Pesadelo vermelho
Por FERNANDO GUERRA in A Bola
É o Sporting de Braga o dono do primeiro lugar da classificação, dois pontos acima do Benfica e cinco do FC Porto. Há um ano, também com sete jornadas cumpridas, o panorama apresentava duas diferenças: era o Leixões quem liderava, com o Benfica a um ponto e o FC Porto a cinco. Portanto, além de outro comandante provisório, a única variação prende-se com o encurtamento em um ponto na desvantagem da equipa de Jesualdo Ferreira em relação à de Jorge Jesus.
Não será possível, por isso, através deste breve exercício, descortinar explicação razoável para a inesperada alteração comportamental do presidente portista. Do ano passado, em situação ligeiramente mais problemática (quatro pontos de atraso), não há sinal de comentários com direito a registo nas nossas memórias, mas agora, por motivos que escapam, parece ter tido um despertar agitado vai para duas semanas.
Misteriosa reacção esta, por certo causada por medonho pesadelo, ainda por cima vermelho, que desde então tem subordinado o sentido das suas intervenções, como a que protagonizou no último fim-de-semana em que, num quadro de absoluto despropósito, e quando pretendia assinalar uma data de referência para o emblema do dragão, precisou de se pendurar nas asas da águia, adversário de estimação, para descarregar a inconveniência do discurso, no estilo e no conteúdo, gasto de tanto repetido, onde a ironia se disfarçou de piada fácil, apenas para consumo em inaugurações, festas e jantares.
Resquícios da pequenez que sempre caracterizou a sua política de conflitualidade, avessa à serenidade, à sensatez e à clareza, que tanto se reclamam para o futebol português, e ao mesmo tempo castradora do reforço da expansão portista. É notável o sucesso desportivo durante o seu magistério, mas tudo começa e acaba. Ora, como se adivinha a iminência de transição de ciclos a dúvida é saber como será quando abrandar a chama aglutinadora dos títulos. Quem vier a seguir que se amanhe...
PINTO DA COSTA deu muitas vitórias ao FC Porto mas não autorizou que ele crescesse quanto podia ou não considerou suficientemente relevante essa evolução; isto é, a de transformar um grande clube de implantação regional num outro de dimensão verdadeiramente nacional. Este salto teve condições favoráveis para ser dado, ou tentado, pelo menos, imediatamente a seguir à vaga de simpatia azul e branca que alastrou um pouco por todo o País em 2003, quando da conquista da Taça UEFA, em Sevilha. A ordem foi para travar, contudo, em obediência ao canhestro pensamento de «todos contra nós»...
Aliás, o FC Porto deve ser o único clube que ganha uma Liga dos Campeões e, em vez de festejar com a exuberância que o feito justifica, opta por destapar desavenças internas com o objectivo de desvalorizar o trabalho do treinador José Mourinho, o qual, recordam-se?, no regresso da Alemanha, abandonou o aeroporto pela porta do lado por forma a evitar encontros indesejáveis com a facção mais descontrolada de obediente claque. E quando se privilegia o choque de protagonismos e se diminui o significado do triunfo na mais destacada prova do continente europeu, chega-se à conclusão que o problema reside nas mentalidades, luminosas mas curtas. Engolidas pela eficácia da máquina futebolística por elas gerada...
CONTINUA por decifrar o enigma que envolve esta súbita obcecação de Pinto da Costa pelo que se passa trezentos quilómetros a sul. Será por o Benfica estar mais forte e a jogar bem? Será por Jorge se chamar Jesus e não Flores? Provavelmente, mas não é só. Às preocupações de fora acrescentam-se as de dentro trazidas pelo advento do processo de sucessão.
Talvez ele sinta a necessidade de fazer ou dizer qualquer coisa para fixar a confiança dos que ainda o seguem até de olhos fechados. Cada vez em menor número, porém, de que o resultado da eleição autárquica no concelho do Porto constitui a prova mais recente...
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1 comentários:
Grande comentário de Fernando Guerra.
Parabéns por trazê-lo aqui neste cantinho.
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