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29 abril 2010

A relva e a 'superfície de passe' - Por Luís Freitas Lobo

Por Luís Freitas Lobo in A Bola

HÁ quem pense mesmo que ela existe. Por isso, muitas vezes, após um remate ou um passe, ouvimos essa suprema definição: foi um «gesto técnico perfeito». É o atingir da execução ideal. Mas será isso possível? Sim e não. Claro que o futebol sabe reconhecer a recepção e o passe bem feito, mas se há coisa que não admite é essa universalidade de expressões artísticas. Acredito que essa perfeição técnica até existe mas com traços e expressões completamente diferentes de um jogador para outro. Porque a biomecânica de cada um é muito específica. Pode-se escrever com a mão esquerda, trocar a ordem dos talheres a comer. Nada disto são imperfeições. São diferentes formas, eficazes, de realizar o mesmo acto. No futebol, pode-se controlar a bola, passar ou rematar das mais diversas formas. Todas diferentes no gesto, todas iguais na…perfeição.
Penso nisso quando vejo Di María fazer aqueles precisos fantásticos passes de letra para Cardozo no último jogo do Benfica. A primeira tentação é dizer que ele adornou demasiado a jogada, complicou-a até, resistiu a fazer um malabarismo. É exactamente ao contrário. Porque, para ele, aquela é a forma mais simples de resolver aquela jogada e fazer o passe bem feito, visto ser canhoto e assim, de letra, poder executá-lo com o pé esquerdo, em vez do direito, que parecia a solução mais fácil (e natural) naquela posição em face da linha de passe desenhada. Aimar, nas mesmas posições, faria o passe com o pé direito, colocando-o de outra forma, igualmente cirúrgica, em Cardozo.

Qual deles é o «gesto técnico perfeito»? Os dois. Naquele caso específico, aquela era o traço ideal para Di Maria interpretar e desenhar a «superfície de passe» com que se deparou. E desenhou-a na perfeição. Na visão universal, foi um gesto técnico «contra-natura». Na visão específica, foi um gesto técnico «natural». E, o futebol é um jogo específico. Porque é feito pelas especificidades (características) de cada jogador. São elas que, em campo, dizem, jogada após jogada, quais as exigências de execução e a forma particular do «gesto técnico perfeito». O que ele fez, portanto, com um passe de letra, foi…simplificar o (seu) jogo.

Este conceito pode ter diferentes expressões, ditadas, para além da natureza, da especificidade do local onde se executa. Assim, vendo jogar as duas melhores equipas do campeonato, no pólo oposto de Di María está, no Braga, o passe burocrático de Madrid. É outro entendimento, a partir do posto de pivot, da superfície de relva por onde o passe deve caminhar. Também tecnicamente perfeito. Gesto e leitura do jogo.

É neste contexto (partir da especificidade para captar a globalidade) que mora a raiz do melhor futebol: qualidade de passe. O segredo é entender a superfície de relva que surge à nossa frente. A base para, em campo, aplicar (desenvolver) uma ideia de jogo. Os passes bem feitos estão para o jogo como a construção correcta das frases num bom livro. Depois cada um constrói o seu estilo. Cada um exterioriza a sua biomecânica.

Lançamentos laterais longos

NO bom futebol do Benfica desta época, existe uma nuance estratégicaa nos lançamentos de linha lateral no enfiamento da área. Nessas alturas, opta sempre por um lançamento longo para dentro da área. É isso que leva a que, na esquerda, em vez de ser o lateral a fazer os lançamentos como é natural, é o defesa-central, David Luiz. Na direita, é Maxi Pereira que os faz. Foi no seguimento de um lançamento seu que fez, por exemplo, o primeiro golo à Académica. É uma opção interessante de analisar, até porque é estranho ver como muitos treinadores desprezam o lado estratégico dos lançamentos de linha lateral (onde não há fora-de-jogo) perto da área. Neste caso, porém, não penso que a equipa ganhe muito com esta opção, porque a bola raramente vai tensa (que é quando cria mais perigo) e surge quase sempre bombeada ao primeiro poste, pedindo a luta por uma bola dividida (duelo físico). Aposta em ganhar as segundas bolas (e se o conseguir é letal) mas o melhor futebol do Benfica esta época sempre se baseou em ganhar e tratar bem a…primeira bola.


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