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09 dezembro 2009

A alegria simples do regresso



Por Jacinto Lucas Pires in JN


A alegria benfiquista é a do regresso a casa, do regresso à normalidade, do regresso à rotina, quase: quatro golos, quatro bolas no lugar devido, mais quatro secos. Desta vez, a prenda calhou à Académica, no ambiente épico da Luz sob uma chuva primordial.

O regresso à normalidade do Glorioso (e, claro, a normalidade do Glorioso só pode ser a glória) passa muito pelo regresso de Cardozo. O nosso paraguaio preferido, sendo uma anti-estrela de desarmante humildade e palavras curtas, é um matador dos mais eloquentes. No momento X do remate, sabe a arte difícil de atirar sem flores nem complicadismos. Ao contrário do que alguns sugerem, o melhor matador não é o que chuta por instinto, logo-logo. Sim, é preciso atirar rápido e “sem pensar”, mas antes há que respirar fundo, esfriar a cabeça e dizer para dentro “calma, meu”. Aí é que está o segredo, não é Óscar? E depois, bum, tiraço lá para dentro, adios, bye-bye. Três! Três é a conta que o homem fez.

Mas este regresso às goleadas também se explica olhando para trás, para a defesa, para quem segura a “zaga”, para quem sabe que o carisma e a autoridade ainda valem mais do que pernas e sangue na guelra. Pois, falo de Luisão. O capitão, o grande faraó dos brasis e benficas, lidera o ataque a partir da nossa área, e é sempre mais complicado atropelar as equipas adversárias quando ele não está lá. Um mestre à antiga, um artista da contenção, um professor catedrático. (David, aprende, com um pouco desta sabedoria zen hás-de ser o maior central do mundo.) Bem regressado, Luisão! Obrigado especialmente pelo zero deles.

E como não falar daquele outro, o golo que falta? Maxi chega ali às esquinas da área e larga a bola para a frente; Saviola recebe-a, um toque económico de pé esquerdo, ajeitando e avançando de uma só vez. Como um grande poeta da simplicidade, uma palavrinha e dois belos sentidos. E agora, silêncio, por favor, amigos. Silêncio, que se vai dançar o tango. Um tango minimalista, só coração e dedos dos pés. Javier Saviola, nosso pequeno deus argentino, faz a chuteira entrar e sair debaixo da bola e esta, zás, muda-se em chapéu, folha seca, obra-prima. (Postal ao jovem poeta: basta veres isto com boa atenção.)

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