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13 março 2010

Os perigos da história


Por Luís Freitas Lobo in Expresso

Benfica-Braga: um duelo que brinca com a história do nosso futebol. Os méritos dos campeões podem vir dos locais mais improváveis.

Por cada vez que ele, com as orelhas quase parecendo asas, arranca pelo seu flanco canhoto ou surge, olhos esbugalhados, mais enquadrado com a baliza, o jogo parece torna-se numa cena de "Alice no país das maravilhas". A personagem principal não tem, no entanto, o traço imaginativo de Lewis Carroll. Foi antes inventada por outro criativo, Jorge Jesus, o treinador que resolveu reescrever o futebol táctico de Di María, antes apenas um malabarista que tanto fintava adversários, como a seguir se fintava a si próprio. Agora, até parece que voa. Um 'Dumbo esquelético' que faz a turba benfiquista saltar. O Benfica de Jesus vive actualmente na terra do 'futebol das maravilhas'. Ganha e joga bem. É uma obra com cimento táctico (equilíbrios defensivos, Javi Garcia e a dupla Luisão-David Luís) e técnico (a conexão argentina, Aimar com a batuta, Di María e Saviola a inventar).

Depois da dinastia espanhola Camacho-Quique de futebol 'cinzento', acendeu-se a Luz, o futebol 'a cores' de Jesus. O maior desafio que enfrenta agora (após a queda do FC Porto) parece ser aguentar essa sua própria qualidade futebolística até ao fim. Não se deixar dominar pela chamada 'fadiga táctica'. Quando, apesar de fisicamente os jogadores continuarem bem, os índices de concentração táctico e mental (que influi na eficácia de posicionamento e dinâmica de jogo) já não são os mesmos.

Neste contexto, um ponto parece mais do que realmente é. Distância curta que é a base do 'sonho impossível' do 'pequeno herói' de início de época, o Braga de Domingos, que, insolente, chega a esta recta final como que abrindo uma porta secreta da sua própria existência como clube. O crescimento futebolístico do Braga tem diferentes espelhos. A qualidade das equipas (bons jogadores, bons negócios) e seus treinadores. Poucos terão reparado, mas os actuais treinadores dos grandes (Jesualdo, Jesus e Carvalhal) passaram pelo banco do Braga nos últimos quatro anos. Um simples detalhe que diz muito da avançada visão do futebol bracarense. Um ciclo (2005-2010) onde, claramente, se assumiu como o 'quarto grande' do futebol português. Domingos é o quarto elemento na senda dos seus antepassados tácticos. Não é difícil prever-lhe também o futuro no comando de um grande. Mais do que o título, o Braga pode conquistar algo mais sólido: o futuro entre a 'elite dos grandes' do nosso futebol. Isto porque, entre este Braga e o Boavista campeão em 2001, não existe qualquer ponto de contacto em termos de bases de sucesso. As do Braga são, claramente, mais sustentadas à face da relva (balneário e corredores da sua própria estrutura).

Domingos tem uma ideia de jogo diferente da de Jesus. Este seu Braga, apesar dos jogadores serem quase os mesmos, é, na forma de jogar, muito diferente. No sistema (de 4x1x3x2 para 4x2x3x1) e no modelo (mais jogo apoiado do que saídas rápidas). Por isso, sente mais dificuldades agora por não ter o pilar do seu plano de jogo: o dono da organização defensiva, Vandinho. Na entrada para cada jogo decisivo, o Braga, para além da 'pressão mental', enfrenta agora também a 'pressão táctica'. É o 'futebol de pressão' na sua máxima expressão.

É um duelo (Benfica-Braga) pelo título que brinca com a história do futebol português. Quase que o vira de pernas para o ar. Apontar o final mais lógico - a vitória do grande - tanto pode ser uma conclusão fácil como insensível aos perigos da história. Porque, no futebol, os méritos dos campeões são sempre diferentes e podem vir dos locais (e estilos) mais opostos. Mesmo os mais improváveis.

O que terá mudado?
Jogar bem é consequência de vários factores. Condição física, táctica, técnica, atitude competitiva. Numa semana, o jogo do Sporting transformou-se. Da total depressão para duas vitórias fantásticas (3-0 ao Everton e ao FC Porto). O treinador e os jogadores são os mesmos... Por isso, para perceber como foi isto possível, o melhor é tentar ver qual daqueles factores se alterou.

Como os jogos eram, sobretudo, um caso de falta de competitividade reactiva (não reagir à perda da bola, ao ataque do adversário, aos próprios receios), penso que o princípio da mudança esteve na cabeça dos jogadores. Ou seja, encontraram um novo estímulo que lhes mudou o chip mental perante o jogo. Esse factor, ligado ao maior tempo de treino antes do jogo com o Everton, remotivou táctica e mentalmente a dinâmica reactiva dos jogadores. Depois, quando se ganha um jogo, ganha-se 50% do seguinte. Quando entrou contra o FC Porto já tinha essa nova imagem vitoriosa no subconsciente. Para o treinador, o que mudou foi a influência do seu discurso nos jogadores.

Ao mesmo tempo, o FC Porto fez o percurso inverso. O treinador e jogadores também eram os mesmos. Voltamos ao mesmo: a ideia que fica é que a equipa já só se estimula de forma reactiva. Há casos particulares que dão quase a ideia de "tempo a mais" no Porto. Penso em Bruno Alves e Raul Meireles. Quando eles falham (na atitude que põem no jogo) arrastam consigo toda a equipa. Apesar do seu valor, Ruben Micael ou Varela ainda não são catalisadores de emoções, são o prolongamento de um sentimento comum que é desenhado por esses outros 'senadores' (da relva e balneário), hoje sem a chama de outrora. Por isso estas exibições de luzes e sombras.

Ranking da liga - Fevereiro-2010
Tempo de renascer
Um mês para confundir mentes e visões, sejam elas puramente emotivas ou mais científicas. Cada qual no seu tempo (entenda-se jogo e estilo), os quatro primeiros tiveram jogos para fazer sonhar e, pouco depois, outros para assustar. O Benfica, que parecia estar a ficar "cansado tacticamente", reacordou para as goleadas. O Braga goleado no Dragão que, ganhando, reacendeu logo depois a luta pelo título. O Sporting deprimido que, num ápice, parece imparável. FC Porto, demolidor contra o Braga, uma semana depois estático em Alvalade. Onde ficam os jogadores no meio disto tudo? É difícil dar só uma resposta a problemas e situações tão diferentes. A explicação estará na fase decisiva da época que se atravessa, na qual as emoções ultrapassam as razões tácticas mais profundas. Mais do que correr, os jogadores estão cansados de pensar. Sobretudo em jogos competitivamente exigentes e com tão pouco tempo de recuperação de um para outro. Basta 'adormecer' curtos segundos para o adversário, mesmo simpático, te devorar. Talvez por isso, faça sentido este renascimento leonino.

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