«Temos de meter na cabeça que vamos ser campeões!»
in A Bola
Alguma vez pensou recuperar da operação em apenas quatro semanas, quando o departamento médico falava em oito?
— Sentia que podia ser possível se fizesse as coisas bem, com a ajuda de todos os elementos do departamento médico e do corpo técnico, aos quais quero agradecer pelo excelente trabalho. O futebol é uma profissão que exige dedicação a cem por cento, não consigo encarar as coisas de outra forma.
— Foi difícil ficar de fora?
— Há muitos anos que não tinha lesões e admito que foi muito difícil ver os meus companheiros a treinarem-se, a jogarem. Sofre-se mais porque queremos ajudar e não podemos...
— Pode regressar à equipa já com o Belenenses ou ainda é cedo?
— Estou às ordens do treinador e a decisão é dele. Sinto-me muito bem e confiante, só falta ganhar mais ritmo, mas isso vem com os treinos e a competição. Se o mister assim entender, estou pronto e com ganas.
— O que achou de Rúben Amorim? Aconselhou-o?
— Falámos muito e ele desempenhou muito bem a missão. É um jogador de equipa, sempre disponível para jogar com qualidade onde o treinador precisar.
— Sente-se um indiscutível?
— Não, não me sinto. Para ser indiscutível são necessárias muitas coisas e além disso todos os anos chegam novos e melhores jogadores, o que nos obriga a estar sempre num nível alto para agarrar o lugar com unhas e dentes.
— Curioso como se chegou a falar na possibilidade de não ter lugar no Benfica...
— O futebol tem destas coisas, tudo muda muito rápido: num momento estás mal, no outro és bom. Depende das circunstâncias. Acho que encontrei o caminho certo e quero continuar a percorrê-lo.
— Na época passada, entre Benfica e selecção do Uruguai, fez qualquer coisa como 50 jogos oficiais. Qual o segredo para tanta resistência e regularidade?
— Antes de mais é preciso ter a sorte de não ter lesões, mas também ter alguns cuidados especiais com o descanso. E trabalhar.
— Dá a sensação que as suas pilhas nunca se gastam. Chega a cansar só de ver...
— [risos] É a minha forma de jogar. Corro e dou tudo pela equipa. Há jogadores diferentes, mais posicionais, mas este é o meu estilo e tem dado frutos, por isso só tenho de continuar assim.
— Onde vai buscar forças para mais uma corrida, quando está cansado?
— Isso tem a ver com a cabeça de cada um. No meu caso, nunca me dou ao luxo de sentir-me cansado, pois cada lance pode decidir um jogo contra nós ou a nosso favor. É por isso que disputo todos os lances da mesma maneira, até ao último minuto.
— Não sendo um virtuoso, conquistou o carinho dos adeptos. Acha que vêem em si um pouco da tal mística que se perdeu?
— Os adeptos do Benfica gostam de jogadores que dão tudo pela equipa. Sabem que não podem esperar de mim coisas que outros jogadores fazem com a bola, mas deixo tudo em campo e eles valorizam isso. Como estrangeiro, é muito bonito sentir esse carinho.
— Esta é a terceira época no Benfica, mas dá a sensação que está no clube há mais anos...
— Eu também sinto o mesmo! É sinal de que as pessoas estão satisfeitas com o meu trabalho e, da minha parte, também me sinto muito tranquilo e feliz no Benfica. Oxalá possa ficar muitos anos.
— Com onze Maxis o Benfica seria campeão ou são precisos também os Aimares e Di Marías?
— [risos] Com onze jogadores iguais não poderíamos ser campeões, é fundamental ter outras qualidades como as de Cardozo, Di María, Aimar, Luisão, David Luiz e todos os outros. São as diferenças que fortalecem, pois uma equipa precisa de trabalhadores e de criativos. Acho que é por isso que estamos tão bem, somos equilibrados. Não se ganham jogos só com uma coisa ou outra.
— Foi capitão com o Sion, pela primeira vez. Que sentimento?
— Foi um sentimento lindo, apesar de ter sido apenas um amigável. Foi algo muito importante, uma daquelas recordações para mostrar aos meus filhos. Tocou-me muito, oxalá possa repetir-se.
— Sendo tão competitivo, como lida com as derrotas?
— Mal! Ainda por cima, quando chego a casa já sei que a família está mal encarada e triste. Esperemos que este ano isso não aconteça muito [risos].
— Tem-se falado do interesse de alguns clubes europeus na sua contratação. Houve alguma proposta ou abordagem informal?
— O clube não me disse nada, só sei o que li nos jornais. Estou muito tranquilo, não dou importância a isso, só penso em fazer as coisas bem aqui, onde me sinto bem.
— À terceira época na Luz será de vez, em relação ao título?
— Oxalá que sim! Vejo a equipa muito forte e confiante, sinto que vamos lutar até final pelo título, sem as quebras dos anos anteriores. É uma dívida que temos para com os adeptos, queremos festejar com eles. Temos de meter na cabeça que vamos ser campeões. Há jogadores que cresceram muito, casos de Di María, Cardozo ou Coentrão, e há no grupo uma vontade enorme de ganhar coisas importantes. Somos uma equipa difícil de bater e será complicado afastarem-nos da luta.
— Como é que os mesmos jogadores apresentam um rendimento tão superior?
— Isso também depende de cada equipa técnica, da forma como trabalham e motivam os jogadores. Acima de tudo há mais confiança individual e colectiva.
— Como tem sido trabalhar com Jorge Jesus?
— Tem sido muito bom. Gosto muito da sua forma de trabalhar, tem grande capacidade. Insiste muito nos aspectos tácticos e todos os jogadores têm aprendido muito com ele.
— É verdade que estabeleceu uma meta de apenas sete golos sofridos no campeonato?
— Sim. Ele fala muito connosco e estabelece muitas metas. Essa foi uma delas.
— A continuidade do Luisão foi importante?
— Sem dúvida. O clube fez um esforço por mantê-lo e isso é benéfico para o grupo, num ano em que apostamos forte em sermos campeões. Está nesta casa há muitos anos, tem presença e fala muito com os companheiros.
— Como foi ver o Benfica ganhar 8-1 ao V. Setúbal?
— Estive no estádio, foi fantástico. É daqueles jogos que acontecem uma vez em muitos anos, mas a verdade é que, esta época, quando o Benfica marca primeiro é muito difícil o adversário dar a volta. Os nossos opositores terão de estar sempre muito alerta. Somos uma equipa difícil de bater.
— Mas não acha que é preciso ter cuidado com o entusiasmo?
— Claro que sim. Temos de ter os pés bem assentes na terra e a cabeça no lugar. Não somos maus quando perdemos nem um fenómeno quando ganhamos.
Ambicioso, Maxi Pereira lembra que o Benfica entra em todas as competições para ganhar
No arranque da época, Maxi Pereira reconheceu que o FC Porto, por ser campeão, apresentava-se como favorito à Liga. «Disse isso antes do início da época e com base no passado recente, mas tanto FC Porto, Benfica e Sporting têm as suas possibilidades. Agora que o campeonato começou já há quem defenda que o Benfica é favorito, mas eu prefiro que sejam os outros os favoritos e no final o Benfica seja campeão.» Mas a ambição do Benfica não se limita às fronteiras nacionais. Também na Europa os encarnados podem surpreender. «Sim, o objectivo do Benfica é sempre vencer. Não nos tocou um grupo fácil, mas nesta fase não poderia ser de outra forma. Temos possibilidades de passar à segunda fase e continuar a lutar pela Liga Europa.»
A época será marcada, também, pela qualificação para o Mundial 2010. Maxi acredita na presença do Uruguai mas, por experiência própria, sabe que a tarefa será complicada. «Lutamos sempre até final pelo quinto lugar, e acredito que mais uma vez podemos alcançar esse objectivo», defende. Na final da mais importante competição de selecções gostava de defrontar Portugal ou Brasil. «São grandes equipas, com grandes jogadores. Em qualquer dos casos seria um sonho.»
Maxi Pereira chegou ao Benfica como médio direito mas acabou por afirmar-se como lateral direito. Um troca de papéis que já tinha conhecido no Uruguai. «Quando comecei mais a sério no futebol, aos 13, 14 anos, a minha posição era médio, no centro, na direita ou na esquerda. Nos últimos quatro, cinco anos fui alternando entre médio direito e lateral direito, tanto no meu ex-clube, o Defensor Sporting, como na selecção do Uruguai. Sinceramente, é na defesa que me sinto mais cómodo e é onde rendo mais, mas dou uma mão onde for preciso», reconhece.Autocrítico — «é a melhor forma de corrigir o que possa não estar bem», sustenta —, revê, em casa, os vídeos dos jogos e reflecte também sobre o comportamento nos treinos. «Quando passam facilmente por mim ou vejo que algo não está bem, fico a pensar nisso para me apresentar melhor no dia seguinte», admite.
Tatuagens
«Tenho tantas espalhadas pelo corpo que, sinceramente, já perdi a conta. Algumas têm um significado especial, outras nem por isso. Nos braços, por exemplo, tenho os nomes dos meus irmãos e dos meus pais. Outra das tatuagens que tenho é um macaco, por causa da alcunha que tenho desde criança», explica Maxi Pereira. Em breve, também o nascimento da sua primeira filha, Belén, há cerca de duas semanas, deverá merecer registo tatuado no corpo do internacional uruguaio do Benfica.
É a alcunha de Maxi. «Sempre me chamaram assim, tanto no meu ex-clube como na selecção. Já vem de criança. Acho que tem a ver com a minha forma de andar [risos]. Em Portugal utiliza-se mais a expressão macaco [risos].»
Kaká difícil
«Cristiano Ronaldo, Messi e Kaká são os três melhores do mundo», diz o lateral do Benfica, que na sua posição destaca «Maicon e Daniel Alves». E qual terá sido o adversário que mais dificuldades sentiu em marcar? «Foi o Kaká, na Champions, frente ao Milan.» Na infância admirava Montero, internacional uruguaio que actuou na Juventus.
Pai babado
Maxi foi pai pela primeira vez há menos de duas semanas. Agora todo o tempo livre é dedicado à pequena Belén. «Tem sido uma experiência fantástica. De noite acorda de três em três horas, para comer, é normal, mas é a minha mulher quem trata dela e deixa-me descansar um pouco mais.»
Ténis
Além do futebol, o camisola 14 das águias é apreciador de outras modalidades. «Gosto muito de ténis, sobretudo quando jogam o Nadal e o Federer. Também basquetebol, mas o que mais vejo é mesmo futebol.» As ligas espanhola e inglesa são as suas predilectas, mas também não perde o campeonato português.
Peixe
«Gosto muito de peixe e aqui em Portugal há uma grande variedade, é óptimo. Também sou apreciador de pasta», diz o uruguaio. No plano cinematográfico prefere filmes de acção e terror, ao passo que no campo musical o seu estilo de eleição é Cúmbia, muito famoso em países como Argentina e Uruguai. A maior virtude, diz, é a humildade; quanto ao defeito, é «não dizer as coisas no momento certo», guardá-las para si.
Maldade
Maxi não viu as imagens que chocaram o mundo do futebol: violenta entrada de Axel Witsel, do Standard Liège, sobre Marcil Wasilewski, do Anderlecht, que resultou na fractura da tíbia e do perónio deste último. «Já me falaram, mas prefiro não ver. Assisti a situações idênticas e é uma sensação horrível, sobretudo quando há maldade.»
2 comentários:
Um excelente jogador pela qualidade e pela garra que entrega em campo!!!
"...nunca me dou ao luxo de sentir-me cansado, pois cada lance pode decidir um jogo contra nós ou a nosso favor. É por isso que disputo todos os lances da mesma maneira, até ao último minuto."
se todos pensassem assim de certeza que seriamos campeões ;)
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