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27 dezembro 2009

Entrevista de César Peixoto a O Jogo


César Peixoto trocou o Braga pelo Benfica no início da época e depois de um arranque difícil agarrou definitivamente o lugar no onze de Jorge Jesus. Encantado com a aposta, diz que as águias têm todas as condições para vencerem a Liga esta temporada.


Aquilo que encontrou no Benfica tem correspondido às suas expectativas?

Estou encantado, tudo tem sido muito bom. Já acompanhava o Benfica antes de vir, pois conhecia bem a equipa técnica e sentia que a equipa tinha qualidade para vencer o título. Além disso, via as exibições e pensava que gostaria de jogar no clube, porque praticava um futebol ofensivo e atraente, e senti que podia ser campeão. Quando surgiu o interesse, não olhei para trás. Felizmente temos demonstrado, no relvado, tanto a nossa qualidade individual como colectiva.

Chega ao Benfica contando com uma passagem pelo FC Porto no seu currículo. Podem ser comparáveis, os dois clubes?

O Benfica é muito, muito maior do que o FC Porto. O FC Porto é grande, mas o Benfica é inigualável. Em todo o lado onde joga, movimenta sempre imensos adeptos. Foi fantástico, por exemplo, em Leiria, ver centenas de pessoas à nossa espera. É uma sensação muito boa. Até no Canadá tivemos centenas de benfiquistas a apoiar-nos. Hoje já tenho conhecimento de causa e posso dizer que o Benfica é o maior clube de Portugal. Temos tido a oportunidade de sentir um ambiente muito forte no Estádio da Luz, e os adeptos têm-nos empurrado sempre para a vitória, mesmo em momentos em que a equipa podia desanimar.

No último jogo, venceram precisamente o FC Porto. Houve um sentimento especial?

Todos os triunfos dão moral, mas é verdade que vencer o FC Porto dá uma motivação extra. O Braga, que é uma excelente equipa, tem os mesmos pontos do que o Benfica, mas o FC Porto é o adversário número um pelo título, por isso era importante marcar novamente a diferença a nível pontual. A nossa vitória foi impressionante e foi mais uma prova da qualidade da nossa equipa e do nosso espírito de grupo.

Com a vitória ante o FC Porto, a equipa deu provas de que está à altura do desafio?

O triunfo no jogo de domingo mostrou que o Benfica tem equipa para ser campeão. Havia muita gente a dizer que o Benfica dava três, quatro e cinco em alguns jogos, mas que, nos jogos a sério, não ia ser assim. Foi a prova cabal de que podemos vencer qualquer jogo e de que podemos ser campeões. Aliás, todos estamos convictos disso.

Jorge Jesus disse alguma coisa aos jogadores depois do jogo?

É um jogo sempre especial, frente ao nosso principal adversário pelo título, e foi muito bom vencer, até porque era o último jogo antes das férias e assim deu-nos outra alegria e espírito para viver a época natalícia. Por tudo isso, foi especial. O treinador deu-nos os parabéns pela vitória e estava extremamente feliz, tal como todos nós. Mas ainda não vencemos nada. Sabemos que estamos ainda a meio da época, em igualdade com o Braga, e por isso temos de continuar a trabalhar com o mesmo empenho. Provámos aos mais cépticos que o Benfica pode vencer qualquer jogo, mesmo os mais difíceis, e que a equipa não vacila.

A equipa tem gerado grande euforia com o percurso que tem tido. Sente que em 2010 podem corresponder às expectativas dos adeptos?


Sinto que 2010 pode ser o ano do Benfica. Vamos dar tudo para alcançar os nossos objectivos, procurando sempre vencer tudo. Nesta casa, só entram jogadores com espírito vencedor e que só podem pensar em vencer o campeonato.

O FC Porto tem dominado o futebol português. É possível acabar com essa hegemonia?

Não vai ser fácil. O FC Porto tem excelentes jogadores, mas o nosso objectivo é sermos campeões. Sabemos que vamos ter um percurso longo e que vamos ter também alguns percalços, mas é nessas situações que se vê a fibra dos campeões. Depois do jogo com o Olhanense, que não correu muito bem, respondemos da melhor forma e vencemos o AEK e o FC Porto. Demos a volta, quando as pessoas pensavam que podíamos tremer.

Já esperava um Braga tão forte esta época?

Claro que esperava que o Braga fizesse uma época tão boa como tem feito, porque sei da qualidade do plantel. A maior parte dos seus jogadores foram meus colegas, e conheço-os bem. Tem, contudo, uma vantagem, que é o facto de não estar a disputar a Liga Europa. No ano passado praticámos um futebol agradável, mas tivemos a Taça UEFA pelo meio e não tínhamos um plantel tão rico a nível de opções. Com isso, o Braga mantém o mesmo onze regularmente, o que lhe permite manter a mesma qualidade. Vai ficar nos primeiros lugares até final.

O Sporting, pelo contrário, está apenas no quinto lugar. No início do ano pensava que o rival leonino estivesse tão atrasado na corrida pelo título?

O percurso do Sporting foi uma surpresa. É sempre um crónico candidato ao título e este ano tem estado menos bem, algo que não esperava. Mas qualquer equipa atravessa fases menos boas, e acredito que eles podem recuperar.

Curiosamente, o Sporting contratou há pouco um ex-colega seu. Que análise faz à mudança de João Pereira para Alvalade?

Vejo a transferência de duas maneiras. Primeiro fico muito feliz, porque é um amigo e estimo-o muito; por isso já lhe dei os parabéns. Mas fico também triste pelo Braga, um clube pelo qual tenho apreço, e porque vai reforçar um rival. Vai ser uma mais-valia para o Sporting, e o seu espírito guerreiro vai ajudar a equipa.

"Fasquia está muito elevada"

O Benfica já assegurou as contratações de Airton e Alan Kardec, mas o camisola 25 das águias admite que não conhece bem a dupla que irá começar a trabalhar a partir de dia 28 com Jorge Jesus. Ainda assim, confia na sua qualidade. "Não os conheço. Não sei se estão contratados ou não, mas qualquer jogador que venha é porque tem qualidade para o Benfica. A fasquia está muito elevada", realça, seguro de que os jogadores vão "acrescentar qualidade" ao plantel do clube da Luz. E sobre a possível chegada de um lateral-esquerdo, não se atemoriza. "Não fico preocupado se o Benfica decidir contratar mais algum jogador para a minha posição. Desde que venha para ajudar, será bem-vindo", explica. "Essa é uma decisão que diz respeito aos responsáveis e, se optarem por fazê-lo, só me cabe ajudar a equipa e fazer o que posso", acrescenta.

Campanha na Liga Europa não surpreende

O desempenho do Benfica na Liga Europa tem merecido destaque, razão pela qual as águias são já apontadas como uma das equipas mais poderosas na prova. Muito confiante, César Peixoto salienta que "era obrigação da equipa conseguir o apuramento", frisando: "Não estamos surpreendidos com a nossa campanha. Temos a noção da nossa qualidade e do que podemos." No entanto, o jogador não embandeira em arco e promete manter a humildade. "Agora temos de pensar jogo a jogo, sabendo que é uma competição muito diferente do campeonato. Claro que o Benfica, pela sua história, tem de entrar sempre para vencer", realça, mostrando cautelas na análise ao rival dos 16-avos-de-final da Liga Europa. "É um adversário complicado, embora não esteja bem no campeonato", refere, lembrando que, apesar de o emblema alemão estar mal classificado, "isso não corresponde ao valor da equipa, que tem qualidade para dar a volta à situação". No entanto, acrescenta: "Sabemos o que valemos e claro que desejamos seguir em frente."

Chegou à Luz recomendado por Jorge Jesus. É bom sentir essa confiança?

É sempre bom sentir confiança por parte do nosso treinador, mas, neste caso, sinto-a também dos meus colegas e de todas as pessoas no Benfica, que também acreditaram em mim. Quando cheguei, não estava nas melhores condições, pois não tinha feito a pré-temporada como deveria devido à confusão que envolveu a minha transferência. Fui ganhando ritmo e a jogar regularmente, mas admito que é importante trabalhar com o Jorge Jesus, que já me conhecia bem, pois trabalhámos juntos no Braga.

Quando foi contratado, surgiram algumas críticas dizendo que só tinha sido opção por ser protegido do treinador. Como viveu com essa situação?

Não pensei nisso. Quando um jogador que já venceu tudo, como fiz no FC Porto, no qual conquistei a Taça UEFA, a Liga dos Campeões, três campeonatos, duas Taças de Portugal e três Supertaças, não tem lugar no Benfica... Um jogador com o meu palmarés não tem qualidade para jogar num grande clube como o Benfica? Sei que nenhum jogador pode agradar a todos os adeptos e que há sempre opiniões divergentes. Respeito-as, mas sei que tenho qualidade para jogar no Benfica e tenho-o demonstrado no campo.

Considera, portanto, as críticas infundadas?

Tenho um percurso de provas dadas no futebol português. Já joguei no FC Porto e venci muitas coisas. Além disso, e excluindo o Sporting, estive nos principais clubes portugueses, como Braga, Guimarães ou Belenenses. E não fui sempre treinado pelo Jorge Jesus. Também foi treinado por Mourinho, Co Adriaanse ou Manuel Machado e joguei sempre. Sei que tenho qualidade e valor. Admito que posso fazer melhor, e vou fazê-lo. Há praticamente um ano que não jogava a lateral-esquerdo, e é diferente fazê-lo depois de ter jogado na última época como médio-ofensivo.

Está a ganhar confiança?

Quando cheguei, não tinha ritmo e demorei mais a entrar na equipa. Depois, no jogo com o Everton levei uma porrada e fiquei algum tempo parado, o que me fez regredir outra vez. Agora sinto que estou a voltar a readquirir o ritmo e, quando terminar a paragem, vou estar em igualdade com os meus colegas.

Quando não está disponível, o treinador tem recorrido a adaptações, raramente colocando Shaffer em campo. Sente-se indiscutível?

Não me sinto indiscutível, de todo. No Benfica, não há indiscutíveis, pois temos um plantel rico em qualidade. Vencemos o AEK de Atenas num jogo em que a equipa deu uma boa resposta, isto apesar de o técnico ter rodado muito, o que é sinal de que todos os jogadores têm muita qualidade. Trabalho todos os dias para mostrar ao treinador que posso ser opção, tal como os meus colegas, e tenho jogado. Mas o segredo do Benfica é que ninguém é indiscutível, há grande competitividade no grupo, e temos um grande espírito de união e vontade de levarmos o Benfica ao sucesso, algo que temos demonstrado.

A pensar no Mundial da África do Sul

Carlos Queiroz tem apostado em Duda para lateral-esquerdo e, apesar de o seleccionador já ter a sua lista para a África do Sul praticamente definida, César Peixoto ainda sonha com a presença no Mundial. "Claro que tenho esperanças de ser convocado, como qualquer jogador português. É o sonho de qualquer jogador", confessa, garantindo, porém, que para já está "concentrado no Benfica". "Vou fazer o melhor pelo clube e, se puder, colher outros frutos. Se for chamado, terei todo o orgulho", comenta.

Portugal vai enfrentar Brasil, Costa do Marfim e Coreia do Norte, grupo que o defesa classifica de "complicado". "Todas as equipas presentes no Mundial têm qualidade. O grupo não é fácil, mas os outros também olham com respeito para Portugal", sublinha. Apesar das dificuldades, confia num bom desempenho na África do Sul: "Temos grandes qualidades, alguns dos melhores jogadores do mundo, e podemos fazer um grande Mundial."

O sorteio ditou até algumas "picardias" no balneário encarnado. "Temos muitos jogadores brasileiros, e claro que já houve algumas brincadeiras", admite, frisando, porém, que, em caso de confronto, "cada um vai dar o melhor pela sua selecção".

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