QUANDO alguém me pergunta quem são, para mim, os melhores futebolistas portugueses de todos os tempos, respondo por instinto: Eusébio, Figo, Simões, Futre, Ronaldo, Rui Costa, Baía, João Pinto, Chalana, Coluna, Pauleta. Respiro fundo, penso um pouco e acrescento: Simão, Humberto, Bento, Damas, Gomes, José Augusto, Jordão, Alves, Paulo Sousa, os violinos, Germano e, puxando muito pelos neurónios, Matateu. Depois, quase sempre, os meus interlocutores (linda palavra) riem-se: «E o Nené?!»
QUANDO alguém me fala no Nené (nascido em Leça da Palmeira!), sinto-me envergonhado. Eu e mais não sei quantos milhões de benfiquistas. É que Nené devia ser palavra de estudo obrigatório desde a quarta classe e inserida em todos os dicionários criados depois de 20 de Novembro de 1949. Mais ou menos assim: Nené, s. m. o que marca golos; goleador; mal-amado; aquele que não suja os calções (do fr. néné, «seio; mama»). Quem faz 575 jogos e marca 359 golos pelo Benfica, sendo um dos maiores goleadores portugueses de sempre, tem entrada directa na história.
MAS, agora, quando me falam em Nené, além de envergonhado por raramente me lembrar dele por instinto, fico orgulhoso. Não de mim; dele. Terça-feira, 6 de Abril, contracapa do DN: Nené a falar da filha Filipa Gonçalves com a maior abertura e sem ponta de constrangimento. Filipa foi a primeira pessoa em Portugal a mudar de sexo: nasceu menino por fora, menina por dentro. E Nené fala da filha: «Estou orgulhoso.» Erro. O tempo verbal é a primeira pessoa do plural: estamos. De si. Do pai Nené, que foi, em tempos, o goleador Nené.
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