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04 fevereiro 2010

O talento e o esforço



Por Luís Freitas Lobo in A Bola

HÁ frases no futebol que me causam incómodo. Uma delas é elogiar um jogador (ou equipa) pelo espírito de sacrifício. Nenhum outro adjectivo inverte tanto a lógica do jogo. Porque sacrifício é necessário para trabalhar numa mina. Jogar futebol é outra coisa. Esta apologia ao sacrifício resulta de, em geral, no jogo, os adeptos elogiarem mais depressa o esforço do que o talento. Aplaudem um jogador que corre atrás de uma bola que vai a sair pela linha de fundo e faz um carrinho inútil. Assobiam um talentoso que tenta uma ou duas fintas mas que nesses casos não saem bem. É primário e não faz sentido. Correr é um acto voluntário. Criar é um acto de inspiração. O primeiro todos podem fazer. O segundo, só alguns. Carlos Martins tem talento a mais para não cair apenas no elogio do jogador temperamental que corre e luta até cair para o lado. Os seus golos ao Guimarães são a melhor forma de mostrar (ao público e a si próprio) que deve jogar mais com o talento do que o esforço e, assim, fugir ao eterno debate que o rodeia entre génio e louco.

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