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30 dezembro 2009

Título de ficção-científica



Por Jacinto Lucas Pires in JN

Boas festas para todos, antes de mais. E que 2010 seja uma boa colheita para os nossos futebóis. Pois é, amigos, o futuro começa já daqui a um dia. Está tudo pronto? Todos já de pé na relva e passas na mão, à espera do grande segundo? Felicidades! Paz, amor e vida boa! Entremos com o pé direito do Saviola ou com o esquerdo do Di María, com o pé-canhão do Cardozo ou com o pé inteligente do Aimar, não importa, entremos da melhor maneira. Que o ano que está quase aí (“2010”, como é possível?, parece um título de ficção-científica) nos traga muitas daquelas goleadas generosas a que, vá-se lá saber porquê, chamamos goleadas “à antiga”.
Para o meu Benfica, tenho alguns desejos simples. Desde logo, que o Glorioso continue a tratar a bola com jeitinho e alegria e, pois, a fazer golos uns atrás dos outros. Alain Badiou, um filósofo francês, fala, a propósito do pensamento de S. Paulo, da “esperança” como atitude activa referente ao presente, não limitada à expectativa de um eventual resultado futuro. (Não me quero armar em intelectual, juro. É só que às vezes, para falar das coisas mais simples, precisamos mesmo dos filósofos.) Isto para dizer: que em 2010 o Benfica prolongue essa virtude da “esperança” em campo, nos treinos, nas entrevistas rápidas no final do jogo e nas conversas de terceiro anel. E que David Luiz não saia. E que Di María saia só depois de sermos campeões. E que Saviola fique mais uma década, pelo menos. E que Pablo Aimar ainda por cá esteja aos cem anos a ensinar aos miúdos benfiquistas que o futebol é o jogo mais completo porque junta arquitectura, música, geografia, poesia e tanto mais.
Para Portugal, um único desejo: que estejamos à altura do máximo de nós. Falo da selecção, sim, mas também do país. Sim, sim, que a África do Sul é todos dias, caros amigos, a África do Sul é sempre que um homem quer. Já lembrei um filósofo francês, agora cito um brasileiro, Mangabeira Unger. Diz ele que o que faz falta, mais do que “humanizar a sociedade”, é “divinizar a humanidade”. E então, estamos à espera do quê?
Comecemos já, já: temos de aprender a ser deuses. Construir um país onde todos possamos ser deuses, como deuses, chegar ao mais alto de nós.

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