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01 fevereiro 2010

O país do sol amargo



Por Vítor Serpa in A Bola

ÉRAMOS um país de sol e sorriso. Vinham, de longe, gente alta e loura, e descobriam-nos assim, ensolarados no céu e em cada cara prazenteira. Admito que fosse ingenuidade a mais. Desde há séculos que não tínhamos razão para tal, mas havia uma doçura naquela resignação paciente e calma, a que quase meio século de ditadura nos obrigara. Depois veio Abril e ficámos com mais sol e mais sorrisos, numa esperança de sonhos adiados. Até que se chegou a isto: gente cansada de esperar na beira do caminho por mais um apoiozinho do governo, um subsídio do Estado, um lugar por cunha prometida, um apadrinhamento melhor sucedido, uma entrada no lobby dos mandantes, uma ficha preenchida para o grande baile do clube dos jotinhas, uma negociata interdita, enfim, um bónus em vez de uma bússola na vidinha desventurada.
Antes, diziam-nos em segredo subversivo, havia Fátima, fado e futebol para nos tirar as preocupações. Agora também há, mas é diferente. Fátima lastima a falta de vocação pela fé e os casamentos de gente do mesmo sexo; o fado desbaratou-se pela juventude de voz sem a alma profunda das tristezas de viúvas eternas e soltou-se num cançonetismo menos piegas e sem rugas na cara. Quanto ao futebol — é aí que queremos chegar — deixou de ser uma coisa gira que se discutia no café e nas esquinas dos bairros para se tornar em algo de dramático que leva as pessoas a irritarem-se ainda mais e a fazerem declarações de guerra em nome de bandeiras inclementes.

Ir ao futebol era um prazer, apesar das bancadas descobertas, dos lugares em pé, no peão, das caminhadas forçadas por caminhos inventados em trilhos de erva daninha.

Agora, que se inventaram os estádios cinematográficos, que os camarotes têm luxos de hotel e, até mesmo os lugares mais plebeus estão ao abrigo da chuva e dos apertos, ir ao futebol é um código para alimentar zangas e reunir forças para resistir, toda a semana, nas trincheiras da afronta.

O futebol, propriamente dito, nem sequer está pior. Pelo contrário. Melhorou a performance das equipas, os espectáculos ganharam qualidade, mas o resultado é dramático. Talvez se os altifalantes roqueiros e ensurdecedores nos deixassem ouvir uns aos outros e permitissem conversas de amigos, como dantes, ou talvez se a atmosfera de cada jogo não fosse tão cinzenta, tão pesada. Alguma coisa se devia fazer para fazer regressar o futebol à alegria pura do jogo e para não deixarmos que todas as conversas da semana tivessem como princípio, meio e fim as declarações enraivecidas dos senhores da guerra, que ganham a vida como generais de exércitos de acéfalos.

Se o velho Marx andasse aí pelos Rossios e pelas Praças da Batalha deste país, certamente decretaria: o futebol é, agora, o ópio do povo. Não porque o faça feliz, mas porque o seca nos raciocínios mais elementares, tornando-o alvo fácil da feitiçaria vigente.

Nem o futebol faz, agora, sorrir o país. Aliás, até parece que vai havendo menos sol, apesar do aquecimento global. A crise dura, os sonhos congelam-se, as virtudes dos portugueses adiam-se, a educação retrocede até ao elogio da ignorância, a saúde não melhora, a justiça sufoca e o futebol, depois de tudo isto, ainda nos carrega na amargura?!

2 comentários:

O futebol realmente já não é o que era. E é uma pena!
Tudo por culpa dos sem escrúpulos que tudo fazem para se beneficiarem prejudicando os outros.
Abraço.

eu nem sei como o futebol era porque quando nasci o sistema também tinha dado os primeiros choros para começarem a mamar!

mas sei que o futebol pode ser muito melhor sem as jogadas sujas que deturpam a verdade de dentro de campo.

quem criou o sistema criou-o na base da ideia de que o Benfica é beneficiado (e que Lisboa também o é). quem acha que o Benfica é beneficiado esquece-se que o verdadeiro beneficio do Benfica é ter o maior apoio de Portugal e é por isso que é enorme e podem tirar o cavalinho da chuva se pensam que alguma vez iam alterar isso!

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