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16 novembro 2009

Doeu vê-lo partir


Por Martins Morim in A Bola

Hannover — Conheci Robert Enke em serviço. Entrevistei-o duas vezes, quando representou o Benfica e percebi que era uma pessoa diferente. Do desportista fui imaginando, jogo após jogo, até onde podia chegar. O direito à camisola N.º 1 da selecção alemã era a confirmação das suas qualidades de excepção. Se só chegou a ela aos 29 anos, já como capitão do Hannover, como também no Benfica — e até com menos idade — foi porque à frente dele teve nomes como os de Oliver Kahn e Jens Lehmann. Conheci-o melhor mais tarde, através de Paulo Azevedo, português nascido em Freiburgo, na Alemanha, antigo futebolista que terminou a carreira no meu Varzim. Iniciativa conjunta do Instituto Alemão e de A Bola trouxe o Paulo até à Travessa da Queimada e com o Paulo, que ontem transportou a urna no trajecto final, tão próximo era ele de Robert Enke, conheci melhor o homem por trás do futebolista: simpático, alegre, de humor fino, negação da estrela à procura de holofotes, antes cidadão atento ao que o envolvia, sensível ao ponto de sentir que um cão abandonado também precisa de carinho, sem nunca esquecer nem olhar para o lado ante as tragédias e os dramas humanos... sentidos na própria família. E, mesmo assim, sempre disponível para os outros. Não sabia, nem era capaz de imaginar, que sofria de depressão. Disse-me o Paulo no dia da morte. Já noite, voz embargada, do outro lado da linha. Mas pediu-me segredo. Respeitei-o. Por ele e por Robert. Pela Teresa também, que, corajosamente, desvendou o mal ao mundo em jeito de alerta, para que o mal não volte a vitimar mais ninguém. Graças também ao Paulo, fui honrado com a autorização de poder estar na cerimónia privada — eu e o jornal A Bola, como percebi da importância que lhe dá Jorg Neblung, representante do jogador e amigo íntimo da família. E, de forma mais intensa, senti o que custa ver alguém partir assim. Também correram lágrimas pelo meu rosto. Afinal, um homem também pode chorar. Ontem foram muitos, mesmo muitos.

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