As claques e os silêncios

Por Vítor Serpa in A Bola

OS principais clubes de futebol, em Portugal, têm um problema comum que não conseguem, nem lhes interessa resolver: chama-se claques organizadas.

Se confrontarmos os nossos dirigentes desportivos com as repetidas cenas de desacato e violência que são protagonizadas pelas claques organizadas dos clubes, principalmente nos jogos em que sentem e pressentem um palco de maior audiência, dizem-nos que não têm nada a ver com isso, que não fomentam, não estimulam e não apoiam oficialmente essa gentinha desordeira, que se aproveita da ingenuidade, da paixão clubista e da natural irreverência dos jovens adeptos para construirem exércitos perigosos, com fins muito pouco claros e que raramente têm a ver com qualquer convicção desportiva.

A verdade é que o fenómeno tipicamente «hooliganista» que se viveu na final da Taça da Liga e que não raras vezes também acontece nos jogos entre Benfica e Sporting tem o comprometimento óbvio de uma gestão desportiva comum aos grandes clubes, que se conforma, tolera e aceita a existência interna de um poder marginal, capaz de destruir a saúde do espectáculo de futebol e a alma do próprio clube em que habita. Curiosamente, na santa aliança desse silêncio cúmplice que tanto estimula os desordeiros também entra o poder político, nestes casos, sempre muito pouco interessado em pedir responsabilidades a quem, de facto, as tem, preferindo deixar em situação de alto risco as forças de segurança, que se vêem obrigadas a criar nos estádios autênticos campos de batalha, num cenário que aterroriza e intimida o cidadão comum.

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