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13 outubro 2009

Crónicas


Calabote. Ou Inocêncio, pelo menos no nome

Há 50 anos foi irradiado o primeiro árbitro no futebol português. Inocêncio Calabote esteve no jogo em que o Benfica perdeu o campeonato. Por um golo

in ionline.pt


Calabote. É um apelido estranho mas ideal para virar sinónimo de falcatrua, de arranjo, de encomenda. Deve ser porque tem a fonética de calote ou o "c" de cambalacho. Calabote foi o árbitro que deu nome ao maior caso na história do futebol português. E escrevemos maior porque virou mito, exemplo, não porque outros não o tenham superado na gravidade. É maior porque apesar de ainda ser discutido, foi brevemente julgado e resolvido pela lei desportiva sem meter escutas, café ou fruta, apenas devido a um processo disciplinar. No final, Inocêncio Calabote não conseguiu provar a sua inocência e foi o primeiro árbitro irradiado neste país. Há precisamente 50 anos.

A história está a virar livro, publicado lá para o final do ano. E claro, pega no célebre Benfica-CUF de 22 de Março de 1959, última jornada do campeonato à qual o clube encarnado chegou na frente, em igualdade pontual com o FC Porto, que jogava em Torres Vedras. Só a vitória interessava às duas equipas e o desempate seria feito pela diferença de golos que, antes do jogo, era favorável aos dragões (78-22 contra 71-19). Fosse como fosse, para ser campeão o Benfica teria de marcar mais quatro que o FC Porto.

Casa cheia, as movimentações começam, na Luz faz-se tudo: a bola rolava a Oeste há oito minutos quando Calabote apitou para o arranque. A CUF e o árbitro estavam no relvado mas o Benfica tinha atrasado ao máximo a entrada em campo, para jogar com os acontecimentos do FC Porto-Torreense. O plano até parecia correr bem, porque ao intervalo o Benfica ganhava 4--0, mas a segunda parte evoluiu de forma dramática: quando o marcador já mostrava 7-1 na Luz, em Torres Vedras Noé fazia o 2-0 para o FC Porto, deixando tudo empatado. A 20 segundos do final, Teixeira fez o 3-0 para os dragões e deu o título ao FC Porto por um golo. Quer dizer, pelo menos esperava que assim fosse porque em Lisboa o jogo nunca mais acabava - o atraso inicial e os descontos contabilizados por Calabote (uns seis minutos) terão provocado uma diferença de um quarto de hora entre o final dos dois encontros.

Foi o tempo que matou a inocência de Calabote. Nem sequer foram os três penáltis assinalados a favor do Benfica (só um deles discutível, dizem as crónicas de então). No relatório, o árbitro de Évora escreveu que o jogo tinha começado às 15 horas e terminado às 16h42, mas foram tantas as testemunhas em contrário, no estádio ou em casa, junto aos rádios, que a Comissão Central de Arbitragem entendeu-se traída. "Tanto o atraso como o prolongamento não constituem, em si mesmos, ínfima matéria de culpa. O erro do sr. Calabote consistiu em pretender convencer-nos, contra as evidências dos factos, de que principiara o encontro às 15h precisas e de que o prolongara por dois minutos apenas. É aqui, nesta atitude escudada e incompreensível, que o antigo árbitro eborense deixa de merecer a confiança do público e da CCA." As palavras são de Coelho da Fonseca, o homem forte da arbitragem de então. Estava ferida de morte a reputação de Inocêncio Calabote, o mesmo árbitro que a Comissão Central de arbitragem tinha considerado o melhor do país (1952-53) e indicado à FIFA como internacional (1953-54 e 1956-57).

O relógio da Sé de Évora Inocêncio Calabote nunca se deu como culpado. Garantiu que o seu relógio não se enganava porque era acertado pelo da Sé de Évora. Manuel Fortunato, um dos seus fiscais de linha, argumentou depois que foram precisos uns três minutos para afastar os fotógrafos que atrapalharam o início da partida. 30 anos depois, numa entrevista ao jornal "A Bola", Calabote ainda defendia o seu nome. Que afinal também é Inocêncio. "Se escrevi no relatório que prolonguei a partida durante quatro ou cinco minutos foi porque entendi que o devia ter feito e porque foi esse o tempo que o meu relógio realmente marcou. E qual é o relógio que conta?", disse. Mais. Calabote queixou- -se de perseguição da nova liderança da arbitragem, devido a casos antigos. "O presidente anterior veio a Évora avisar-me e disse-me: 'ponha-se a pau, que a Comissão que entrou vem com intenções de o irradiar'." E assim foi, premeditado ou não.

2 comentários:

Esta questão já foi esclarecida. No site do benfica está publicado um documento onde isto é explicado.
(http://www.slbenfica.pt/incslb/pdf/verdadesdeturpadas1.pdf)

árbitros que casualmente beneficiam o Benfica com atrasos no inicio do jogo são irradiados, enquanto árbitros com viagens, fruta e cafezinhos pagos quase que não lhes acontece nada!

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