O gesto é tudo
Por João Gobern in Record
Todos ralham e ninguém tem razão. Infelizmente, o dito popular aplicou-se, nesta parcela, ao Benfica-Nacional, em que a par de um excelente jogo, toda a gente decidiu pisar o risco. Começo por Jorge Jesus, por razões distintas: primeiro, é ele quem treina um "grande", o que o obriga a estar à altura da "instituição"; segundo, é ele quem vive em estado de graça, o que devia levá-lo a perceber que o grau de exigência de comportamento deve ser igual no triunfo e na derrota.
São, assim, indesculpáveis as suas provocações que, acredito, mais do que o banco da equipa adversária visavam diretamente o treinador Manuel Machado. Por tudo o que já fez - não ganhou nada, é certo, mas pôs a equipa a jogar à dimensão dos melhores sonhos -, pelos desafios e pela pressão que o esperam, Jesus tem que melhorar como homem o que cresceu como técnico. As suas explicações (dois dedos para os avançados, quatro para os defesas) valem um sorriso amarelo. Os seus gestos merecem condenação, não de um tribunal encartado mas de um júri popular que sabe que a superioridade se ganha em campo, não em "aspetos colaterais" ao futebol.
É verdade que passou muito tempo a ser provocado, mas as atenuantes não anulam as faltas, apenas as relativizam. E é certo que, em plena flash-interview, Manuel Machado deixou cair a máscara da superioridade, contando com a cumplicidade de um repórter à procura de "sangue fresco". A alusão a um "cretino" nem sequer condiz com o celebrado garimpo de vocabulário em que o protagonista é pródigo, antes se situa a um nível abaixo das suas pretensões professorais e pedagógicas. O que pode querer dizer que, em horas de aperto, o primeiro a desaparecer de campo é o verniz.
Da atuação do árbitro - cuja nomeação é tão contestável, no campo dos princípios, como a de Duarte Gomes para o FC Porto-Sporting -, outros cuidarão. Mas não passa despercebida a sua atuação ziguezagueante; foi um, enquanto houve possibilidade de dúvida, e outro, quando a vitória do Benfica se transformou em goleada. Como não passa em branco o desespero de alguns adversários de nomeada que, no meio da coleção de erros de Vasco Santos, só conseguiram fixar o momento da grande penalidade assinalada sobre Aimar. É um sinal. Outro: quando o Braga foi, por uma vez, prejudicado pela arbitragem (em Vila do Conde), pareceu por alguns discursos que tal se deveu a um favorecimento ao Benfica. Como se FC Porto e Sporting também não lucrassem com esse resultado e já tivessem desistido de lutar pelo campeonato. Falta só sinalizar as declarações "preventivas" de António Salvador, logo no sábado, sobre a semana que aí viria. Tudo junto, permite a conclusão: instalou-se a palhaçada. Mas esta não é para rir.
1 comentários:
Grandíssima crónica. Isso sim! O "pormenor" de "beneficiar" o Benfica quando o destino do jogo já estava arrumado foi bem visto e constitui um repertório gasto. Aliás, em anos anteriores quando o Benfica é severamente roubado em alturas cruciais, lá vinha uma pequena "ajudinha" quando a coisa já estava mais do que resolvida e vinha os treinadores contrários branquear a sujeira de uma época.
Como que se o roubo em Braga e na Vila do Conde nunca existiram...
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