Crónicas de Paulo Alves

Treinador ou professor de geometria?

Por Paulo Alves in A Bola

GENEBRA - É bem próximo de uma das maiores portas de entrada (e saída) na Suíça, junto ao aeroporto de Genebra, e à sombra da cordilheira do Jura, que o Benfica de Jorge Jesus se instalou para aprimorar os seus conceitos rumo a uma época da qual muitos esperam.
Jesus não é milagreiro, mas uma das primeiras promessas foi a de colocar a equipa a «jogar o dobro». Sinal de que muita coisa estava abaixo do desejado, sinal que muito trabalho há pela frente. Jorge Jesus, ele próprio se intitula como um perfeccionista, um mestre da táctica. Antigamente, mestre era aquele que ensinava a sua arte aos outros e é um pouco — ou se calhar muito — isso que tem feito neste início de época: Jesus ensina literalmente o que fazer em campo. Durante muito mais de metade das duas horas de duração do treino de ontem, o mestre falou, esbracejou, parou o treino, corrigiu, pegou no braço deste e daquele para o colocar no local exacto, nem mais um milímetro ao lado. Momentos houve em que parecia estar a formar um desenho geométrico no relvado, tal a perfeição exigida. O treino ficou por isso muitas vezes parado, monótono. Os emigrantes, que esperavam mais emoção, mais golos, deixavam escapar inocente sonolência. «Ele é um chato, não pára de falar», ouviu-se na bancada. Jesus gosta de ser perfeccionista, e como todos os perfeccionistas torna-se chato! Saberão os jogadores pintar quadros como Paula Rego quando a época começar?

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