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14 agosto 2010

O Benfica está a ser comido à dentada pelos tubarões europeus - Por João Moreira


Por João Moreira in ionline

Chelsea e Real Madrid arrancaram os primeiros pedaços do onze campeão nacional. Agora, já se vêem as barbatanas de Sevilha, Manchester City e Liverpool a rondar

Jorge Jesus conseguiu na época passada o que nenhum treinador conseguiu nos quatro anos anteriores: ser campeão pelo Benfica. É um feito. Mas o desígnio de uma vida têm-no este ano: ser bicampeão. Desde 1984 que ninguém se torna campeão num Benfica campeão. Sven-Goran Eriksson, 1982-83 e 1983-84, foi o último. Porquê?

Primeira explicação: porque vivemos em pleno império do tubarão FC Porto, que nos últimos 30 anos ganhou 17 ligas, nunca caiu do pódio, só em três ocasiões ficou abaixo de segundo - uma delas na época passada - e que apenas na viragem do século esteve mais de dois anos sem conquistar o título (Sporting 2000 e 2002 e Boavista 2001).

Segunda explicação: porque qualquer equipa bem sucedida em Portugal, como a do Benfica 2009-10 (e antes dela a do FC Porto campeão europeu e vencedor da Taça UEFA ou até a do SCP de Ronaldo e Ricardo Quaresma em paralelo), se torna imediatamente num peixinho incauto e indefeso em pleno mar das Caraíbas, à mercê dos tubarões mais ferozes dos oceanos.

OS PREDADORES Um dos tubarões até é branco, ou blanco, e chama-se Real Madrid: já levou Ángel Di María, mordeu e largou David Luiz e cheirou Coentrão. Outro é azul e inglês, o Chelsea, que devorou Ramires e se prepara para mostrar os dentes bifurcados ao mesmo David, chefe da defesa do Brasil.

Há tubarões novos-ricos, como o Manchester City, fascinado com o poder da nova dentição; tubarões tipo fidalgo falido, como o Liverpool, à espera de investidor para reabrir a boca; e tubarões que só atacam se forem atacados. Como o Sevilha, que deve perder Luís Fabiano para outro predador dos mares do mercado. Ou a Roma que vê Burdisso a nadar de regresso a Milão.

Sevilha e Roma são os mais recentes cações. Para compensar as perdas, pensam em Cardozo, o paraguaio que valeu 36 golos na época passada. E em Luisão, no clube há sete temporadas, usuário da braçadeira de capitão nas ausências frequentes de Nuno Gomes e espécie de mentor de David Luiz.

AS VÍTIMAS Ou seja, o Benfica de Jesus enfrenta, além do ávido e perigoso FC Porto, que já ganhou a Supertaça sem piedade dos dramas marítimos do rival, a avidez e o perigo dos tubarões europeus. O onze do campeão português tem sido perseguido - só Maxi Pereira, eficaz mas discreto; e Pablo Aimar, em fase descendente da carreira, têm andado longe das primeiras páginas dos jornais nacionais e europeus.

De resto, a dupla de centrais é o que se sabe, com David Luiz, qual polvo, a revelar-se o pitéu preferido dos tubarões espanhóis e ingleses, porque em Itália não há dinheiro para ele. Javi García, quase tão discreto como Maxi: há referências de que José Mourinho, entre outros protagonistas do futebol espanhol, o admira. E até Saviola, que já passou pela fase em que despertava maiores apetites, continua apreciado em Inglaterra (Tottenham, sobretudo) e na sua Argentina.

AS COMPENSAÇÕES A vantagem do mercado de jogadores em relação à vida dos oceanos, é que no primeiro, ao contrário do segundo, quem morde tem de pagar. E o Benfica já engordou os cofres 47 milhões de euros, à conta do Real Madrid (Di María valeu 25 milhões) e do Chelsea (Ramires rendeu 22 milhões).

Outra vantagem é que, salvo o pagamento das cláusulas de rescisão, quem tem a última palavra àcerca da cadeia alimentar do mercado futebolístico é a própria presa. Coentrão e David Luiz, Luisão e Cardozo estão, em última análise, nas mãos de quem conduz o barco benfiquista: Luís Filipe Vieira.

Finalmente, a vantagem definitiva (e comum à cadeia alimentar) de o Benfica poder olhar para peixe mais pequeno e compensar a perda. Os encarnados foram à Argentina fazer uma pescaria - Franco Jara e Nicolás Gaitán - e podem agora ir ao Brasil completar a caldeirada - os médios Wesley (Santos) e Maylson (Grémio), clones de Ramires e Di María, estão a ser seguidos.

A Jesus compete realizar o seu desíg-nio e esperar que as dentadas não deixem marcas irreversíveis.

1 comentários:

Dia de pesca?

Quem teve olho para o Di Maria e Companhia, que faça o mesmo para os novos reforços. Depois deixa-se engordar o peixe durante mais 3 anos para um Benfica Campeão.

Se assim é, que se saiba esperar e estimar o JJ, porque é um treinador digno merecedor do nosso Benfica.

Se queremos Benfica Bi-Campeão, ou não se deixava sair ninguém e melhorava-se o plantel com peixe musculado, ou com a venda de peixe campeão terá de se pescar tb peixe pronto para a competição.

Pessoalmente prefiro o trabalho do JJ a tratar dos viveiros de peixe, nem que voltemos a ser campeões daqui a 2 ou 3 anos. Mas sempre de cabeça erguida com uma equipa competitiva e cada vez mais saudável financeiramente e humanamente.

Prefiro um Benfica Campeão em Crescido, do que um Benfica Campeão para Falido.

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