A questão da liderança
Por José Jorge Letria in Jornal O Benfica
Sempre entendi que a questão fulcral no trabalho de um treinador é a sua capacidade de liderança. Um treinador, seja qual for o seu “curriculum” ou nacionalidade, não tem de ser telegénico, fotogénico, simpático, sedutor ou politicamente correcto. Tem uma missão a cumprir e é pela forma como a cumpre que irá ser avaliado. Mal andará essa avaliação se a fizerem depender das frases mais ou menos criativas e pomposas que proferiu, dos amuos, dos sorrisos e da simpatia ou antipatia que gerou no sempre intenso e imprevisível circo mediático.
O que se espera de um treinador é que saiba transformar o colectivo com o qual trabalha não num mero somatório de talentos mas numa equipa que tenha a caracterizá-la e a defini-la a capacidade de executar um plano, de cumprir objectivos bem determinados e de não se deixar minar pelas pequenas, médias e grandes querelas internas que rapidamente criam clivagens e tensões em qualquer grupo. Este princípio é válido para as empresas, para os colectivos artísticos e para a sociedade em geral. Quem não perceber e não levar à prática esta regra,
mal andará no cumprimento das suas funções.
É por isso que eu gosto do estilo de Jorge Jesus e daquilo que dele, no Benfica, já nos foi possível observar e perceber, através do modo como estrutura a equipa, como opera as substituições e como põe em prática um dispositivo que, nunca desprezando o sentido do espectáculo, visa essencialmente a eficácia a partir de um conceito ofensivo e concretizador da prática futebolística. Antes do jogo com o Vitória de Setúbal, ouvi-o dizer aos jornalistas algo parecido com isto: “Os jogadores não têm desculpas para não atingirem os objectivos fixados.” Num país que vive, secularmente, da desculpabilização que paralisa e desresponsabiliza, dentro da lógica perversa do “a culpa não foi minha, foi do outro”, é estimulante ver e ouvir quem não se rende aos eufemismos e aos rodeios. Na realidade, ganha quem for capaz de combinar os dois verbos deste binómio: crer e querer. Com efeito, é preciso acreditar para que a crença determine a vontade e os resultados que ela produz. Escreveu um dia Napoleão que, “na guerra, a audácia é o mais belo cálculo do génio”. Aqui não estamos, obviamente, a falar de guerra, mas nem por isso devemos desvalorizar o papel da audácia. Sem ela dificilmente se vence, se triunfa, se convence. Por isso é tão importante a questão da liderança. Quem a tem, chama-lhe sua e deve usá-la para tornar ganhador o projecto em que acredita. Assim se fazem os vencedores e se constroem as vitórias. Estamos no bom caminho.
2 comentários:
já há uns tempos que não ouvia ou lia nada deste senhor... mais uma razão para gostar deste blog ;)
É um Senhor!!!
Até agora só consegui arranjar julgo que duas crónicas, mas leio todas as semanas no jornal do Glorioso!! Muito bom!!
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