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07 novembro 2009

Entrevista a Vanessa Fernandes

Vanessa Fernandes abre o coração e explica pela primeira vez, ao DN, as razões que a levaram a quebrar uma longa relação de sucesso com os treinadores que tinha e com o Centro de Alto Rendimento do Jamor. Confissões de uma atleta para quem ganhar se tornou banal e que diz precisar de reencontrar a motivação.


Prescindiu dos serviços dos treinadores Sérgio Santos e António Jourdan, que a acompanhavam há vários anos. Já escolheu o novo técnico?
Neste momento não posso ainda anunciar um nome, até porque ainda estou a ponderar, mas vou resolver em breve esse assunto.

A escolha passa exclusivamente por si ou o seu pai tem uma palavra a dizer?
Aconselho-me com quem me é próximo, mas a decisão é minha.

O que a levou a mudar de treinadores e voltar a casa (Gaia)?
Há ciclos na vida de todos nós e o meu ciclo em Lisboa chegou ao fim. Vivi em Lisboa desde os 16 anos. Gostei muito, mas agora estava a ficar cansada e com muita vontade de regressar a casa. Vivi com o Sérgio e com o Jourdan momentos muito felizes, custou separar-me dos companheiros de treino, mas tinha que mudar, abrir um ciclo novo. Não digo que consiga fazer tudo sozinha, mas fui acumulando alguma experiência que vou complementar com o trabalho de outras pessoas e num ambiente do qual já tinha saudades.

Desligou-se também do Centro de Alto Rendimento. E agora, vai treinar onde?
Como disse, estava farta de estar longe de casa e agora vou fazer aqui [Gaia] o meu centro de treino. Também há por cá piscinas e pistas boas. Há óptimos locais para andar de bicicleta. Gosto de Oeiras, onde vivi, gosto de Lisboa, tenciono visitar de vez em quando os amigos, mas
é a este sítio que pertenço.

E também vai deixar o Benfica?
Nem se põe a questão!

Já foi assediada pelo FC Porto....
Há muito tempo. E como digo, a questão não se põe. O Benfica é o clube onde quero e vou querer estar. Além disso, dei a minha palavra ao clube, que tem sido de um apoio extraordinário.

Viveu um ano difícil e anormal tendo em conta o seu currículo. Desistiu em provas importantes.
Foram momentos muito tristes, sobretudo na Áustria e na Austrália, na Taça do Mundo. Também me custou falhar a prova de Madrid, porque me é muito querida. Consegui excelentes recuperações nessa prova e tenho boas memórias das cinco ou seis vezes em que saí vitoriosa. Foi, como disse, um ano muito difícil, que me obrigou a crescer e a olhar de outra forma. Foi um ano de reflexão, a nível pessoal e profissional.

E depois da reflexão, o que é que mudou?
A grande lição destes tempos é que em alta competição a cabeça tem que acampanhar o corpo. A força psicológica é tão importante como a boa forma física. E a verdade é que a seguir aos Jogos Olímpicos tive uma quebra anímica. Já tinha passado muitos anos de alta competição, já tinha ganho muitas Taças do Mundo, tinha muitas vitórias e, talvez por tudo isso, a motivação diminuiu. À mesma aplicação nos treinos, à mesma concentração nos estágios não correspondiam iguais resultados. Durante a prova sentia-me mal, sem ânimo.Como é proprio do meu feitio, decidi cortar o mal pela raiz, tomar uma decisão de fundo. Posso estar certa ou errada, mas fiz o que entendi ser o melhor para mim.

Ganhar sempre também cansa, é isso?
É um pouco isso, no sentido em que se banaliza a vitória. Ganhar perdeu sabor. Mesmo nos piores momentos, sempre competi para ganhar porque essa é a minha natureza. Mas sentia agora menos motivação. A partir de certa altura tornou-se claro que tinha que espairecer, parar um pouco.

Quais foram os piores momentos?
Quando me lesionei, em Fevereiro, e quando desisti, na Taça do Mundo da Austrália.

Como é que no momento lidou com o fracasso?
Debrucei-me sobre a bicicleta e fiquei a olhar para o mar. Pela minha cabeça passaram vários medos - medo de defraudar os amigos, os portugueses, os treinadores - e uma pergunta - será que ainda vale a pena continuar no triatlo, será que ainda sirvo para isto? Estava tão deprimida que não via uma solução.

Chegou a ponderar abandonar a modalidade?
Não cheguei a esse ponto porque fui sempre recuperando. Em grande parte à custa desses próprios momentos.

Os portugueses e os adversários olhavam para si como uma máquina infalível. O fracasso acabou por ser um alívio?
Eu nunca me considerei uma máquina infalível ou uma super-mulher.Nos Jogos Olímpicos de 2004 percebi que o triatlo ia ser a minha vida.Fiquei em oitavo lugar, um resultado óptimo, mas nessa prova pensei que queria estar mais na frente, queria ser uma das primeiras. Depois seguiram-se uns anos em que, confesso, me senti imparável.

Como era a vida nessa altura?
Era o triatlo. Vivia do gozo que me dava competir e ganhar. Era um vício e ficava lixada se alguém conseguia fazer melhor do que eu. Mesmo nas férias não conseguia relaxar.

Precisamente por ter a imagem de vencedora acha que não se deu o devido valor à medalha de prata que ganhou em Pequim?
A alta competição obriga-nos a pensar que ou é tudo ou é nada. Nunca quis passar a imagem de infalível, como nunca me incomodou que esperassem de mim sempre uma vitória. Os meus pais e os meus treinadores sempre me alertaram para a possibilidade de um dia chegarem momentos menos bons. Em Pequim não falhei. Claro que me ficou o remorso de não ter chegado ao ouro, mas o objectivo era uma medalha.
Remorso implica culpa. Não é uma violência para um atleta obrigar-se a ser responsável e muitas vezes a pedir desculpa por falhas do corpo que não controla?
A alta competição é dura. Mas eu digo remorso porque é da minha natureza lutar sempre pelo primeiro lugar. Acho sempre que posso ganhar.

Como é que viveu essa prova?
Houve ali um momento em que, muito sinceramente, me vi de fora dos três primeiros lugares. Depois, fui-me apercebendo que conseguiria lutar pelo terceiro, mas sabendo que ia ser muito difícil. Por fim, foi a cabeça que me empurrou para a medalha de prata. Mas fiquei sinceramente contente por ter perdido para quem perdi - a Emma Snowsill mereceu aquela medalha, aos 28 anos.

Tem uma relação próxima com essa adversária. Anteriormente, ofereceu um ramo de flores à mãe dela, apesar de também ter saído derrotada...
Foi uma homenagem às mães e à capacidade de sacrifício que têm pelos filhos. Como a minha mãe.

A sua fama de infalível levou algumas adversárias a dizer que competir com a Vanessa é lutar pelo segundo lugar. Era capaz de dizer isso no lugar delas?
Nunca o diria. É muito mau pensar isso. Ganhei a primeira Taça do Mundo numa prova onde estavam as melhores do Mundo. Abstraí-me e acreditei que podia ser ainda melhor do que elas. E fui.

Disse sobre si uma vez que se considerava "uma miúda cheia de sorte". Percebeu nestes dois anos que se calhar não é bem assim?
Quando disse essa frase referia-me aos meus pais, à sorte que tenho por os ter e por eles serem como são. E também me estava a referir à minha génetica - tenho sorte em ter este corpo.

Genética e muito treino?
Seis horas diárias.

O que é que a distingue de uma atleta normal, ou, se quiser, de que massa é feita um campeão?
Tenho duas características: sou perfeccionista e prática. Vou directa à meta sem grandes ziguezagues. Em tudo. E em tudo, odeio falhar.

Tem ganho muito dinheiro?
Já ganhei o razoável para ter a minha independência, mas ainda tenho que correr muito, se bem que nunca corri muito por dinheiro. O maior "prize-money" que recebi foi nos Estados Unidos. 60 mil doláres. E falhei duas provas de 200 mil doláres.

Parou, mudou de vida, regressou a casa e está de férias porque, disse, precisava de desanuviar". Desanuviou?
Pela primeira vez estou a desanuviar. Como disse, raramente as férias me ajudavam a descontrair. O triatlo nunca me saía da cabeça. Neste momento sim. Vou jantar com amigos, beber um copo, fico à conversa até à hora que me apetece, sejam cinco ou seis da manhã. Já aconteceu estar a entrar em casa e o meu pai estar a sair. Diz-me sempre o mesmo - "esse é que é o teu treino de hoje?". E eu rio-me. Estou de férias, ora. Estava mesmo a precisar de me descontrair. De passar também por isto.

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