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16 julho 2009

Crónicas de Leonor Pinhão


A velha questão do guarda-redes na nova equipa de Jorge Jesus

Por Leonor Pinhão in A Bola

Os jogadores de futebol são iguais às outras pessoas que não jogam futebol. Frequentemente há pessoas que estão no lugar certo no momento errado, o que pode ser mau. Ou que estão no lugar errado no momento certo, o que costuma ser muito bom.Entre os jogadores de futebol, por razões enviesadas, são os guarda-redes os mais atreitos a este tipo de situações. Justamente pelo lugar que ocupam, definido por uma linha, a linha de golo, e definido pelos paus com que se delimitam as balizas que têm por missão guardar.

Aos guarda-redes, por exemplo, nunca se dá muito mérito quando estão no lugar certo. É o mínimo que se lhes exige. Embora um guarda-redes experiente e sábio na arte da colocação tenha muita importância para os objectivos do resto da equipa, a verdade é que nunca ninguém apelidou de «fabulosa» uma defesa de um guarda-redes que estivesse convenientemente situado entre os postes. «Estava no lugar certo», rezará a crítica especializada. «Estava bem colocado», repetirão os adeptos. Mas nada mais do que isto, nada de elogios ou de cânticos aos poderes do guardião.
No Benfica também isto se passa, como não podia deixar de ser. Embora com algumas variantes que advêm do facto de, nas duas últimas décadas, o percurso da equipa de futebol não ter sido tão glorioso quanto o foi nas oito décadas precedentes.
O Benfica tem tido muitos guarda-redes, uns melhores do que os outros, outros mais felizes, outros mais infelizes. E teve, sobretudo, um guarda-redes que, do ponto de vista histórico, esteve ao longo de três temporadas no lugar certo mas no momento errado.
Tratou-se de Michel Preud' homme, um dos grandes guarda-redes do futebol europeu, senhor de um nome que foi e é uma referência dentro da sua especialidade, e que teve o supremo azar de passar pelo Benfica (o lugar certo) num período especialmente conturbado e medíocre da produção global da equipa (o tal momento errado como todos não deixarão de concordar).
Os admiradores confessos das artes de Preud'homme na baliza diziam, e com alguma razão, que sem o guarda-redes belga aquele mau período do futebol do Benfica ainda poderia ter sido pior. Os sonhadores confessos limitavam-se e ainda hoje se limitam a sonhar com o jeito que Michel Preud'homme teria dado e daria ao Benfica se tivesse vindo para a Luz noutras circunstâncias e noutro tempo, ou seja, no momento certo.

Tudo isto para se chegar à inevitável conclusão que Jorge Jesus, acabado de chegar, tem um problema para resolver na baliza do Benfica, problema esse que existe desde que Preud'homme se foi embora e já lá vão tantos anos.
Os predecessores de Jorge Jesus no comando técnico do Benfica não ajudaram nada à resolução deste problema. José António Camacho, Giovanni Trapattoni, Ronald Koeman, Fernando Santos, outra vez Camacho, e, finalmente, Quique Flores contaram quase sempre com o mesmo trio de guarda-redes — Moreira, Quim e Moretto — e fizeram-nos rodar na baliza confiando-lhes, a um de cada vez, uma titularidade que se justificava mais pelos erros e infelicidades dos concorrentes ao lugar do que pelos méritos individuais de cada um deles.
Ora assim é difícil moralizar um guarda-redes e o que o Benfica tem tido mais nestes últimos anos são guarda-redes profunda e doentiamente desmoralizados. O que se tem reflectido na produção da equipa sem motivos para festejar.
Aceita-se, portanto, que os jornais falem a verdade quando anunciam que Jorge Jesus «pensa em futebol 24 horas por dia». É normal que assim seja. Que nem durma a pensar em como irá resolver a velha questão do guarda-redes da sua nova equipa. Roubando horas ao sono, o treinador do Benfica está a pensar bem no assunto. É tudo e apenas uma questão de «moral» visto que sobre Moreira, Quim e Moretto já se eternizou, sem grandes resultados práticos, a questão de se saber qual deles é o melhor. É que depende sempre do último jogo, do último erro, da última infelicidade, o que não é maneira de consagrar um titular que faça a unanimidade das opiniões e das confianças na baliza do Benfica.
Nos dois primeiros jogos da pré-temporada, contra o Sion e contra o Shakthar, Jorge Jesus fez bem o que tinha a fazer. Começou por Moreira que não comprometeu nem por uma vez os primeiros 45 minutos da boa exibição da equipa contra os suíços. O Benfica chegou ao intervalo a ganhar por 2-0 e sem ter passado por sustos ou arrepios no seu extremo reduto. Na segunda parte entrou Quim para o lugar de Moreira e coube a Quim não ser feliz.
Uma mal pensada reposição de bola à mão atrapalhou Yebda que, no segundo seguinte, mais se atrapalhou a si próprio e daí nasceu o primeiro golo do Sion. O golo do empate surgiria pouco depois, de um centro disparado de tão longe e com tão má direcção que acabou por passar por cima da cabeça de Quim e entrar na baliza.
Saiu-se mal Quim no seu primeiro teste da época. E os adeptos do Benfica, habituados a coisas destas e aos consequentes afastamentos imediatos dos seus guarda-redes à primeira barraca, espantaram-se de ver o desastrado Quim como titular no início do encontro seguinte contra o Shakthar.
Será este o dedo de Jorge Jesus? Surpreender a massa crítica benfiquista e deixar claro para os seus guarda-redes que já lá vai o tempo dos castigos liminares? Talvez tenha razão o novo treinador do Benfica. Afastar um guarda-redes depois de um frango, ou mesmo de meio-frango, não só é cruel como, se olharmos para trás, vemos que com esse método nunca se construiu nada de bom, nem de duradouro, nem de cem por cento fiável.
Quim cumpriu sem comprometer a primeira parte do jogo com o Shakthar e não tem mais razões para pensar que, para ele, a época terminou. A forcinha moral que Jorge Jesus deu a Quim teve, pois, um grande efeito. E estas coisas da moralização são altamente contagiosas. Moretto, por exemplo, é o menos estimado e mais criticado dos guarda-redes do Benfica. Público e crítica são, regra geral, implacáveis com o guarda-redes brasileiro.
Mas contagiado pela moralização que o treinador deu a Quim, depois de uma actuação infeliz, Moretto só pode ter pensado que caso lhe acontecesse o mesmo teria da parte de Jorge Jesus a mesma benevolência. Por isso entrou em campo altamente descontraído para a segunda parte do jogo com o Shakthar. E era só disso que precisava. Defendeu, a frio, uma grande penalidade e aos 65, 86 e 87 minutos fez defesas de elevado grau de dificuldade assegurando o 2-0 sem sobressaltos.
E hoje, como é que vai ser?
Quem vai jogar de início na baliza do Benfica no Torneio do Guadiana?
Decida-se bem, Jorge Jesus. E, depois, nem pense mais nisso. O nosso treinador também precisa de dormir.

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