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10 dezembro 2009

O valor das 'máscaras' tácticas



Por Luís Freitas Lobo in Expresso.pt

Sistemas. A nova táctica do Sporting de Carvalhal, as dúvidas que estarão na cabeça de Jesualdo e o dilema que, na Luz, se aproxima de Jesus.

Cada equipa tem a sua forma de jogar. A chamada filosofia de jogo. É ela que lhe dá a identidade que as distingue das outras. Cada treinador tem a sua. No meio deste conceito está o sistema ou a chamada estrutura que traduz a colocação dos jogadores em campo quando o jogo vai começar: 4x4x2, 4x3x3, 4x2x3x1, etc. Depois, surge a estratégia, como ganhar cada jogo.

Adoptando um sistema, a equipa aprende então a caminhar (jogar) a partir dele. Os jogadores criam hábitos. A equipa rotinas, os chamados princípios de jogo (conjunto de movimentos que dizem o que o jogador deve fazer em diferentes situações do jogo). O que pode, então, levar um treinador, com a época já avançada, a mudar o seu sistema táctico preferencial?

A resposta pode ter diferentes origens e nascer de diferentes locais. O treinador que entra de novo na equipa (caso de Carvalhal, no Sporting), o treinador que vê a ideia inicial não resultar (será o que se está a passar na cabeça de Jesualdo, no FC Porto), ou o treinador que embora tudo ainda esteja bem, sente que tem de encontrar alternativas pois os adversários já começam a conhecer o seu jogo. Este será o próximo dilema de Jesus, no Benfica).

Cada qual tem o seu processo. Mais complexo o de Carvalhal, porque ao mudar o sistema preferencial (de 4x4x2 losango para 4x2x3x1), muda a posição de quase todos os jogadores (médios e avançados) e a forma como se relacionam entre si. É este o ponto mais complicado, pois o sistema, por si só, é um mero desenho que não tem vida própria. Desde logo, porque ninguém joga em 4x2x3x1. Joga-se é a partir de 4x2x3x1. Parece a mesma coisa, mas é muito diferente.

Neste sentido, o que Carvalhal consegue neste momento é apenas uma transformação no jogo do Sporting que muitos jogadores, como Liedson, até estranham. Outra coisa, o que a equipa verdadeiramente necessita, é de uma evolução na forma de jogar e, para isso, não é necessário mudar o sistema, apenas os tais princípios.

Mudar as duas coisas, simultaneamente, é o grande desafio (ideal mas para uma fase de pré-época) que Carvalhal resolveu assumir. A razão? Ele sente que tem apenas seis meses (meia época) para mostrar o que vale como treinador. Por isso, a necessidade de fazer uma revolução todos os dias, quando o ideal (para si, para a equipa, para os jogadores, para o clube) era uma evolução sustentada, construída com os degraus certos.

Um simples golo marcado no último minuto, como o de Grimi ao Heerenveen salvando a Europa, tem, assim, o maior perigo das ilusões futebolísticas. Uma boa equipa deve saber jogar em diferentes sistemas, mas a melhor é aquela que sentir menos vezes necessidade de mudar.
O ideal é mesmo conseguir mudar em pleno jogo, através do simples movimento dos jogadores, como fazia o FC Porto a época passada. Partia do 4x3x3, depois o ala-esquerdo Rodriguez recuava, o outro extremo, Hulk flectia, e era um 4x4x2. Agora, perdeu essa capacidade.

Para mudar a forma de jogar Jesualdo tem de mudar jogadores, o que na prática, se traduz em mudar o sistema táctico em que começa a jogar. Por isso, os próximos tempos podem tacticamente revelar o onze portista num sistema diferente.

Tudo isto pode parecer abstracto, mas o treinador sabe que sem essa capacidade de perceber e mudar a realidade, nenhuma equipa consegue evoluir. Apenas conseguirá, no máximo, transformar-se. É a força das chamadas "máscaras" tácticas.


A partir do guardião
O grande remate de Miguel Veloso, o voo, fantástico, de Quim, de um local onde parecia impossível chegar para desviar a bola das redes. No dérbi, a maior oportunidade foi do Benfica (Di Maria com tempo para tudo...), mas o melhor remate foi do Sporting... Não é a mesma coisa. Entre o remate que ficou perto do golo e a melhor oportunidade para fazer golo, existe a diferença que faz o jogo colectivo da equipa até colocar a bola perto da baliza. É então que surge o guarda-redes. Na Luz, Quim tem feito uma carreira "contra a corrente". Sempre com olhares desconfiados.

Não faz sentido. Porque as suas defesas "impossíveis" falam por ele. Será uma questão de imagem. Não é, de facto, o protótipo do guarda-redes elegante. Cabelo desgrenhado, camisola que parece grande... Não dá a sensação de 'encher' a baliza. Mas 'enche'. Vê-se quando a bola lhe chega perto. A imagem é uma ilusão estética. Basta tirar bem as medidas. Por isso, para ele ver hoje a selecção como uma miragem, é apenas mais uma página numa carreira feita a combater avançados e... fantasmas.


Jogando a correr...
Mais do que o estilo individual, quase brincando com o jogo de cada vez que pega na bola, parecendo feito de borracha, Targino é hoje, em Guimarães, o melhor exemplo de como a velocidade pode ser um traço capaz de, por si só, mudar o curso de um jogo. Olhando para ele, pensa-se primeiro na pura velocidade pernas. Falta, depois, a velocidade (com precisão) de execução. Saber parar no momento certo e passar, cruzar ou rematar. Quando o consegue, faz um passe mortífero (como em Olhão, no último jogo).

Este estilo de jogador veloz também existe noutras equipas dos nossos relvados. Cada qual como o seu estilo, qualidades e, sobretudo... defeitos. Sougou (Académica), Matheus (Braga), Luís Carlos (Setúbal), Di Maria (Benfica) e, claro, Hulk (FC Porto). Pensamos neles, pensamos em velocidade. Em Di Maria, pensamos também no drible um-para-um. Em Hulk, liga-se o poder físico. Em Matheus, o golo, agora que Domingos também o mete no centro, um facto estranho, porque, em geral, este tipo de jogador rápido joga num flanco. Nem precisa para isso de ser extremo de origem. Em geral, eles são vistos para sistemas de contra-ataque. Não é bem assim. Porque é antes de tudo uma questão de ter espaços para correr, e esse maior latifúndio de relva tende a surgir mais no flanco. O corredor central é sempre mais compacto.

Neste mundo de velocidade, Targino é hoje um jogador especial, renascido após algumas épocas meio perdido. Ainda precisa meter-lhe a tal precisão. Está nesse pequeno (grande) salto de técnica, a chamada táctica individual, a diferença entre uma carreira engraçada ou uma grande carreira, para daqui a alguns anos, quando já tiver deixado de jogar, ainda falarmos dele...

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