
Tenho Paulo Sérgio na conta de homem competente (Paços de Ferreira e Guimarães, onde nem sequer lhe coube preparar a época, confirmam-no), ambicioso nos seus 42 anos e absorvido no seu trabalho. Mais: é honesto, direto e não vira a cara. Já o vi errar e pedir desculpa, o que não é comum. Por tudo isto, não percebo a sentença de morte antecipada, sobretudo num momento que deveria ser de cerrar de fileiras e de consciência das próprias fraquezas e limitações.
O Sporting de hoje vive tantas contradições (plantel desigual, esfrangalhado e desmotivado; erros na distribuição e exercício de funções; lapsos e disparates no discurso) que, à partida, Paulo Sérgio é uma mais-valia. Precisa de saber e de fortuna para não ser a próxima vítima de quem não sabe ver-se ao espelho.
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