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10 setembro 2009

Crónicas de Leonor Pinhão


Habituamo-nos a tudo… e muito rapidamente

Por Leonor Pinhão in A Bola

É assim em qualquer sociedade organizada: são mais as pessoas que são despedidas do que as pessoas que despedem outras pessoas. Uma forma popular de escapismo a esta situação tão constrangedora é gostar de futebol, gostar de uma equipa e, sobretudo, gostar de despedir o treinador sempre que as coisas não correm bem.
O pequeno poder de despedir alguém é praticado com grande deleite por multidões que nunca despediram ninguém, bem antes pelo contrário, como se sabe.
Se calhar, se não fosse assim, o futebol não arrastava a tais multidões.
Não é um bom sentimento este de querer despedir treinadores e jogadores e mais feio e baixo se torna o dito sentimento quando, individualmente, se festeja um despedimento como quem reclama a sua parte decisória na autoria do acto.
Fazem sempre má figura os que, nos estádios de futebol, agitam lenços brancos a exigir o despedimento do treinador.
Por essa mesma razão, fez má figura, ontem, Marcelo Rebelo de Sousa com as suas declarações ao Diário de Notícias: «Se Portugal não se apurar, Queiroz tem de ir para a rua!»
Por muito popular que o futebol seja, nada obriga ao popularucho.
Em condições normais, a selecção portuguesa teria feito dois resultados muito bons nesta jornada dupla de apuramento para o Mundial de 2010. O empate na Dinamarca aceitava-se com distinção porque a equipa de Queiroz foi sempre muito melhor em campo do que os dinamarqueses.
A vitória de ontem, em Budapeste, mereceria os aplausos correspondentes aos 3 pontos somados, tanto mais que a selecção nacional nem sequer jogou nada de especial, rubricou mesmo alguns momentos de mediocridade e, como sabemos, é fundamental para qualquer equipa com ambições de top saber ganhar os jogos em que joga… pouco. E foi o que ontem aconteceu, felizmente.
O grave problema com que se debate, nesta hora, a selecção nacional não nasceu nem no sábado passado nem na noite de quarta-feira. Portugal foi à Dinamarca e à Hungria tentar remediar o cúmulo de desperdícios com que se tem perdido nesta caminhada para a África do Sul: o empate em casa com a Albânia… a derrota em casa com a Dinamarca…
Os adeptos portugueses já nem se lembravam do que era fazer contas de calculadora na mão para tentar vislumbrar uma hipótese remota de qualificação…
O que vale é que nós, aqui, habituamo-nos a tudo e muito rapidamente.
Falando de selecções do exclusivo ponto de vista dos interesses do Benfica, é caso para se dizer que tudo corre pelo melhor. Angelito Di María, por exemplo, deve boa parte do seu excelente início de temporada ao facto de estar a cumprir um longo castigo disciplinar o que o impossibilita de emprestar o seu contributo à selecção argentina nesta fase decisiva de apuramento para o Mundial de 2010.
Maradona não pode contar com Di María e Jorge Jesus tem contado com Di María a tempo inteiro, sem viagens de permeio, sem o cansaço das longas travessias atlânticas e sem a ressaca de uma série de jogos escaldantes na América do Sul. Pela primeira vez desde que chegou ao Benfica, Di María cumpriu uma pré-temporada normal e um arranque de época normal. E, também por isso, o jovem extremo argentino tem-se mostrado como nunca ninguém o vira ainda em Portugal: ou seja, em grande.
Também a selecção brasileira está a contribuir para a serenidade do ambiente nas Luz. Ramires jogou uns escassos minutos contra a Argentina mas esteve em campo o tempo suficiente para ver um cartão amarelo, o quinto desta sua série, o que o impede de defrontar o Chile. Dunga dispensou Ramires e mandou-o de volta mais cedo para Lisboa, o que foi uma boa notícia para o treinador do Benfica em semana de preparação do difícil jogo com o Belenenses, no Restelo.
Voltando à Argentina… Era bom para o Benfica, naturalmente, que Maradona nunca se lembrasse de convocar Pablo Aimar e Xavier Saviola. É deixá-los ficar por cá, sem viagens, sem jogos, sem lesões.
Também a selecção portuguesa tem prestado apoio a Jorge Jesus, e de que maneira. Nuno Gomes é o único jogador do Benfica que conta para os planos de Carlos Queiroz e, pelo andar da carruagem, vai continuar a ser. Isto enquanto Fábio Coentrão não crescer mais um bocadinho, o que ainda vai demorar o seu tempo.
Tempo de selecções, em conclusão, é bom tempo para o Benfica.
Ficamos com a sensação de que os nossos adversários internos, um dia destes, ainda vão começar a implicar por aqui…
Para já, os nossos adversários internos estão a implicar com o facto de o Benfica ter um contrato com a Sagres, sendo que a mesma Sagres é a patrocinadora oficial da Liga 2009/2010. Pedro Afra, director-geral do Sporting, diz que «em Liga nenhuma do mundo acontece tal coisa» e Henrique Pais, da Porto Comercial, diz que «a Liga de Clubes devia intervir nesta questão».
Sporting e FC Porto foram claros na insinuação de um pretenso favorecimento do Benfica no corrente campeonato como se os industriais cervejeiros nomeassem árbitros da corda para beneficiar os rapazes da Luz. Ou mesmo como se os industriais cervejeiros, eles próprios, apitassem jogos ao fim-de-semana e passássemos a ter árbitros de garrafa e árbitros à pressão…
À pressão, à pressão, a coisa mais parecida que ainda se viu nesta Liga Sagres foi aquela grande penalidade perdoada ao Marítimo nos instantes finais do jogo na Luz. O árbitro devia ser, com certeza, apaniguado de outra marca nacional.
Manuel Machado, treinador do Nacional, tem sido um contumaz adversário interno do Benfica. Mais por palavras do que por acções, diga-se em abono da verdade. Manuel Machado tem um contencioso com Jorge Jesus, a quem chama depreciativamente «o rei das tácticas», e no decorrer de uma entrevista recente implicou com o facto de o Benfica ter vencido o Vitória de Setúbal por 8-1. Para Machado, a referida goleada não passa de um episódio lamentável que encerra um único significado: «o futebol português andou para trás 30 anos», concluiu cientificamente.
Isto é que é mesmo vontade de implicar! E nem falou de cervejas, ficou-se pelos tremoços.

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