Por Jacinto Lucas Pires in JN
Essa língua monossilábica chamada “english” tem expressões tão minimais que parecem logo verdade. Uma diz, por exemplo, que “it takes two to tango”. É uma frase com mais malícia do que parece. Seja como for, para efeitos desta crónica, aceitemos a letra tal e qual. É nesse espírito – sabendo que todo o jogo se faz com dois – que venho elogiar o Braga.
Começo por uma confissão: sempre tive uma simpatia especial pelo nosso Arsenal. Tenho raízes minhotas e habituei-me a ver o Braga (apesar daquele estranho “Sporting” do nome) como uma espécie de Benfica do norte. Por isso, consigo dizer, de cara séria e sem a mais pequena flor de ironia, que é um prazer disputar o campeonato com os bracarenses. São precisos dois para a dança, para a luta, para a coisa ter graça.
Agora, se é “tango”, amigos, o caneco há-de ser nosso. Não é por nada mas temos a nata da nata argentina: Aimar, Saviola e, sim, o tal miúdo-craque de quem todos falam, Di María.
Sabem aquela do treinador que desmanchava a gramática nas entrevistas mas devorava alta-literatura nos confins privados do repouso? Aqui vai, então. O que é que Jorge Jesus e James Joyce têm em comum? O duplo J, pois. E mais? A resposta está escarrapachada nas primeiras páginas. Di María, claro. No começo o miúdo pisava a relva qual Retrato do Artista Quando Jovem, agora é quase-quase um Ulisses. Mas citemos Nelson Rodrigues, o maior escritor de bola de todo o para-sempre – “as coisas só tomam o seu exato valor quando evocadas” –, e passemos à evocação do sábado leixonense.
O nosso Ángel não é anjinho nenhum, pois. E, no entanto, ali, começou por ser injustiçado num estilo de baixo absurdo. Quem não viu? O miúdo faz um golo óbvio, limpíssimo, e não é que, em equilíbrio sobre a linha, o fiscal sisudo levanta a bandeira? Mas não fez mal, pelo contrário. Sim, tenho para mim que esse erro espantoso é que lançou o jovem artista à descoberta de si mesmo no Estádio do Mar. Só dos pés do nosso Ángel, foi a conta que Deus fez.
É isto, sempre, há que fazer pelo destino. Di María, mostra-nos o milagre de novo, por favor. Falta-nos interiorizar isso por cá: não basta ser certinho, bonzinho. Temos de mudar, melhorar, tocar os impossíveis.
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