Crónicas de João Gobern, in Record
O comportamento de alguns sectores de público, alegadamente
organizados, no jogo do passado sábado no Estádio da Luz chega para
reativar uma velha discussão: a das liberdades de um sócio ou adepto,
vindo normalmente a tiracolo a questão do bom senso.
Antes de
mais nada, convirá confinar a “polémica” a quem a merece. Pela simples
razão de que, como mostra a evidência, subsistirem clubes em que as mais
elementares regras da democracia estão longe de uma aplicação regular
(e muito menos continuada), em que há plebiscitos e não eleições, em que
há horas e dias marcados para se sentir o ondular entusiasta das “vagas
de fundo”. Esses, sinceramente, não contam para este caso, por mais que
se multipliquem as manobras de diversão.
Por outras palavras,
bem pode um notável adepto de um clube vir anunciar que nunca foi
condicionado no que disse e escreveu. É possível que seja verdade – e eu
não quero fazer aqui juízos de intenção –, mas a figura em questão sabe
que há alguma vantagem em viver a 300 quilómetros do olho do furacão e
sabe que, em temporadas não muito distantes, foi considerado
oposicionista ao “regime”. Um seu parceiro, cada vez mais porta-voz e
cada vez mais emblemático na rota dos sucessos, também não esquecerá a
fase em que se deslocava com proteção contratada e sob ameaças da
“guarda pretoriana” com ligações ao seu clube. O mesmo que, num ápice,
num passe de mágica, numa reviravolta da fortuna, acabou por condecorar
como exemplar aquele que até então era um prevaricador.
Benfica
e Sporting (e mais alguns clubes de menor dimensão) são, portanto,
aqueles que se debatem com os espinhos da democracia. Tenho dúvidas que
já tenham aprendido a passar do respeito (mesmo resignado) pelas
opiniões internas contrárias ao melhor dos momentos: o do aproveitamento
das opiniões internas contrárias. Sucede que a oposição benfiquista, em
concreto, tem usado táticas de guerrilha e feito incursões próximas do
terrorismo. No primeiro quadro inscrevem-se as frases de calúnia
espalhadas pelas paredes e as entrevistas – cheias de soundbyte e vazias
de conteúdo – que alguns “notáveis” vão semeando, quase sempre
casuísticas e nulas na proposta de soluções. É fácil: aprende-se na
política, é só transferir. No segundo, fia mais fino: o triste
espetáculo (bem orquestrado mas malsonante) durante todo o jogo com a
União de Leiria, com cânticos insultuosos até à própria equipa que
estava em campo, é um disparate, uma vergonha, uma quebra das regras
elementares de comportamento. Há muitas ocasiões e espaços para pôr em
causa o trabalho de uma direção, de um técnico, de um núcleo de
jogadores. Escolher o tempo de um jogo para contestar é tão-só uma
imbecilidade. Ainda por cima manipulada.
1 comentários:
Cada vez gosto mais deste gajo. Tudo claro como a água.
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