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10 março 2010

A mão que lhes ficou atravessada


Por Sérgio Krithinas in O Jogo

"Não quero falar sobre isso. Não me chateie. Não tenho nada a dizer. Adeus." As frases saem da boca do terrivelmente antipático Bernard Tapie, o polémico francês que se queixou de um roubo quando viu o Benfica eliminar o Marselha na meia-final da Taça dos Campeões Europeus de 1989/90. O ex-presidente do Olympique sabia do que falava: o golo dos encarnados foi com a mão e, sete anos mais tarde, passou seis meses em prisão efectiva, depois de ter sido condenado por corrupção. Tapie chegou a exigir à UEFA a repetição da segunda mão, contando com o apoio do primeiro-ministro francês, Michel Rocard. Duas décadas depois, ele é a prova de que a memória dos seres humanos é capaz de fazer um momento durar para sempre, transformando-o num sonho ou… num trauma.

A 18 de Abril de 1990, o Benfica apurava-se para a sétima final da Taça dos Campeões Europeus graças a um célebre golo apontado por Vata, avançado angolano cujo nome se tornou composto - passou a ter o prefixo "Mão de". Do outro lado estava uma equipa que esta época tem finalmente a oportunidade para fazer o ajuste de contas: será a adversária das águias nos oitavos-de-final da Liga Europa. A primeira mão é na Luz, esta quinta-feira; a segunda no Vélodrome, uma semana depois.

Vata, que estava literalmente em cima do lance, é o único que não viu que o golo foi marcado com a mão. Nem com as imagens de televisão. "Foi com o ombro", assegura a O JOGO, desde o outro lado do mundo, a Austrália, onde vive. "As pessoas vêem o movimento do corpo e ficam com a sensação de que foi com a mão. Mas não há nenhuma imagem que mostre claramente que foi assim. Se houvesse alguma repetição mais aproximada e de melhor qualidade…", justifica. "Eu não culpo as pessoas por dizerem que foi com a mão, mas há uma coisa: eu é que senti a bola, sou o único que posso ter a certeza", vinca.

O angolano passou os últimos 20 anos a jurar a sua versão a pés juntos. "Com o ombro?! Ao fim de 20 anos pode dizer o que quiser, mas toda a gente viu que foi com a mão", desabafa Jean-Pierre Papin, o ponta-de-lança dessa equipa do Marselha. "Foi muito difícil de digerir esse jogo. É um pequeno pesadelo que ainda tenho. Custou muito perder daquela forma, porque estava em causa a presença numa final da Taça dos Campeões Europeus", prossegue o ex-internacional francês a O JOGO, que tem o lance gravado na memória em câmara lenta. "Estava dentro da área, junto ao primeiro poste, perto daquele sueco alto… Anderson? Ah, sim, Magnusson. Dentro de campo, não vi que tinha sido com a mão", reconhece.

Papin admite que "o árbitro também não podia ver, porque havia um aglomerado grande de jogadores" à sua frente. "Mas o fiscal-de-linha viu de certeza. Creio que na altura eles não tinham essas competências e limitavam-se a assinalar lançamentos, cantos e foras-de-jogo", justifica.

Bruno Germain, médio dessa equipa, veste a pele de cavalheiro. "Foi um erro de arbitragem enorme, mas não acredito que tenha sido intencional", considera, reconhecendo que "houve muitos futebolistas do Olympique que não se aperceberam da ilegalidade dentro de campo". "Foi duro perder daquela forma. Muitos jogadores choraram. Mas os erros de arbitragem acontecem em todos os jogos. E nós também devíamos ter ganho por mais na primeira mão…", atira, assegurando que "não tem pesadelos".

Vata será sempre conhecido entre os franceses: "Vátá". Assim, com sotaque. "Não me incomoda. São coisas que ficam para a história. E veja que 20 anos mais tarde ainda se fala desse golo", sublinha. "Às vezes vou à internet e vejo alguns franceses a insultarem-me", sorri, recordando uma visita surpreendente quando vivia em Bali, na Indonésia. "Ninguém sabia onde eu estava, mas um jornalista francês encontrou-me para me entrevistar sobre esse golo. Ele insistia que tinha sido com a mão, mas eu sempre lhe disse o mesmo de sempre: só vi a bola e atirei-me para a frente, tocando-a para a baliza com o ombro", sublinha. E esse "ombro" ainda hoje está atravessado aos franceses.

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