Justiça lhes seja feita
Por LEONOR PINHÃO in A Bola
EM índole e organização, portugueses e alemães parecem-se pouco, não é verdade? Mas, surpreendentemente, regista-se neste preciso momento uma aproximação no campo da bola. Das duas, uma: ou é o futebol português que está a chegar aos calcanhares do futebol alemão ou é o futebol alemão que está a atingir o nível intelectual do futebol português. Acontece que as duas Ligas nacionais, a Sagres e a Bundes, competem entre si no número de treinadores despedidos às primeiras jornadas.
O facto, entre nós, é corriqueiro ainda que pareça excessivo, em apenas sete rondas, já haver cinco treinadores mandados embora: Ulisses Morais, da Naval, Carlos Azenha, do Vitória de Setúbal, Carlos Carvalhal, do Marítimo, Rogério Gonçalves, da Académica, e Nelo Vingada, do Vitória de Guimarães. No campeonato alemão, com oito jornadas disputadas, coisa mais rara, são quatro os clubes que mudaram de treinador: o Mainz, o Bochum, o Hannover e o Hertha de Berlim, adversário do Sporting na Liga Europa.
Em Espanha, França e Inglaterra não há treinadores despedidos, embora haja, naturalmente, últimos, penúltimos e antepenúltimos classificados nas respectivas tabelas e massas adeptas preocupadas e descontentes, como não poderia deixar de acontecer. Já no campeonato holandês, neste arranque de época, só por uma vez estalou o chicote e a vítima foi o treinador do Heerenveen, adversário do Sporting na Liga Europa.
Situação curiosa, sem dúvida.
O Sporting lidera o seu grupo na Liga Europa com uns invejáveis 6 pontos, mercê das duas vitórias que averbou nos dois jogos disputados, e os treinadores das equipas adversárias, a alemã e a holandesa, não resistiram às derrotas com a equipa portuguesa, facto, porventura, considerado intolerável pelos dirigentes e pelos adeptos quer do Hertha de Berlim quer do Heerenveen. E lá foram os dois treinadores despedidos.
Terão consciência os adeptos do Sporting que, no final do jogo com o Belenenses, tanto assobiaram Paulo Bento e tantos lenços brancos lhe acenaram, que o treinador tem sido o maior despedidor de colegas a nível internacional? E será isso motivo para quererem mandar embora Paulo Bento, a quem os sportinguistas tanto devem?
O silêncio dos responsáveis directivos do Sporting sobre este assunto é esclarecedor. No sentido em que esclarece a ausência total de uma ideia de discurso racional que seria conveniente aplicar nesta altura em que, para mais, o campeonato nacional vai ser interrompido permitindo que o incómodo fique a marinar por quinze dias, o que não é bom.
José Eduardo Bettencourt, que é o presidente, parece ser dono e senhor de um reportório desastrado de tiradas, poucas mas más.
Defender Paulo Bento reclamando a primeira vitória em mais de um século sobre uma equipa alemã é, apenas, justificar o despedimento do treinador do Hertha de Berlim e não era, certamente, para os adeptos do Hertha que Bettencourt falava.
Atacar o Benfica com nomes feios e desmerecer o valor dos jogadores do Benfica poderá satisfazer, naquele segundo, os adeptos leoninos mais anti-benfiquistas primários — são todos, segredam-me ao ouvido… —, mas revela um nível muito básico de conversa e uma incapacidade de lidar, por cima, com a situação.
Os sportinguistas que estimam e defendem Paulo Bento, e ainda são bastantes, apontam como factor de desgaste da imagem do seu treinador dar-se o caso de, no Sporting, ser só Paulo Bento a dar cara pelo clube e a falar quando os ventos estão contrários.
E percebe-se porquê. Em defesa do Sporting, o treinador, justiça lhe seja feita, fala muito melhor do que o presidente.
O Sporting de Braga segue isolado na frente, com sete jogos e sete vitórias e já ganhou ao Sporting e ao FC Porto. É notável. Queixa-se o presidente do Sporting de Braga que a imprensa liga pouco a este feito e que, lendo os jornais, mais parece que é o Benfica que lidera o campeonato.
António Salvador tem carradas de razão. Mas a culpa não é do Benfica que lá segue o seu caminho ainda periclitante e que, depois de uma exibição medíocre em Atenas, arrancou uma exibição convincente em Paços de Ferreira e os respectivos três pontos.
O que faz dar a ideia de que o Benfica lidera é, por exemplo, o facto de na última semana os dois presidentes dos grandes clubes rivais terem vindo a terreiro pronunciar a palavra Benfica para animarem as suas hostes que, se olharem para a tabela, ainda estão mais longe do Sporting de Braga do que o Benfica, neste momento, está.
Curioso concerto de Pinto da Costa e de Bettencourt no que toca à necessidade interna de alfinetar o Benfica que lhes segue na frente ainda que a procissão só vá no adro.
O presidente do FC Porto, que parecia arredado dos palcos, veio a público agradecer ao Benfica a contratação de Falcao, talento colombiano descoberto e perdido pelos da Luz. É uma graça óbvia e tardia porque desde que Falcao chegou ao Porto e começou a marcar golos não houve, com certeza nenhum adepto portista que não agradecesse ao Benfica a benesse concedida.
Surpreende, assim, ver Pinto da Costa chegar muito atrasado a uma piada que já vinha sendo trocado entre portistas e benfiquistas há umas longas sete semanas. Mas, enfim, é a vida…
Enquanto isto, Cardozo e Falcao continuam taco-a-taco a protagonizar uma luta de grande nível pela liderança da tabela dos marcadores. Vai o benfiquista na frente, com 8 golos marcados e 2 grandes penalidades falhadas, seguido pelo portista com 7 golos marcados e uma grande penalidade desperdiçada. Só se incomoda com isto quem se desabituou de assistir a lutas taco-a-taco até ao fim da contenda e quem se habituou a ter por Novembro tudo muito bem resolvidinho.
Voltemos ao Sporting de Braga que bem merece a atenção que não lhe prestam alguns dos seus perseguidores. Mas António Salvador vai ter de ter paciência. O presidente do Braga só poderá ter a certeza que é mesmo um candidato ao título quando ouvir Pinto da Costa e José Eduardo Bettencourt a atirarem-se ao Braga em termos públicos e vagamente ofensivos.
Justiça lhes seja feita que já vão, se calhar, atrasados.
Opresidente da FIFA não está preocupado com a hipótese, nada remota, de as selecções de Portugal e da Argentina poderem falhar a qualificação para o Mundial do próximo ano, o que significaria, em termos práticos e do comércio, a ausência dos dois indisputados melhores jogadores do mundo, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, do torneio da África do Sul.
— Se eles não estiverem, vão aparecer novas estrelas — disse Joseph Blatter.
Sim, está bem, mas não é a mesma coisa.
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