1 Neste fim-de-semana, Portugal e Espanha estão a viver dois jogos apaixonantes. Ontem, tivemos o nosso Benfica-Sporting. Hoje, na Catalunha, teremos um vibrante Barcelona-Real Madrid. Ao longo da semana a importância destes dois jogos foi uma realidade quer na imprensa generalista quer, naturalmente, na imprensa desportiva.
Constatei tal importância a partir de Granada — um património mundial que vale a pena visitar de dia e à noite! — e numa semana em que o Barcelona cilindrou o Inter, de José Mourinho. Mas, mesmo em semana de Champions, as atenções concentravam-se nos dois confrontos deste final de semana. O que significa que, apesar do valor económico da Liga que dá milhões, as grandes disputas internas concentram as principais atenções. É o localismo que ainda domina, fruto da história e da proximidade, das disputas e das diversões, dos próximos e dos adversários, dos nós e dos eles. E em que a tradição nas famílias se sente, se pressente e percebe. Como bem entendi, ontem pela tarde, quando me despedi do meu neto, do Alexandre Maria. Com quase três anos já percebeu que o avô sofre e muito, pelo Benfica e que o pai, torce, o suficiente, pelo Sporting. Mas ambos com a consciência que o futebol é um espaço de liberdade e de alegria. Com momentos de dor, é claro. E de exaltação. Por tudo isto cada derby é um jogo vivido e sentido. São jogos em que há memórias ( e temos tantas, tantas mesmo!), em que a paixão é exagerada ( ou não seria paixão), que permite o humor (mas só humor), que suscita , em certos momentos, a consciência da humilhação. E em que temos sempre novidades. Aqui foi o primeiro derby de Carlos Carvalhal. Que já mostrou o seu dedo na constituição da equipa. Em Barcelona será o regresso pleno à competição do nosso Cristiano Ronaldo. E no final de cada jogo está um dos encantos do futebol: o de cada um, consoante a sua cor, ter visto o jogo à sua maneira. Mesmo que, afinal, a paixão se tenha que deixar ultrapassar, num realismo assumido, pela razão. O que é indiscutível é que cada derby tem um antes, um durante e um depois. Tem a antevisão, a visão e a conclusão. Ou em rigor, as conclusões. E tem, sempre, a atenção. Dos milhares nas bancadas e dos milhões, dos muitos milhões, que em diferentes partes do mundo acompanham os jogos dos clubes (das marcas) do seu coração. Mas sempre com a consciência que para muitos dos intervenientes a bola é tudo. Tal como, aliás, nos recorda, sempre, Alfredo Di Stéfano: «A bola de futebol deu-me tudo o que eu tenho na vida— obrigada, velha!» E este sentimento é tão real que este fantástico jogador não deixou de colocar na sua casa de Madrid uma inscrição bem sugestiva: «Gracias, vieja». Foi tudo isto que sentimos , ontem, a partir de Alvalade. E será tudo isto que sentiremos, hoje, a partir de Barcelona. Com a consciência que as audiências serão bem diferentes. Mas com a certeza que nos recordamos das vitórias e procuramos esquecer as derrotas.
2 Este Sporting-Benfica terminou com um empate sem golos. O que não é um resultado comum nestes derbies. Todos recordamos jogos com alguns golos, em certos instantes de muitos golos. Todos temos memórias de encontros polémicos em que a cor do golo não se compatibilizava coma percepção da falta. Mas aqueles que acreditavam que iria ser um jogo de muitos golos não acertaram . Aqueles que diziam que não seria um jogo determinante têm razões para estar contentes. Aqueles que protagonizavam uma necessária redução da distância pontual do Sporting para a liderança da Liga terão que esperar por outra oportunidade. Aqueles que profetizaram o princípio da queda do Benfica, de Jorge Jesus, já perceberam que não acertaram. Aqueles que desconfiaram da indicação da Comissão de Arbitragem para a direcção do jogo, aceitarão que foi um exibição sem casos perturbantes. Foi, sim, um jogo em que a táctica venceu. Melhor: em que venceu a concentração. Houve acção permanente por parte do conjunto dos jogadores. Houve oportunidades para ambos os lados. E houve pressão. É que «futebol sem pressão é pelada». E neste derby houve corpo, houve luta e, até, houve, como no caso de Javi García, heroísmo. Agora é o tempo da reflexão. Do que se poderia ter feito e não foi. Do lance que se desperdiçou ao lance em que não se combinou devidamente. É o nosso tempo, depois do apito final, do treinador do sofá. Que é, também, um dos sortilégios deste futebol. Que junta todos na análise. Jovens e menos jovens. Homens e cada vez mais mulheres. De todas as raças e credos. De todos os espaços e origens. Ontem, em Alvalade. Com o nosso intenso localismo. Hoje, em Barcelona, com a certeza de um imenso globalismo. De Messi a Cristiano Ronaldo. Da disputa de duas cidades: Barcelona e Madrid. Com a convicção comum, seja em Alvalade seja em Camp Nou: «Beleza no futebol é fundamental!»
3 Nestes tempos complexos temos que agradecer, em cada dia, o sentido comum da vida. E partilhar as angústias das famílias daqueles que sofrem. Permitam-me que deseje um rápido e total restabelecimento a dois homens diferentes e que sentem de forma diversa o futebol. Um é profissional, treinador profissional: Manuel Machado. O outro é um adepto comum e um conselheiro a exercer funções de imensas responsabilidades, o juiz- conselheiro Mário Mendes. A ambos um rápido regresso às suas actividades e funções.
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