Uma equipa, a 'ovelha negra'
Por Luís Freitas Lobo in Expresso.pt
Desafio. Até que ponto um jogo pode marcar o futuro de um campeonato? Depois do tempo dos 'pequenos heróis', a hora de afirmar a personalidade. No cume da montanha, duas espécies futebolísticas gigantes, seus habitantes normais. O abismo que em pouco tempo (8 jogos) se criou entre eles e o resto da comunidade competitiva (as outras equipas) é já enorme. O Benfica de Jesus e o FC Porto de Jesualdo. Ao longe, separado por um fosso de dez pontos, segue, montanha (leia-se classificação) abaixo, o enorme resto do 'rebanho', que em passo lento fica cada vez mais para trás. Mas nem tudo é assim tão linear nesta história futebolística. Pelo meio, infiltrado no topo, um insolente intruso. Ganhou sete jogos seguidos e empatou agora um. É o Braga de Domingos. A 'ovelha negra' deste campeonato. Ou seja, a equipa que 'foge ao rebanho' e ousa desafiar a lógica natural das coisas.
Historicamente, porém, as 'ovelhas negras' nunca tiveram vida fácil. No futebol, como na vida. E, até, nos grandes clássicos. Como na "Ilíada" de Homero, onde uma ovelha negra é sacrificada para selar o pacto entre Paris e Menelau, dando origem à guerra de Tróia. A sua escolha para o sacrifício não era por verem nela responsabilidade pelo sucedido. Como todas as 'ovelhas negras', era apenas por ser diferente. Chamam-lhes arrogantes, auguram-lhes vida curta. Porque fogem ao grupo? Não, porque alteram o estado normal das coisas. Nos clássicos e no... futebol, subvertem a ordem estabelecida.
Na história do futebol português, elas são muito raras. Por isso, quando aparecem são vistas quase com desprezo, rebeldes de vida curta. Cabe ao 'onze-ovelha negra' de Braga contrariar esta ideia. Como? Percebendo a sua importância, sendo capaz de descobrir as suas forças (explorando-as) mas, sobretudo, de perceber as suas fraquezas (disfarçando-as). Tem, agora, outro desafio. Defrontar o gigante que mais assusta neste campeonato. A 'locomotiva encarnada' de Jesus.
Domingos sucedeu a Jesus, mas não herdou a mesma equipa. Tal como Jesus não herdou a de Quique. Trouxe para a Luz o sistema com que jogava em Braga (4x1x3x2). Curiosamente, o preferido de Domingos, na Académica. Chegado a Braga, porém, já não tinha os mesmos elementos para manter o sistema. Tinham saído o médio-ofensivo (Luís Aguiar) e o avançado mais móvel (Renteria). Por isso, inventou um novo sistema (4x2x3x1). Manteve a segurança defensiva (é a melhor defesa do campeonato) e reformulou as transições defesa-ataque-defesa com um jogador mais lento (Hugo Viana) mas exímio no passe e outro mais rápido (Mossoró) mas curto defensivamente. Ou seja, para substituir um jogador (Luís Aguiar) meteu... dois jogadores, ficando só com um ponta-de-lança (Meyong).
O Benfica de Jesus assusta pelos golos que marca e pela velocidade a que joga, que até faz confundir transições com contra-ataque. Diferentes momentos do jogo que, no jogo benfiquista, se fundem devido ao curto espaço de tempo que separa a recuperação de bola do seu avanço no terreno (é o melhor ataque do campeonato). Processos que, em campo, têm dois protagonistas: Ramires e Aimar. Dois jogadores insensíveis a histórias que metam 'ovelhas negras'. Elas são, no entanto, as espécies futebolísticas que mais fazem avançar competitivamente um campeonato. Pelo lado imponderável e diferente que lhe trazem. Sobretudo quando distante desse cume da montanha, olhando do outro lado do fosso, também já estão onze tristes leões, a equipa do Sporting. Perdeu a capacidade de lutar no momento em que perdeu a capacidade de sonhar. Algo que nunca acontece com as 'ovelhas negras'. As verdadeiras, pelo menos. Em noventa minutos e durante todo o campeonato.
E Não É Que O Velho Com Reumático Abriu Outra Vez O Livro?
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"*Benfica 7 - 0 Estrela da Amadora*
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