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04 março 2010

Ulisses no Estádio do Mar


Por Jacinto Lucas Pires in JN

Essa língua monossilábica chamada “english” tem expressões tão minimais que parecem logo verdade. Uma diz, por exemplo, que “it takes two to tango”. É uma frase com mais malícia do que parece. Seja como for, para efeitos desta crónica, aceitemos a letra tal e qual. É nesse espírito – sabendo que todo o jogo se faz com dois – que venho elogiar o Braga.
Começo por uma confissão: sempre tive uma simpatia especial pelo nosso Arsenal. Tenho raízes minhotas e habituei-me a ver o Braga (apesar daquele estranho “Sporting” do nome) como uma espécie de Benfica do norte. Por isso, consigo dizer, de cara séria e sem a mais pequena flor de ironia, que é um prazer disputar o campeonato com os bracarenses. São precisos dois para a dança, para a luta, para a coisa ter graça.
Agora, se é “tango”, amigos, o caneco há-de ser nosso. Não é por nada mas temos a nata da nata argentina: Aimar, Saviola e, sim, o tal miúdo-craque de quem todos falam, Di María.
Sabem aquela do treinador que desmanchava a gramática nas entrevistas mas devorava alta-literatura nos confins privados do repouso? Aqui vai, então. O que é que Jorge Jesus e James Joyce têm em comum? O duplo J, pois. E mais? A resposta está escarrapachada nas primeiras páginas. Di María, claro. No começo o miúdo pisava a relva qual Retrato do Artista Quando Jovem, agora é quase-quase um Ulisses. Mas citemos Nelson Rodrigues, o maior escritor de bola de todo o para-sempre – “as coisas só tomam o seu exato valor quando evocadas” –, e passemos à evocação do sábado leixonense.
O nosso Ángel não é anjinho nenhum, pois. E, no entanto, ali, começou por ser injustiçado num estilo de baixo absurdo. Quem não viu? O miúdo faz um golo óbvio, limpíssimo, e não é que, em equilíbrio sobre a linha, o fiscal sisudo levanta a bandeira? Mas não fez mal, pelo contrário. Sim, tenho para mim que esse erro espantoso é que lançou o jovem artista à descoberta de si mesmo no Estádio do Mar. Só dos pés do nosso Ángel, foi a conta que Deus fez.
É isto, sempre, há que fazer pelo destino. Di María, mostra-nos o milagre de novo, por favor. Falta-nos interiorizar isso por cá: não basta ser certinho, bonzinho. Temos de mudar, melhorar, tocar os impossíveis.

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