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09 julho 2009

Crónicas de Leonor Pinhão


Quem não for do Real Madrid não é bom chefe de família

Por Leonor Pinhão in A Bola

Foi um início de semana muito rico em acontecimentos mitológicos no que respeita à cultura popular. Os sociólogos só podem estar encantados. Enquanto de um lado do mundo os fãs enterravam Michael Jackson, o indisputado rei da pop, do outro lado do mundo os fãs acolhiam em delírio Cristiano Ronaldo, o astro maior do futebol mundial. Às multidões de devotos que extravasaram os palcos de Los Angeles e de Madrid somem-se os biliões de telespectadores que seguiram os dois acontecimentos em causa, o fúnebre e o festivo, e chega-se à conclusão de que, nos últimos dias, globalmente não se falou noutra coisa.
Ídolos, é este o poderoso assunto.

Deixemos Michael Jackson em descanso, enterrado no seu caixão de ouro como um faraó e, não obstante, facturando milhões depois de morto, para nos concentrarmos no nosso Cristiano Ronaldo, esse prodígio de saúde, louvado por um circo a abarrotar, recebido com um cerimonial e uma paixão de tal forma incomensuráveis que os donos da sua nova casa até mandaram arear as melhores pratas da histórica baixela e dispuseram-nas no relvado para compor o cenário.
É de temer que os portugueses, que vivem um pico alto da sua genética crise de auto-estima, se tenham comovido demais com o evento. Isto pode ser grave. Desde a crise de 1580-1640, desde o tempo dos Filipes, desde os saldos da Zara de 1997, que não se via em Portugal uma reverência tão profunda pelos nossos vizinhos do lado. E sem que fosse preciso desembainhar a espada.
Florentino Pérez primeiro avançou com o dinheiro. Depois avançou com o espectáculo e o resultado está à vista. O presidente do Real Madrid executou maravilhosamente o trabalho de cativação emocional tuga que gerações de diplomatas castelhanos não souberam fazer ao longo da História dos dois países.
Não é que os 9 milhões de portugueses queiram agora, de repente, ser todos espanhóis. A coisa é mais precisa e mais perigosa.
O que acontece é que depois de termos visto a recepção que em Santiago Bernabéu se fez ao nosso compatriota não há português que não queira, não deseje, não sonhe ser um dia funcionário do Real Madrid. E fazer parte daquela afición aceitando o convite de Pérez para que nos juntássemos de alma e coração aos felizes hinchas madrilenos, a que nada falta como ficou provado.
Nem sequer Eusébio lhes faltou, o que é incrível. Foi conduzido à capital espanhola, de livre vontade, o rei português que roubou ao Real Madrid a Taça dos Campeões de 1963. Seriam 10 e não 9 as Taças dos Campeões no relvado, atrás de Cristiano Ronaldo, se Eusébio, mercê de uma actuação histórica, não tivesse virado a favor do Benfica, e contra todas as expectativas, aquela longínqua final de Amesterdão.
Oitenta e cinco mil adeptos do Real Madrid assinaram, por fim, as tréguas e saudaram o rei português cantando-lhe o nome durante alguns minutos. Eusébio retribuiu (ainda) em português com um «muito obrigado» e, dito isto, entregou-lhes o delfim, o rapazinho.
As câmaras apontaram então para as bancadas e focaram uma bandeira portuguesa agitada por um grupo de fãs de nacionalidade indistinta. «Pronto, já está!», pensaram ufanos os defensores da Grande Ibéria. «Pronto, já fomos», pensaram os outros, vagamente incomodados por verem 9 séculos de independência acabarem assim, tão facilmente, num campo relvado de futebol.
O desvelo, a religiosidade, a pompa com que os madrilenos receberam Cristiano Ronaldo, cativaram o débil coração dos portugueses. Era como se aquilo tudo fosse também um bocadinho para cada um de nós, tão mal estimados que nos sentimos perante nós próprios e perante as comunidades internacionais.
É que, na verdade, nada temos de digno, de importante, de impressionante para oferecer aos estrangeiros como exemplo e símbolo das nossas capacidades colectivas. As nossas celebridades internacionais mais recentes optaram quase todas por fugir do País. Maria Helena Vieira da Silva fugiu para Paris, José Saramago refugiou-se em Lanzarote e Maria João Pires está de malas feitas para o Brasil porque não aguenta isto.
Resta-nos Cristiano Ronaldo que não fugiu para Madrid, antes foi comprado a peso de ouro transformando-se numa glória da nossa depauperada economia.
Há que temer o que se vai suceder a partir de agora.
Porque quem não for do Real Madrid não é bom português. Vão-nos obrigar a sofrer pelo Real Madrid, a estar atentos à Liga espanhola e ao percurso dos gigantes de Chamartin na Liga dos Campeões. Vão-nos obrigar, a troco de entretenimento de qualidade superior, a sermos do Real Madrid e, sem darmos por isso, rapidamente estaremos a comprar a Marca nos quiosques para nos inteirarmos do que nos interessa.
No entanto, haverá sempre uma franja de marginais, indivíduos retorcidos, operacionais da dissidência, que vão pensar de modo precisamente contrário. Desejando, naturalmente, os melhores sucessos à carreira de Cristiano Ronaldo, passarão a torcer furiosa e patrioticamente pelo Barcelona porque cada vitória do Barcelona é uma vitória da prática autonómica e cada derrota do Real Madrid é uma derrota do capitalismo selvagem.
Força Barça!

Luís Filipe Vieira foi reeleito presidente do Benfica e nunca mais vai ter de se incomodar com Bruno Carvalho, o candidato que derrotou por uma margem que não deixa margem para dúvidas. A afluência às urnas foi absolutamente notável tendo em conta o lamentável desenrolar dos acontecimentos que marcaram o período da campanha eleitoral.
Fizeram muito bem os responsáveis pelo movimento Benfica, vencer, vencer em desistir de qualquer acção judicial que pusesse em causa a legitimidade do acto eleitoral bem como do seu resultado final.
Fará muito bem Luís Filipe Vieira em partir para o seu terceiro mandato ciente da importância decisiva do percurso da equipa de futebol nos próximos três anos e despreocupado com os dois por cento de votantes em Bruno Carvalho, sem deixar, no entanto, de respeitar essa amostra de vozes contrárias.
Mas será bom que se preocupe a sério com os cinco por cento de sócios que se deram ao trabalho de se deslocar até às assembleias eleitorais para votar em branco. É este o trabalho que Vieira tem pela frente. Vieira e Jesus, naturalmente.

Falcao vai para o FC Porto. Falcao não vai para o FC Porto. Ou vai? E Reyes? Vai ou não vai? Estas coisas, de estafadas que estão, já nem mexem muito com a gente.

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