Esta jornada foi rica em acontecimentos extraordinários. O FC Porto goleou o Benfica, o Beira-Mar surpreendeu em Braga e o Vitória de Guimarães cumpriu a promessa de M. Machado e foi vencer a Lisboa. Quer no Dragão, quer em Alvalade, além de espectacularidade e golos, muitos golos, houve também emoção. É sempre assim nos clássicos! Os media aguçam o apetite no lançamento dos jogos, os treinadores direccionam os seus discursos, como forma estratégica de comunicação, enfim criam-se expectativas e há emoções à flor da pele. Se os golos dão cor aos jogos, já a emotividade faz parte do espectáculo, mas dentro do terreno de jogo, o controle emocional é decisivo!
Foquemo-nos nas acções de Luisão e Maniche, que com os seus impulsos influenciaram negativamente os respectivos jogos. Decorria o minuto 69 no Dragão e Luisão, num acto irreflectido, acaba por receber ordem de expulsão. A aproximadamente 20 minutos do final do jogo de Alvalade, o experiente jogador sportinguista agride a pontapé um adversário, após uma entrada mais dura deste. Parece-me claro que quer um quer o outro prejudicaram, directa ou indirectamente, as suas equipas com os seus actos de desespero e descontrolo emocional.
Se no Dragão já havia 3-0 e este acto não colocou em causa a derrota do Benfica, pode no entanto, ter comprometido irremediavelmente a possibilidade de evitar a goleada ou de a aligeirar, pois naquele momento, os encarnados vinham a mostrar claros indícios de reequilíbrio da equipa. Já em Alvalade, Maniche pode ter posto em causa o resultado, pois em 20 minutos e com o marcador 2-0 a seu favor, coincidência ou não, os vimaranenses acreditaram, foram à procura do empate e a sua ambição trouxe-lhes a vitória.
Como lidar com isto? A melhor forma é evitar, treinando os aspectos psicológicos de forma global no treino. Da mesma forma que todos os outros factores. Não quero afirmar que os intervenientes não o fazem com regularidade nos seus clubes. Na realidade, as capacidades psicológicas são passíveis de ser treinadas, melhoradas, optimizadas e devem fazer-se juntamente com a técnica, a táctica e o físico. O processo de treino deve ser abordado dentro da sua complexidade. De facto, quando lidamos com pessoas, e os jogadores são-no na sua essência, a possibilidade de existirem erros e excessos está presente.
Por isso, enquanto gestor do processo, o treinador deve encarar o treino e os jogos na sua dimensão complexa, complementar, e ser conhecedor das características e personalidades dos seus jogadores, dos contextos competitivos e sociais, devendo antecipar cenários e construir exercícios, que reforcem o treino comportamental, pois aqui poderá estar um componente decisivo para a obtenção dos objectivos. Há que dominar o processo de treino na sua complexidade para se chegar às vitórias!
Como se podem treinar estas valências? A psicologia tem bases científicas e como tal deve servir o treino como ciência subsidiária. A motivação, a concentração, a tolerância ao stress, a comunicação, a confiança, a auto-estima, a resistência ao cansaço e à dor, a superação do limiar do conforto, controle da reacção à agressão ou provocação, entre outras capacidades, devem ser compreendidas, constituindo pressupostos para a elaboração de exercícios que desenvolvam comportamentos para alcançar o sucesso. O processo de treino deve ser construído com constrangimentos de vária ordem. Da mesma forma que se retira espaço e tempo a um exercício, para aumentar a intensidade e o número de acções dos jogadores sobre a bola, também se aumenta a concentração. As regras e os constrangimentos são um aliado de peso do treinador na elaboração dos seus exercícios.
Operacionalizar um exercício onde uma equipa esteja em inferioridade numérica, pode, ao mesmo tempo, prepará-la do ponto de vista posicional e de dinâmica estrutural da organização, para encarar esse cenário, mas deve também aumentar a disponibilidade mental para o compromisso colectivo de superar esta e outras dificuldades. Jogar em inferioridade é algo a evitar a todo o custo, mas se isso acontecer, um plano B deve estar perfeitamente preparado, assimilado e deve incluir aspectos de ordem mental e comportamental.
Os jogadores são um elemento muito importante, sensível e complexo. Cada vez mais, estes factores de produção são cultos e mais bem preparados. Acima de tudo há que perceber que o treino e o jogo são tão complexos, que cada elemento deve ser contextualizado e visto como um todo interdependente, que o todo é mais que a soma das partes e que ao mexer num elemento está a mexer-se no todo.
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