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12 outubro 2009

Entrevista a Fábio Coentrão no Jornal "O Jogo"


"Agora sou um menino bem comportado"

Por ANA PROENÇA in O Jogo

Começou a entrevista a dizer que estava com pressa. Mas assim que as perguntas começaram a rolar, deixou-se ir, sem olhar uma única vez para o relógio. Fábio Coentrão revelou-se um bom conversador. E está, realmente, um homem...



Sente que esta é a época da sua afirmação e de ruptura com o passado?
Sim. Sinto-me bem, a idade também permite isso. Foi bom ter sido emprestado estes dois anos, para conhecer coisas novas e ver o que era o futebol. Isso fez-me pensar. Não foi fácil ser emprestado e voltar da maneira como o fiz. Mas com a minha força de vontade e trabalho consegui.


Já não é um menino rebelde?
Não [risos]. Agora sou um menino bem comportado.


Mas a que se deve, em concreto, esta boa época?
Ao meu trabalho e às pessoas que estão ao meu lado, nomeadamente a minha família. Depois também tive a sorte de chegar ao Benfica e encontrar um grupo que me apoiou bastante. Todas essas pessoas foram fundamentais para o meu crescimento, tenho de lhes agradecer muito.


Está a fazer boa época mas está, ao mesmo tempo, tapado por Di María.
Não, eu não me sinto tapado. Em 11 jogos, participei em 10 e tenho quase 500 minutos em campo. Acho que isso não se chama estar tapado...


Mas falta-lhe ser titular...
É verdade. Mas isso aparece com o tempo. Só tenho de trabalhar e continuar como estou. Acho que tenho ajudado o Benfica e isso é o mais importante.


Em Maio, disse que era melhor do que Di María. Ainda acha?
As pessoas entenderam mal. Perguntaram-me se me achava melhor do que o Di María. E eu não vou estar a dizer que sou pior do que outro jogador. Se eu não me defender quem me irá defender?


Tentou, de certa forma, também reclamar o seu lugar, não?
Sim. Sei que Di María tem muitas qualidades, mas eu também as tenho. Não me rebaixo à beira de ninguém, pelo contrário. Vou trabalhar todos os dias até apanhar o meu lugar no onze. Não tenho medo de ninguém.


Não amua se não joga?
Claro que não fico contente. Mas em Leiria, por exemplo, não joguei, mas a equipa ganhou e eu estava mesmo muito feliz. O mister achou que eu não fazia falta naquele jogo, eu compreendo. Cheguei aqui no dia seguinte e ainda treinei mais.


Acha que os jogadores portugueses são desvalorizados em relação aos estrangeiros?
Isso sempre foi assim, mas com este mister não acontece. Joga quem merece. No caso do Di María, muitos clubes estão interessados nele e o Benfica tem uma boa oportunidade para ganhar dinheiro. Ele tem demonstrado grandes qualidades, é um jogador fantástico e está a cumprir o seu papel.


Qual a sua relação com Di María?
Damo-nos muito bem. Estamos sempre na brincadeira.


Mas considera-o um amigo?
Sim. Todos aqui somos amigos. Admiro este grupo por causa disso: somos 26 e damo-nos todos muito bem, estamos sempre na palhaçada. E este ambiente é que nos leva a estes bons resultados.


Não há grupinhos?
Não. Este grupo é ideal para que o Benfica alcance, esta época, todos os seus objectivos.


Surpreendeu-o a oportunidade que lhe deram de integrar o plantel?
Não é por ser Jorge Jesus o treinador que estou no plantel. Estou aqui pelas minhas qualidades e pelo que trabalhei na pré-época. No fim da época, no Rio Ave, sentia que podia jogar num nível mais acima. Mas, claro, que tenho de agradecer ao treinador. Ele apostou em mim, ao contrário de outros anteriores.


Mas estava ou não à espera?
Sempre disse à minha família que este iria ser o meu ano no Benfica e, graças a Deus, está a ser. Nunca tinha tido esta força interior. Nas outras épocas andava sempre mal. Se amanhã tinha jogo, hoje chegava a casa com as lágrimas nos olhos por não ter sido convocado. A minha família andava toda triste e eu não tinha força de vontade. Agora, sinto-me com muita força, quero é treinar e jogar.


Quando regressou do Saragoça, disse que houve alturas em que não soube ser homem. Referia-se a quê?
Mesmo quando vim para cá o Benfica pela primeira vez, era ainda um miúdo. Existe uma diferença muito grande entre o que sou agora e o que era nessa altura. Acho que não era homem nesse tempo, não sabia sê-lo, não conseguia ver o que era melhor para mim. Ponho-me a pensar e chego à conclusão de que estou totalmente diferente, muito mais maduro.


Houve conselho de outra pessoa que o tenha marcado em especial?
Muita gente deu-me bons conselhos. No Rio Ave, o Lima Pereira, por exemplo, foi meu treinador nos juniores e deu-me bastantes conselhos, disse que eu era grande e ia chegar longe. Aqui no Benfica, o Rui Costa também me deu sempre bons conselhos. Não foi uma, nem duas, nem três pessoas, a dizerem que tinha qualidade. Isso ajudou muito.


No começo da sua carreira, foi comparado a Figo, Ronaldo e Quaresma. Acha que pode chegar a esse patamar?
Tenho a certeza que vou lá chegar. De qualquer forma, já é muito bom o patamar em que estou. Quem me dera ter pernas para aguentar até ao fim da minha carreira no Benfica. Gostava de ter uma carreira como a do Nuno Gomes, que chegou ao clube ainda miúdo e hoje já tem 33 anos.


Mas qualquer jogador ambiciona ir para um grande clube da Europa.
Sim, mas eu já estou num grande clube. Porque hei-de querer mais? Se for bom para mim e para o Benfica, até posso ir para fora. Mas não me preocupo com isso, pois já estou num grande clube.

1 comentários:

que orgulho de menino...desculpa...homem.

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