O Fantasma

Por Domingos Amaral in Record

From: Domingos Amaral

To: Jorge Jesus

Caro Jorge Jesus

Por vezes, quando era estudante universitário em época de exames, tinha pela frente um "cadeirão", daqueles que nos fazia estudar uma semana para ter boa nota. Normalmente, ainda antes desse exame, havia outro, de uma cadeira menos importante, que eu me convencia ser mais acessível e para o qual, evidentemente, estudava menos. Fixado no objetivo de ter boa nota no "cadeirão", psicologicamente tenso com esse resultado, esquecia-me que antes havia ainda um obstáculo para ultrapassar. O que se passava era o óbvio: o exame mais fácil corria mal, o que me deixava ainda mais nervoso para o exame mais difícil, ao qual chegava cheio de tensão. Foi disso que me lembrei ontem.

O Benfica está nervoso com o jogo frente ao FC Porto, na próxima semana, e esqueceu-se que antes havia outro para ganhar. E assim, correu tudo mal. A equipa bloqueou ao ponto do absurdo e foi uma sombra terrível de si própria. Pareciam uns meninos aflitos, sem fibra nem garra nem cabeça, e entraram em processo acelerado de autodestruição. Sinceramente, caro Jesus, ninguém esperava tal coisa. Di María perdeu a cabeça de forma patética, Cardozo enervou-se sem necessidade, Coentrão fez uma falta escusada, Ramires não acertava um passe até se lesionar, e o FC Porto a rir às gargalhadas com tanta imaturidade e desvario. O que se passou ontem, senhor Jesus?

Será que temos um grupo que faz chichi pelas pernas só porque vai jogar com o FC Porto? Onde está a força psicológica desta equipa? Como explicar que, com 3 pontos de avanço sobre os azuis antes deste desafio, se jogue assim? O que se provou ontem foi que, afinal, não há ali ainda o estofo de campeão. Afinal, este Benfica descontrola-se e parece o fantasma do Benfica que ninguém queria lembrar e que regressou para nos assombrar. Em vez de chegar ao confronto com o FC Porto de peito feito e mandão, vai chegar desfalcado, amedrontado e a acusar demasiado a responsabilidade. Assim não, caro Jesus, assim não chegamos lá.

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