From: Domingos Amaral
To: Carlos Martins
Caro Carlos Martins
Por causa de uma mão na bola, uma coisa que pode acontecer a qualquer um, foste expulso no jogo contra o V. Guimarães, e logo se levantaram as dúvidas sobre a tua sanidade mental.
Se fosse qualquer outro jogador a levar a mão à bola (Coentrão, por exemplo, também podia ter ido para a rua), ninguém diria que mais uma vez mostraste que não tinhas "controlo emocional". Mas a ti toda a gente te cola a loucura na testa, como se ela fosse uma etiqueta identificadora da personalidade. O ar esgazeado, os festejos, as fúrias, as irritações e mesmo os erros mais banais, em ti são interpretados como atos irracionais de um desequilibrado. É um exagero chamar-te louco, a loucura não tem graça nenhuma, mas é isso que me faz gostar de ti. As tuas excitações têm pelo menos a grande vantagem de te diferenciar dos outros. Dão caráter. E eu prefiro as pessoas assim do que todas em ordem, sem um deslize nem uma falha.
Gosto da tua "loucura" porque ela te distingue e também porque dela explodem por vezes pérolas próximas da genialidade. Lá diz o provérbio que "de génio e de louco todos temos um pouco", e tu não só o confirmas, como o elevas à décima potência. O teu golo, o segundo, foi obra de um génio ou de um louco? Pouco me importa, até porque num futebol onde os dirigentes falam de "fruta" ao telefone e os jogadores agridem stewards ao pontapé e ao murro num túnel, dá vontade de rir que te chamem a ti de louco...
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