Por Leonor Pinhão in A Bola
NA última jornada, no Restelo, Liedson construiu por mérito próprio a bonita proeza que, na penúltima jornada, Di María, em Matosinhos, também tinha conseguido atingir mas que Lucílio Baptista, esse grande benfiquista, não permitiu que fosse para valer. Marcar quatro golos num só jogo é obra!
E, por isso mesmo, estão os dois, o brasileiro e o argentino, de parabéns.
O ressurgimento efectivo do Sporting neste terço final da época tem suscitado muitas análises e muitas interrogações por parte dos especialistas da matéria. Como é possível que uma equipa que parecia atirada ao tapete consiga sacudir a poeira, levantar-se do chão e, de uma assentada, eliminar o Everton, golear o FC Porto e despachar o Belenenses?
Uns explicam o fenómeno com os dotes reanimadores de Carlos Carvalhal, outros com a entrada de Costinha para um posto directivo e ainda há quem acredite que o anúncio da contratação de um novo treinador para 2010/2011, ao contrário do efeito cientificamente esperado, causou uma positiva onda de choque no balneário, porque o futebol tem destas coisas…
No entanto, perante os factos, é de crer que estão todos errados. O Sporting deve a sua reanimação única e exclusivamente ao Benfica, cuja força anímica está de tal modo em alta que até dá para emprestar as sobras a terceiros. Recordemos, por exemplo, os minutos finais do Sporting-Everton para a Liga Europa. Depois de ter perdido por 2-1, na primeira-mão, em Liverpool, chegou, em Alvalade, aos 2-0 e os ingleses, como lhes competia, e ainda que muito incompetentes, tentaram fazer o golo que lhes permitisse, no mínimo, chegar ao prolongamento.
E isso é que não podia, de maneira nenhuma, acontecer!
Três dias depois de jogar com o Everton, cabia ao Sporting receber o FC Porto e não convinha mesmo nada, ao Benfica, pois claro, que a equipa de Carlos Carvalhal fosse obrigada a cansar-se, a jogar mais meia hora quando tinha, imperiosamente, de se apresentar frente aos tetracampeões fresca e luzidia como uma alface, como veio a acontecer.
É, portanto falso ou, pelo menos, incompleto, afirmar-se que os benfiquistas só torceram pelo Sporting durante o jogo com o FC Porto. Os benfiquistas já tinham sofrido, e muito, pelo Sporting no jogo com o Everton perante a desagradável possibilidade de o jogo seguir para prolongamento.
Esta vaga de simpatia vermelha e interesseira pelas cores verdes emprestou à equipa do Sporting uma dimensão verdadeiramente nacional, raramente experimentada pelos seus jogadores que, pelos vistos, adoraram a novidade da experiência. Por exemplo, Liedson, o herói sportinguista do Restelo, revelou à imprensa no início da semana tudo o que lhe vai na alma sobre o assunto.
Escutemo-lo: «Eu já tinha um respeito grande pelo Benfica e os adeptos do Benfica por mim, porque eles sabem que eu estou no Sporting a fazer o meu trabalho», disse o levezinho com grande desenvoltura e leveza. E foi ainda mais longe: «A maioria dos benfiquistas, quando me encontra diz: 'Você é um grande jogador, mas está na equipa errada.' Mas são todos sempre muito educados comigo.» Pois com certeza que somos, caro Liedson.
Ficaram esclarecidos?
Mais uma vez, Liedson resolveu.
Desta vez resolveu as dúvidas que pairavam sobre as razões da sensacional recuperação do Sporting. Está provado que é o Benfica que lhes anda a dar moral. Os sportinguistas nem sabem a sorte que têm. E Liedson não sabe a sorte que tem por já ter Sá Pinto a uma considerável distância…
É que Sá Pinto não ia achar graça nenhuma a uma coisa destas.
IA alta a madrugada quando stewards, ao serviço do Benfica, esperaram pelos jogadores do FC Porto no Aeroporto Sá Carneiro no Porto e os provocaram com insultos e ignomínias várias. Enfim, o costume…
Os jogadores do FC Porto, desta vez, não responderam às provocações. Nem sequer Hulk esboçou qualquer tentativa de desagravo.
Não valia a pena. Depois da sua exibição em Londres, ciente de que a sua cláusula de rescisão tinha subido para os 150 milhões de euros, o poderoso avançado brasileiro deitou contas à vida, fez-se egoísta, e chegou à conclusão de que lhe mais valia estar quieto.
Fez muitíssimo bem. À primeira caem todos, à segunda cai quem quer…
A absurda quantidade de túneis cavados pela linha avançada do Arsenal nas linhas defensivas do FC Porto deixaram a comitiva portista sem capacidade de reacção.
Entre todos, foi Raul Meireles, o herói da qualificação portuguesa para o Mundial da África do Sul, quem apelou ao bom senso das massas revoltadas com uma frase pragmática e digna de respeito: «Ainda existem três troféus para ganhar!» E existem mesmo.
Raul Meireles é um excelente profissional e um jogador que todos admiram independentemente das paixões clubistas. Pauta-se, normalmente, por discursos razoáveis, distantes da propaganda oficial. No momento presente, ao serviço do seu clube, o FC Porto, não tem sido especialmente feliz dentro das quatro linhas, mas são coisas que acontecem aos melhores.
E se Raul Meireles pensar que na corrente temporada apenas marcou dois golos nas balizas adversárias, exactamente o mesmo número de golos que o nosso grande David Luiz marcou na sua própria baliza, há-de concluir que muita coisa está explicada.
Opresidente do FC Porto não foi visto nem achado no Aeroporto Sá Carneiro quando os stewards contratados pelo Benfica, acentue-se porque é importante, provocaram os seus jogadores com insultos e ignomínias várias. Fez bem em não estar.
Genial, presidente, genial.
OBenfica joga hoje à noite a primeira-mão dos oitavos-de-final da Liga Europa. Ora aqui está um jogo que não tem importância nenhuma. O objectivo desta época é, como diz Jesus, o campeonato nacional e o resto serve apenas para entreter.
Menos importante do que a Liga Europa, só a Taça da Liga nacional. Que sejam dois bons entretenimentos e basta.
Genial, presidente, genial.
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