Factos e protagonistas: A boa luz
Por Fernando Seara in A Bola
1-) Como compreenderão, não posso hoje esconder o gáudio que assola a minha alma benfiquista. A memorável noite a que assistimos na quinta-feira passada fez-me regressar às minhas infância e juventude, às noites mágicas, às célebres noites europeias que eram clarões de brilho que resplandeciam do Estádio apropriadamente designado da Luz. Sabemos todos que hoje os intérpretes são outros, como sabemos que os tempos são outros. Mas, nós benfiquistas, que passamos e sofremos tanto, reencontramo-nos perante a alegria contagiante deste punhado de jogadores que parece devorar a bola, sôfregos de glória, de reconhecimento e de triunfo. Sentimo-nos elevados ao céu, nos píncaros deste mundo cruel, que nos dá tão poucas razões para sorrir.
Conhecemos os repisados argumentos dos tradicionais detractores: o Everton jogou desfalcado, deu muitas facilidades, a defesa inglesa não existiu, etc., etc. Como se, num jogo de futebol, não fossem as forças de um a provocar as fraquezas do outro, ou como se o aproveitamento das debilidades do adversário não constituíssem mérito próprio, digno de registo e de reconhecimento.
Vá lá que a tese de que esta sucessão de resultados não passa de um mero «fogacho» se vai apagando. Não o fogacho, mas a tese. E de jogo para jogo todos vamos percebendo que há muito trabalho desenvolvido, muito treino de articulações e combinações, muita pedagogia e muita proximidade, muito espírito de equipa, muito trabalho psicológico e muita alma de vitória.
E, claro, depois a classe indiscutível de jogadores que valorizam de sobremaneira o Benfica e a Liga Portuguesa. Saviola, Aimar, Cardoso, Luisão, Javi Garcia, David Luiz, Maxi Pereira, Di María, fenómenos de recuperação futebolística a alto nível como Fábio Coentrão e Carlos Martins, e a confirmação de outros como Quim, Ruben Amorim e César Peixoto, sem desprimor para todos aqueles que, em momentos-chave, como Nuno Gomes ou Pedro Mantorras, alimentam a alma e suscitam alegria nas bancadas da Luz.
Jorge Jesus vai dando lições. De táctica, de técnica, de gestão de recursos humanos, mas, sobretudo, de humildade. No final do jogo não o vimos nem arrogante nem presunçoso. Porventura até o sentimos mais contido do que o costume no passado. Disse o que tinha de ser dito. Avisou que não merecia grandes encómios porque nada estava definitivamente ganho. Que o caminho era longo e os percalços aparecerão, mais tarde ou mais cedo, irremediavelmente. Que tudo se faz e se conquista com trabalho. Que os golos animam a equipa e os adeptos, mas é pela soma dos resultados que se alcança a vitória final. Também aqui, Jesus temperou as euforias e tentou que o Povo Benfiquista regressasse um pouco à terra. Mas, há que convir que é difícil fazê-lo com este tipo de exibições que se vão repetindo.
Ando muito pelas ruas. Vejo e falo com muita gente. A alegria estampada nos rostos dos benfiquistas é de uma luminosidade tal como há muito se não via. A responsabilidade da equipa em alimentá-la é grande. Mas queda já a gratidão desta reaquisição do nosso orgulho colectivo de adeptos de um clube com alma e chama de campeão. E essa está lá. Hoje não tenho dúvidas.
2-) A lesão prolongada de Pedro Mendes é uma má notícia para todos nós. Mas antes de mais para o próprio jogador. Quem assistiu aos jogos desta nossa renovada Selecção não ignora a importância pendular deste jogador. A sua eficácia, o seu sacrifício, a sua irrepreensível concentração e o seu rigor táctico foram características muito importantes nos últimos jogos da nossa Selecção. Será uma contrariedade que se espera não afecte a nossa presença na África do Sul. Está à beira de acontecer o quase milagre. E este deve-se à persistência e à resistência de um grande senhor do futebol que dá pelo nome de Carlos Queiroz.
3-) Curioso este fenómeno denominado Pedro Mendes. Discreto, parecia passar ao lado dos grandes palcos, vítima da sua personalidade anti-vedeta que constituiu handicap para muitos outros jogadores (veja-se o caso paradigmático de Pauleta no futebol português). Por outro lado, jogadores exuberantes que tiveram tudo e que se foram apagando num anonimato triste. Lemos agora que Quaresma, um desses jogadores — e que grande jogador foi e poderia ter sido — é pretendido pelo Nápoles. Esperemos que aí reencontre a boa luz que o faça de novo brilhar e a nós todos com ele.
4-) É já conhecido o novo Governo. Não é este o espaço próprio para o comentário político. Os indicadores recentemente conhecidos são de uma acrescida preocupação. A crise internacional já não dissimula dados que não podemos ignorar. O desporto não deixará de ser afectado. A todos os níveis. No momento em que escrevo esta crónica ainda ignoro quem assumirá a responsabilidade do Desporto, nem a sua inserção na orgânica do Governo. O certo é que os novos tempos impõem sérias reflexões sobre o papel do Estado no Desporto. Sobre os mecanismos e instrumentos de regulação. Sobre a própria organização desportiva. E a percepção das limitações de recursos que nos afectam não permitem nem aventuras nem demagogias. A situação de sobre-endividamento de muitos clubes e SAD's, os processos de insolvência que não tardarão em aparecer vão constituir realidades dolorosas que, ou se atalham e previnem, ou, seguindo a política do avestruz, se deixam avolumar até ao limite do incontrolável. E aí não há boa luz que nos valha…!
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2 comentários:
Antes de mais Sr. Dr., felicito-o pela recondução no Cargo de Sua Ex.cia Presidente da Camara de Sintra.
Sempre simpatizei com a Sua forma de viver a vida...
Ultima hora:
Frente ao Nacional foram só 6-1.
Ópá, falhei por 3, tinha prognosticado em 9-0, que chatice :D :D :D
Quem vai ser campeão nacional?
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http://oladodofutebolquenuncaviram.blogspot.com/
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