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10 setembro 2010

Um produto altamente contagioso


O futebol é um produto altamente contagioso. E só por inépcia mental alguém poderia acreditar que o arraial montado entre a direcção da FPF e o seleccionador nacional não haveria de ter consequências directas e nefastas na produção da equipa nacional.
Lamentavelmente, dos ineptos reza a História.

Na semana passada, a Federação Francesa de Futebol despediu formalmente Raymond Domenech, que foi o treinador e seleccionador da França até ao Mundial de 2010 e que, mal aterrou em Paris, viu-se despromovido para um cargo menor na assessoria técnica da FFF.
Os responsáveis federativos franceses não demoraram quase nada a retirar a selecção das mãos de Domenech mas precisaram de dois meses, e de um novo presidente, para afastar definitivamente Domenech estrutura da FFF.
O diferendo segue agora para os tribunais que decidirão se Domenech tem ou não direito a receber a indemnização de 500 mil euros que reclama aos seus antigos patrões. Normalmente, é como as coisas acontecem quando o ambiente se torna insuportável entre duas partes.
De notável, em comparação com a realidade portuguesa, há apenas a realçar que nem o presidente da Federação, Jean Pierre Cavalettes, nem o seleccionador Domenech, estão já em funções e que, com esta atitude, a nova direcção da Federação Francesa não se poupa a um diferendo judicial com o ex-seleccionador, que se estima longo e aborrecido.
Mas poupou, e de que maneira, a sua equipa nacional e, também, os milhões de adeptos dos bleues ao lamentável desfile das incompetências múltiplas e dos rancores sem remédio que, por exemplo, neste momento, germinam como urtigas no baldio em que se transformou o dia-a-dia da selecção portuguesa.
A FFF comunicou por carta a Domenech o seu despedimento e apontou-lhe, por escrito, «três falhas graves», sendo que nenhuma é de carácter técnico e que as três se prendem com questões do carácter do ex-seleccionador.
O seu envolvimento na expulsão de Anelka do grupo, a forma como reagiu à greve dos futebolistas e, finalmente, o facto de se ter recusado a apertar a mão a Carlos Alberto Parreira, no final do França - África do Sul, num flagrante mundial de péssima educação, são as «falhas» que a Federação Francesa de Futebol registou no comportamento de Domenech no decorrer do Mundial e que justificaram a carta de despedimento que lhe foi enviada.
A França que, tal como Portugal, começou mal a sua campanha para o Euro-2012, tem apenas de se mostrar preocupada com os jogos e com os adversários que há-de ter pela frente. Enfim, com os pormenores dentro das quatro linhas, visto que resolveu, com a celeridade adequada, a questão fulcral da substituição das suas autoridades federativas e técnicas.
Trata-se, sempre, de uma questão de autoridade. Que é, precisamente, o que falta hoje à equipa nacional portuguesa que não tem seleccionador e que não teve, nem em Guimarães nem em Oslo, presidente da Federação, retido em Lisboa por motivos de saúde de que ninguém tem o direito de duvidar e que toda a gente tem o dever intelectual de considerar como muitíssimo convenientes.

O poder da FPF emana das Associações distritais e o poder das Associações emana dos clubes emana dos seus dirigentes… ou seja. Gilberto Madaíl e a direcção da FPF não são objectos estranhos desta constelação imortal.
Por razões diversas, os presidentes do Benfica e do FC Porto dispuseram-se a testemunhar em favor de Carlos Queiroz desvalorizando a reacção grosseira do seleccionador à visita da brigada antidoping.
Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa saberão os motivos particulares que os assistem mas, na actual conjuntura, torna-se difícil resistir a citar um exemplo antigo de um antigo presidente do Benfica, Joaquim Ferreira Bogalho.
Há mais de meio século, a selecção portuguesa perdeu na Áustria, por 9-1, um jogo de qualificação para o Mundial de 1950, e no regresso a Lisboa, depois da humilhante goleada, a Federação Portuguesa de Futebol suspendeu e multou dois jogadores do Benfica – Félix e Ângelo -, acusando-os de «comportamento incorrecto» por terem chegado atrasados ao autocarro e por não se terem comportado de acordo com as regras no hotel vienense. Ainda há bem pouco tempo A BOLA recordou este episódio e vale a pena voltar a ele: «Joaquim Ferreira Bogalho, presidente do Benfica, achou que as multas da FPF eram pouco e dobrou-as. Ao sabê-lo, Félix, considerado um dos melhores médios-centro da Europa, despiu a camisola do Benfica e atirou-a ao chão. Descalçou as botas, lançou-as ao ar, praguejou. E do Benfica foi suspenso para sempre.»
Está tudo dito. Era outra educação.

Depois de André Villas Boas ter afirmado que não sente a falta de Raul Meireles porque, no FC Porto, «há quem tenha melhor para oferecer», veio Nuno Santos, director de programação da SIC, que perdeu a apresentadora Fátima Lopes para a TVI, dizer que «a Fátima não faz falta». O futebol é um produto altamente contagioso, não duvidem.

Eduardo foi extraordinariamente infeliz nos jogos com o Chipre e com a Noruega e não merecia passar pelo que passou, em Oslo, com o público da casa a delirar sempre que o guarda-redes português tocava na bola. Aliás, ninguém merece uma coisa destas…
…Pensando melhor, talvez os adeptos benfiquistas, que se lastimam há dois meses por o clube não ter comprado Eduardo em vês de ter comprado Roberto, tenham merecido uma prova tão cabal e espampanante de que, por vezes, as coisas correm mal, muito mal, a toda a gente.
A não se que este fenómeno, azares dos guarda-redes, também seja contagioso…

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