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26 março 2010

A 'lojinha' dos brinquedos - Por Luís Freitas Lobo

Por Luís Freitas Lobo in A Bola

CONSEGUIR adaptar os comportamentos às necessidades do jogo. A equipa revê-se na identidade criada e os jogadores entendem as suas diferentes partes sem perder a dimensão global do projecto de jogo. Uma grande equipa é uma equipa que tem colada à sua pele a chamada cultura do risco. Este risco, porém, não implica automaticamente desequilíbrio. O actual Benfica é, na essência, uma grande equipa táctica que, em campo, permite aos seus jogadores brilharem individualmente. É como se eles tivessem momentos de liberdade condicional táctica.

Já escrevi por estes artigos que uma transição rápida não significa, por definição, uma transição bem feita. Porque elas, por si só, não traduzem nada de palpável no jogo global. Necessitam de ser depois contextualizadas na organização. Até porque, na maioria das vezes, elas são confundidas com o contra-ataque (outro momento do jogo, o de organização ofensiva). Outras equipas confundem transições rápidas com, digamos, transições agressivas. Isto é, a equipa tem tanta urgência em sair rápido da zona de pressão, que quase nem potencia a capacidade de pensar quando recupera a bola.

O raciocínio que a leva a optar pela transição rápida é se posso chegar ao ataque em 3 passes, porque haveria de tentar chegar em 10? É o erro infantil da transição rápida, a deformação do seu conceito. Por isso chamar-lhe transição agressiva, pois ignora os fundamentos da organização. Pensa o jogo sempre em vertigem. Este Benfica não faz isso.

É uma equipa muito rápida a atacar, e a contra-atacar, sem ser, por definição, uma equipa de transições rápidas. Pelo contrário, o momento imediato à recuperação da bola é um momento de serenidade. O passe, em geral, é curto, mas suficiente para tirar a bola da zona de pressão. Cria outras linhas de passe e sai rápido em largura. É então que, em certos casos, está em contra-ataque. Porque tem jogadores rápidos na segunda linha do meio-campo e porque tem (no momento ofensivo) um jogo posicional dinâmico muito forte. É então que, noutros casos, está em ataque organizado. Embora Jesus goste dos misturar, em campo, o onze, explica bem a diferença entre transição rápida e contra-ataque

As características dos jogadores desenham a ideia. O pivot forte, Javi ou Airton, que pisa bem o seu território táctico e faz o tal primeiro passe, sempre com um lateral ou um médio a ir para dentro respeitando a linha de passe; a profundidade criativa de Di María e a relação perfeita entre a ala e as zonas interiores de Ramires; o baixar de um dos avançados, Saviola, pegando na bola entre linhas, já na organização ofensiva. No início, vê-se mais uma transição em segurança do que uma transição rápida.

O importante para uma grande equipa é, sem perder a organização base, ter variabilidade de soluções para apresentar conforme os problemas que o jogo (e o adversário) lhe vai colocando. Para Jesus, é quase como os jogadores fizessem parte de uma lojinha de brinquedos tácticos. O correcto entendimento da cultura de risco.


Sair 'curto' em 4x3x3

DISSE Jesualdo que «a reformulação do sistema não é fácil com estes jogadores». Penso que não se referia à questão do 4x4x2. Referia-se às novas dinâmicas (princípios) que queria dar ao seu 4x3x3, encaixando ao mesmo tempo os novos jogadores nas antigas. A intenção choca com as rotinas da equipa. Perderam-se jogadores, perderam-se hábitos de interligação. Também os antigos. Um jogador, para render, depende muito de como joga o… jogador a seu lado. O adversário amordaça os seus velhos processos. Porquê?
Ponto-chave: o FC Porto insiste em sair a jogar através dos seus defesas-centrais, sobretudo Bruno Alves. Contra adversários também em 4x3x3 ainda disfarça, mas sair curto com os centrais abertos e os laterais já subidos contra um bom 4x4x2 é meter-se em dificuldades desde o início (os avançados adversários e os alas encostam logo no quarteto defensivo), sobretudo sem um meio-campo para dar seguimento a esta saída de bola. A jogada trava logo na primeira fase de construção. É o primeiro muro táctico em que bate o futebol portista desta época.

O eclipse das transições

FALA-SE na primeira fase de construção e pensa-se logo no médio-centro defensivo que, no dicionário futebol-jogar bem, deve-se chamar pivot. O 4x3x3 do FC Porto só funcionou quando teve bons primeiros pivots. Sem Fernando, o sistema abalou na base. Quando ele esteve (e jogou bem) o sistema funcionou desde a base.
Mais do que equilíbrio defensivo, potencia o factor surpresa a partir do médio-defensivo e dá fluidez táctica à saída de bola, permitindo aos outros médios subir. Agora isso não sucede. A bola entra no n.º 6 e há sempre um médio a baixar para pegar na bola quando antes a recebia já virado de frente para o jogo (isto é, para o meio-campo adversário). Nessa altura, a distância entre linhas com o ataque aumenta, comprometendo a aplicação dos princípios de jogo definidos. A bola demora a sair da zona de pressão. E quando sai, já sai muitas vezes num passe mais longo, que, por vezes, é até recebido, no corredor central, pelo ponta-de-lança que, seguindo o bloco, também baixou. Nesta equação, esfuma-se a eficácia das transições rápidas.

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