Há dias recebi um amável convite de um semanário de referência para escrever uma crónica sobre a memória que guardei do Mundial de 1966, em Inglaterra. Aceitei com gosto, porque tenho uma atracção especial por este tipo de exercícios de memória.
Nessa época, já lá vão 44 anos, o futebol não era o que é hoje, desde logo porque ainda não existia a galáxia mediática que o tornou definitiva e imparavelmente global. Tudo era mais pequeno, mais lento, mais modesto, mas nem por isso menos exaltante. Eu era muito jovem, mas tenho essa lembrança bem presente. Quase à beira do começo do Mundial da África do Sul, recordo-me que tudo chegava a Portugal a preto e branco e que o próprio país, até por razões políticas, também vivia nesse binómio cromático, pois não havia espaço para muitas outras cores, até porque algumas delas eram consideradas subversivas.
A comunicação televisiva tinha outro ritmo, outra lógica. Porém, não foi isso que nos impediu de testemunhar a genialidade de Eusébio e a carreira fulgurante da nossa Selecção, que levou de vencida equipas nacionais como a do Brasil e da então URSS, para não falar da surpreendente norte-coreana. E o certo é que foram precisos 18 anos para Portugal conseguir regressar a uma fase final. Desta vez, vamos ver os jogadores seleccionados todos os dias e a toda a hora. Em directos constantes e por vezes cansativos, prestando declarações por tudo e por nada, quando, na realidade, o que têm como tarefa essencial é treinar para ficarem à altura da responsabilidade que lhes foi confiada. Em 1966 foi tudo muito diferente, mais contido, mais discreto. Mas nem por isso menos empolgante e comovente, incluindo as lágrimas de Eusébio depois da derrota frente à Inglaterra. Só me resta esperar que esse espírito único e inesquecível inspire e mobilize os que na África do Sul vão representar o vermelho e o verde da nossa espe- rança colectiva.
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