1 O relvado do estádio da Luz, no domingo passado, recebeu o clássico disputado entre o Benfica e o Futebol Clube do Porto, longe das excelentes condições que habitualmente proporciona para a realização de um jogo de futebol. Claro que a modalidade foi inventada na pluviosa Inglaterra, ainda no século XIX, e é um desporto eminentemente de ar livre. Porém, e bem, a natural evolução competitiva, táctica e física, desaconselha a utilização de relvados em muito mau estado, tendo em conta o valor superior da saúde e segurança dos atletas. Mas em diferentes momentos do jogo de domingo, e perante os intensos dilúvios que têm caído um pouco por todo o país, dei por mim a pensar na falhada cimeira de Copenhaga e, mais importante, nas alterações climáticas que mudarão a face do planeta a curto e médio prazo e, inevitavelmente, do próprio futebol. Sem querer alinhar numa visão catastrófica, considerei então ser indiscutível que também este fenómeno já sentido à escala global, acabará por trazer alterações evidentes à prática desportiva disputada ao ar livre. E não falo apenas em arquipélagos como os de Tuvalu ou das Maldivas, em risco de verem o seu território literalmente erradicado deste nosso mapa mundi. Mesmo no nosso burguês conforto europeu, e perante a radicalização de uma crescente alternância entre nevões imprevisíveis, pluviosidades intensas e secas extremas, divaguei um pouco sobre o que acontecerá aos calendários competitivos, aos próprios treinos e, claro, aos belos relvados naturais que agora conhecemos como palco do futebol de alto nível. Será que estamos condenados à relva artificial? Será que conseguiremos inventar algo que resista a condições atmosféricas extremas? Terão os recintos de ser integralmente tapados? E será que isto não irá mudar a face do futebol, tal como o conhecemos agora? Interroguei-me, assim, se os meus netos irão ver o mesmo jogo que desde sempre me apaixona e como serão as condições de vida objectiva que terão de enfrentar a nível ecológico no seu quotidiano. E agora, tarde de mais para voltar atrás, há que não continuar a meter a cabeça na areia…
2 Mas o futebol e as suas incidências concretas influenciam igualmente o clima social e humano. Antes do jogo, alguns benfiquistas confessavam a sua «descrença», ao invés dos adeptos do Futebol Clube do Porto, plenamente confiantes. No final, assistiu-se a uma total inversão dos sentimentos. Sendo verdade que muito ainda há para jogar nesta época, é certo que a barreira psicológica do Natal, ou de fim de ano, apresenta-se plenamente favorável ao Benfica, como não se via já de há alguns anos a esta parte. Pelo contrário, no campo portista começa a ser cada vez mais visível a contestação, justa ou não, a algumas opções do técnico Jesualdo Ferreira e à política de contratações do clube. E estes são factores que permitem prever uma segunda volta da Liga muito disputada e sempre pautada pela grande surpresa da temporada, o Sporting Clube de Braga de António Salvador e Domingos Paciência, equipa embalada por um crescente entusiasmo da cidade e da comunidade bracarense. Embora já muito afastada da luta pelo primeiro lugar, acredito contudo que a equipa do Sporting, ao contrário do que por aí se vai dizendo, fará uma grande segunda volta nesta Liga, exercendo um papel determinante na divisão de pontos e no condicionamento psicológico e desportivo dos seus adversários. Por tudo isto, julgo que teremos uma interessante disputa até Maio, mesmo nas vésperas do Mundial da África do Sul.
3 Quase inacreditável é a reserva de admiração que o jovem Lionel Messi sofre no seu próprio país natal. A Europa e todo o Mundo curvaram-se perante a categoria e o exemplo profissional do astro do Barcelona que herdou do nosso Cristiano Ronaldo o título de melhor do mundo. Mas, seja pelo golo que marcou à equipa argentina que disputou com o Barcelona a final do Mundial de clubes, seja por outra coisa qualquer, o certo é que o título de melhor desportista argentino do ano acaba de ser atribuído a Del Potro, um excelente tenista, mas apenas 5º no ranking mundial ATP. Sabe-se, de há muito, que santos da casa não fazem milagres… Mas o nacionalismo, na sua faceta exacerbada, apenas contribui para que, neste caso, esteja a ser cometida uma grande injustiça sobre um dos mais fantásticos e criativos futebolistas que emergiram nos últimos anos.
4 Mas, hoje e agora, sentimos os ecos da alegria do nascimento do Deus Menino que em Jesus se fez Homem e portador do inestimável dom da Paz. A Mensagem do Natal é da mais belas elegias ao amor e à solidariedade. Para nós, cristãos, todos sentimos a verdade de sermos membros de um só corpo, filhos do mesmo Pai e irmãos em Cristo Jesus. Esse sentimento, verdadeiro, autêntico, expresso em tantas e tantas formas, é um alimento de esperança que nos faz enfrentar as enormes dificuldades que se adivinham com a serenidade possível. E também no desporto — semeado hoje em dia por tantos fenómenos de violência, de agressividade, de corrupção e assolado pelo flagelo do doping, como se a vitória, por si só, fosse o princípio e o fim de tudo — precisa de sentir a essência da beleza impar desta mensagem natalícia. A reaproximação dos homens pelo desporto, o reencontro das virtudes fundadoras do olimpismo, a redescoberta das virtudes libertadoras da prática desportiva serão decorrências de uma visão da sociedade e do Mundo como nos foi revelada naquela noite em Belém. É, pois, com a convicção que está nas mãos e na vontade de todos e de cada um renascermos em cada dia para uma vida de paz, de fraternidade e de solidariedade, que desejo a todos os desportistas Boas-Festas e um Ano realmente Novo.
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