Por Luís Freitas Lobo in A Bola
NUMA das suas fantásticas conversas de futebol, Guardiola falava, há tempos, de como no jogo do seu Barça existe a estratégia de atrair o adversário para o erro. Ou seja, na construção de jogo, controlar a posse até ao limite de fazer o passe, dando assim a ideia ao adversário que pode roubar a bola e, por isso, sai da sua posição para o tentar, mas quando chega lá, já os jogadores do Barça fizeram o passe, exactamente para o espaço que ficou vazio pela…saída (errada) do adversário atraído pela bola. É quase como o pássaro que se sente irresistivelmente atraído pelo movimento da serpente e se aproxima da sua cabeça. É-lhe quase sempre fatal. Para uma equipa de futebol, também. A atracção pela bola pode como um presente envenenado.
O jogar benfiquista esta época tenta, em alguns momentos, jogar com essa tentação. Induzir em erro o adversário. Peguemos em jogos com as equipas ditas mais fechadas, mais densas no posicionamento defensivo, onde se reflecte mais esse jogo de atracções falsas nos efeitos do passe/desmarca. São dois gestos básicos do futebol, que se cruzam com os de recepção e marcação. Em geral, nessas circunstâncias, as equipas, na tentativa de desmontar esses muros defensivos fazem um passe e desmarcação essencialmente curtos (os espaços também são encurtados pelo adversário), para, assim, ir construindo sucessivas linhas de passe, abrindo pequenos espaços, até encontrar o tal buraco da fechadura para furar.
O Benfica, nesse processo, também usa o passe-desmarca mas não nesta vertente tão rendilhada de construção curta. Ao invés, procura um passe de desmarque mais profundo. Isto é, o penúltimo passe antes da conclusão do processo ofensivo, sendo mais longo e esticando o processo ofensivo, produz uma desmarcação em profundidade (maior ou menor) de um seu avançado. Foi assim que virou o jogo na Naval. Revejam, por exemplo, os lances do 1-2 e do 2-3. Di Maria é exímio na percepção desse passe profundo de desmarcação. Weldon, noutra forma, também o percebe bem. Em todos estes casos o adversário foi antes atraído para o erro. Isto é, pensou que podia roubar a bola.
Cruzemos outros elementos nesta reflexão. Fala-se muitas vezes que um jogador está escondido no jogo. Em geral, isso leva logo a pensar em questões de motivação. Raramente é assim. O problema, ao invés, é quase sempre táctico. Ou seja, é o jogador, com a sua mobilidade, que tem de se mostrar ao jogo. Para que, numa jogada concreta, «mostrar-se» ao seu colega em posse da bola e dizer-lhe «estou aqui, mete!». Em geral, nesse mostrar-se ao jogo e ao colega, está o abrir/libertar dum espaço por onde pode entrar o tal passe de ruptura, em geral profundo. É o que faz Di María na maior parte das jogadas. O colega transporta a bola e ele aparece-lhe. Dá-lhe a solução. No fundo, tudo isto são dinâmicas (e sub-dinâmicas) para, no jogo, aumentar o espaço onde se pode receber e passar a bola. E o que é o futebol senão um jogo no qual o grande desafio se baseia em criar espaços?
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