A 'caixa-negra' táctica do jogo
Por Luís Freitas Lobo in A Bola
INVENTAR um espaço é um gesto criativo, fechar um espaço é matar a arte. Um passe é construção, um corte é um acto de destruição. Sou dos que admira equipas com personalidade criativa, mas o futebol não é essa quase bíblica luta do bem contra o mal. Cada equipa é o respeito por quatro ou cinco ideias bases distribuídas pelos diferentes momentos do jogo, — tal como correr é um acto de vontade, não de inspiração, — mas ver um treinador queixar-se da «falta de espaços» é queixar-se da lógica do jogo. Porque é disso exactamente de que se trata um jogo futebol: criar espaços.
Carvalhal definiu a estratégia do Marítimo no momento defensivo como um jogo de «encurtamentos». Retirar, encurtar, espaço a Aimar e Saviola, fundamentalmente. Jesus, no final, queixou-se da pouca mobilidade dos avançados. Reconhecia, afinal, a incapacidade deles realizarem gestos fundamentais de táctica individual para… criar espaços. O principal motivo estava, porém, na excessiva distância do espaço do último passe em que Aimar jogava, não conseguindo entrar de trás. Quando se fixou mais nessa zona, passou a ganhar esse espaço de enganche em antecipação.
A defesa e meio-campo do Marítimo correu muito. Encurtou muito. O esforço, esse, esteve sempre presente. O talento, para sair da zona de pressão, esse, nunca existiu. Médios demasiado recuados, avançados demasiado… adiantados. E, neste último ponto, reside um ponto-chave para as equipas conseguirem, em campo, tirar a corda da garganta: jogadores que saibam tornar a equipa curta, aguentando as ligações entre linhas. Em geral, são os avançados quando baixam que o fazem. O Nacional perdeu essa capacidade quando trocou um médio-enganche (Ruben Micael), que segurava a bola, e criava, deixando a defesa subir, por outro (Pecnik) incapaz de segurar uma bola e aguentar o jogo noutros espaços, obrigando assim a defesa a ficar encostada à área. No Marítimo, Kanu, Manu, Ytalo e Djalma, quatro avançados a papel químico. Nenhum capaz de ser enganche. O oposto do ausente Marcinho, enganche médio-avançado.
Na luta criar-fechar espaços, Paulo Sérgio repetiu a estratégia de, no momento defensivo, blindar a zona de pressão central com um terceiro central de compensação disfarçado de trinco: Ricardo. Com laterais posicionais, uma linha de defesa a cinco. Eis a questão para o treinador adversário: como a fazer dançar? Isto é, como abrir... espaços entre eles? Em geral, a resposta está na circulação de bola (de flanco para flanco) até os fazer sair, atraídos pela bola. Nestes casos, a criação de jogo começa nos alas. Aproveitar toda a largura do campo. Só depois faz sentido pensar em mais presença na área.
Paulo Sérgio, Carvalhal e Manuel Machado foram os primeiros aliados do chamado eixo do mal táctico nas trincheiras estratégicas que, cada qual no seu estilo, ergueram. Três treinadores de estratégia, a linha programática que domina o nosso futebol (suas equipas) da qual tanto falei, neste mesmo espaço, na passada semana. O lado escuro do jogo.
3 comentários:
Escuro não!!!! ... FEIO!!!!
E o futebol é espectáculo!!!
O Futebol como em muitos outros jogos há que saber ocupar e ganhar espaços.
Mas a diferença dos 3 casos, é que quer o Paços quer o Nacional conquistaram espaços na área contrária e o Marítimo só o fez umas duas vezes em todo o jogo.
Como se pode dizer que o Marítimo retirou espaço ao Benfica quando o Benfica teve uma dúzia de situações de golo em que só o tiro ao boneco e muita sorte dos insulares impediram um resultado bem diferente???
A única conquista do Marítimo foi mais noutra dimensão, no tempo. Aí é que a táctica do anti-jogo com a conivência do árbitro mais se fez sentir.
Claro que o Marítimo retirou espaço ao SLB!!!!
Colocou 11 jogadores em metade do terreno juntando a isto, mais 10 jogadores do Benfica, fazendo um total de 21(!!!!!!) jogadores em meio campo!!!!!
Em compensação o SLB teve quase todo o jogo com apenas 1 jogador, (que praticamente não tocou na bola) no seu meio campo defensivo - Quim!!!
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