Uma questão de 'atracção fatal'
Por Luís Freitas Lobo in A Bola
ARSÉNIO IGLÉSIAS, treinador e velho caminhante do futebol espanhol, começa o seu livro El Futbol del Brujo, com uma frase que diz tudo sobre o jogo: «Detesto vencedores natos!». Podia falar da vida, mas não, falava só de futebol. E sabia bem do que falava. Porque só ele sabe o que é estar no banco de uma equipa que nunca fora campeã na sua história e perder esse título inédito ao falhar um penalty no último minuto do último jogo. Sucedeu com o seu Corunha, em 1994. Arsénio sobreviveu para contar a história.
Helmut Schon, mítico treinador alemão dos anos 70, dizia que «não existe nenhuma lesão que possa impedir o jogador de treinar». Com esta afirmação não se referia apenas a lesões leves ou a ir para o ginásio, referia-se a outro tipo de treino possível. Ficar sentado a observar o que faz a equipa e o que o treinador lhe ordene (ensine) que faça.
No futebol português, nenhum jogador teve, nas últimas épocas, um impacto continuado tão forte na sua qualidade de jogo como Lucho Gonzalez. Pensamento e execução. Joga para a equipa e para o… treinador. Tornou-se comum, porém, nos últimos tempos, criticar o seu jogo (e atitude nele até). «Alterei a minha forma de jogar para ajudar a equipa, o treinador pediu-me outro funcionamento, noutra posição e acabei por ter muito menos contacto com a bola».
A importância dada ao contacto com a bola para justificar a menor influência (pelo menos aparente) no jogo é interessante para perceber como pensa um jogador. A atracção pela bola funciona, muitas vezes, mais forte do que a atracção pelo espaço. É, porém, mais instinto que o pensamento. Porque na sequência de desenvolvimento do jogo, a atracção devia ser a inversa. Era por isso que, como conta Scopelli em Olá Mister!, Nacho Tréllez, velho treinador do México, gritava durante os treinos para os jogadores: «Atenção: que não seja a bola a dominar-vos. São vocês que devem dominar a bola!». Do muito que já vi, ouvi ou li sobre futebol, é difícil encontrar uma expressão melhor do que esta para explicar o que deve ser a essência de uma equipa.
É por isso que, em qualquer fase da época, a frase inicial de El Brujo Arsénio desmascara qualquer projecto infalível de vitória. Porque entre ele, treinador, e os jogadores, existe a relação com o jogo e a bola. A ordem não é arbitrária. Mesmo que no último minuto se falhe um penalty. Aprender a ser jogador, para aprender a perceber a equipa.
Pensar neste exemplo de vida futebolística é a melhor forma de perceber o valor que têm as promessas de triunfo do início de época. Qual é o compromisso mais arriscado de assumir: «ganhar» ou «jogar bem»?
Para o adepto, só o primeiro terá razão de ser. Para a construção da equipa, porém, jogo e identidade, só o segundo faz sentido. Arriscar um compromisso estético com o jogo? Treinar a equipa ou ensinar-lhe uma ideia de jogo? A maioria dos treinadores fica apenas pela primeira instância. Os jogadores sentem isso. Não é uma questão de táctica ou sistema. É uma questão de estilo e identidade.
Helmut Schon, mítico treinador alemão dos anos 70, dizia que «não existe nenhuma lesão que possa impedir o jogador de treinar». Com esta afirmação não se referia apenas a lesões leves ou a ir para o ginásio, referia-se a outro tipo de treino possível. Ficar sentado a observar o que faz a equipa e o que o treinador lhe ordene (ensine) que faça.
No futebol português, nenhum jogador teve, nas últimas épocas, um impacto continuado tão forte na sua qualidade de jogo como Lucho Gonzalez. Pensamento e execução. Joga para a equipa e para o… treinador. Tornou-se comum, porém, nos últimos tempos, criticar o seu jogo (e atitude nele até). «Alterei a minha forma de jogar para ajudar a equipa, o treinador pediu-me outro funcionamento, noutra posição e acabei por ter muito menos contacto com a bola».
A importância dada ao contacto com a bola para justificar a menor influência (pelo menos aparente) no jogo é interessante para perceber como pensa um jogador. A atracção pela bola funciona, muitas vezes, mais forte do que a atracção pelo espaço. É, porém, mais instinto que o pensamento. Porque na sequência de desenvolvimento do jogo, a atracção devia ser a inversa. Era por isso que, como conta Scopelli em Olá Mister!, Nacho Tréllez, velho treinador do México, gritava durante os treinos para os jogadores: «Atenção: que não seja a bola a dominar-vos. São vocês que devem dominar a bola!». Do muito que já vi, ouvi ou li sobre futebol, é difícil encontrar uma expressão melhor do que esta para explicar o que deve ser a essência de uma equipa.
É por isso que, em qualquer fase da época, a frase inicial de El Brujo Arsénio desmascara qualquer projecto infalível de vitória. Porque entre ele, treinador, e os jogadores, existe a relação com o jogo e a bola. A ordem não é arbitrária. Mesmo que no último minuto se falhe um penalty. Aprender a ser jogador, para aprender a perceber a equipa.
1 comentários:
Sem dúvida prefiro "Jogar bem", porque depois disto vêm as vitórias!!!
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