Por João Gobern in Record
Dir-se-á que o homem precisou de anos para se guindar a tal estatuto, de golos transcendentes e óbvios, de exibições de luxo e de momentos de sacrifício. Dir-se-á, ainda, que a sua disponibilidade para vir dar uma ajuda - e que ajuda! - à Seleção Nacional acabou por arredondar-lhe as "arestas" e por obrigar os mais renitentes a olhá-lo como património e não como "inimigo". Mas apetece dizer que, concretizado o seu primeiro póquer em jogos oficiais, provado que o bom momento do Sporting tem por base a ótima forma do atleta, a entrevista de Liedson de que o Record deu eco na edição de ontem deveria valer como exemplo para muitos dos seus parceiros de ofício e, ainda mais, para muitos dos que com ele partilham a condição de agentes do futebol.
Liedson confessa sentir-se acarinhado por todos, particularizando o "respeito" conquistado junto dos adeptos do Benfica, equipa a que ganhou o "vício" de marcar. O seu discurso é claro e irrefutável, tornando-se tanto mais útil e pedagógico quanto já há muito ficou provado que o luso-brasileiro é um dos homens que, pelo talento e pelo trabalho, serve como valor acrescentado às competições futebolísticas portuguesas. A questão que se coloca é simples: não deveria ser sempre assim? A circunstância de este ou aquele futebolista de eleição não defender as cores do nosso clube de simpatia será motivo para o desvalorizarmos ou humilharmos? Não me parece. Até porque, nos dias que correm, de globalização e celeridade no mercado de transferências, de equipas transformadas em "sociedades de nações", já é bom percebermos que o profissionalismo inclui o empenhamento na defesa da instituição que se representa - e essa defesa faz-se, em regra, dentro de campo. De resto, são múltiplas as situações em que as declarações de guerrilha de alguns atletas face a rivais parecem feitas por medida apenas para apaziguar o instinto bélico de dirigentes e de claques dos clubes empregadores. Talvez com o tempo e com exemplos leves como o de Liedson se perceba que entre a paz podre e a guerra sem quartel há uma larga faixa de convivência civilizada, em que interessa o importante: que ganhe o melhor.
P.S. - Com o risco de estar a ser precipitado, julgo que se prepara, com a convocatória da Seleção Nacional para a África do Sul, uma injustiça irreparável: se o guarda-redes Quim não fizer parte dos escolhidos, repete-se em larga medida o escândalo que afastou Vítor Baía do Euro-2004. Mal amado no Benfica, sem razões que o expliquem, Quim não merece o esquecimento, sobretudo tratando-se da última oportunidade de mostrar, num grande palco e com a camisola de Portugal, o seu valor. Patrício é um aprendiz, Hilário um corpo estranho. Haja bom senso.
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