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11 junho 2009

Entrevista a Rui Costa no Jornal "a bola"




RUI COSTA

Eu, Rui, me confesso
O maestro, de chuteiras penduradas e fato vestido, faz o primeiro grande balanço da época benfiquista Não lhe falta esperança no futuro encarnado Nem confiança em Filipe Vieira
Por
josé manuel delgado
RUI COSTA fala hoje, pela primeira vez, nas páginas de A BOLA que se seguem, da experiência que viveu no ano de estreia como director desportivo do Benfica. Trata-se, obviamente, de uma entrevista importante em que o antigo número 10 nada deixa por esclarecer, excepto aquilo que ainda está no segredo dos deusesrelativamente à próxima temporada. Há cerca de um ano, quando Rui Costa acabara de ser investido em funções dirigentes, perguntei-lhe se não temia a mudança de uma actividade que se vivia dentro das quatro linhas para outra que decorre fora do terreno de jogo. Na altura, o maestro, contou-me uma experiência pessoal, vivida já em Itália, quando o mítico Antognoni, que ele foi substituir na Fiorentina e com quem fez grande amizade, saltou de jogador para director desportivo. «Sei o que ele passou, sei que não será fácil, mas estou consciente das dificuldades desta transição e preparado para ela.» Um ano volvido, Rui Costa passa em revista as ilusões e desilusões benfiquistas em 2008/09, coloca no lugar alguns mitos urbanos que entretanto foram sendo criados em torno da relação que mantém com Luís Filipe Vieira — a quem apoiará, sem restrições, caso o presidente demissionário decida ir a votos a 3 de Julho — e assume, sem hesitações, responsabilidades próprias naquilo que de pior correu na temporada de 2008/09. Porém, não deixa de lembrar que na fase desportiva que o Benfica vive é necessário solidificar processos e aponta, desde os títulos jovens à metodologia científica do futebol do clube, uma série de progressos que não deixarão de ter reflexo no Benfica.
Cavalheiro quando fala de Quique, prudente quando o tema é Jesus, pragmático relativamente a Reyes, e conciliador relativamente à arbitragem, Rui Costa mostra que conhece cada vez melhor o terreno que pisa e garante, para 2009/10, um Benfica mais forte e menos ansioso. Aliás, terá sido a ansiedade, especialmente em casa, a
tramar o Benfica de Quique. E é exactamente em nome do combate à ansiedade da equipa que Rui Costa se posiciona favoravelmente às eleições antecipadas que, a cumprirem-se em final de Outubro como estava previsto, teriam influência negativa sobre o tecido social encarnado. Campeão dentro dos relvados — ganhou tudo o que havia para ganhar — Rui Costa deixa uma promessa aos sócios e adeptos benfiquistas, feita com a convicção que só quem sente o clube como parte da família pode fazer: «Ganhei dentro de campo, ganharei como dirigente!»

«Como comandante do navio sou o primeiro responsável»
Entrevista de
José Manuel Delgado


Oque aprendeu neste primeiro ano como director desportivo de um clube com a responsabilidade do Benfica? — Em cada fase da nossa vida apreendemos sempre coisas novas, aliás nos tempos que correm a aprendizagem em qualquer profissão nunca se completa, estamos sempre a aprender. No meu caso não é diferente. Foi um ano de transição e adaptação acelerada a uma nova realidade, mas onde me sinto confortável!

— A sua passagem do relvado para o gabinete pode considerar-se completa?
— A vida é um curso de aprendizagem permanente. Nunca nada se completa, podemos estar mais seguros, saber mais, estar mais à vontade em relação a determinadas situações, mas nunca podemos dizer que já sabemos tudo. Seguramente sei hoje mais e estou mais à vontade no papel que desempenho que quando aqui cheguei, e dentro de um ano poderei dizer o mesmo, portanto a aprendizagem é permanente.

— Como é ver os dirigentes do ponto de vista dos jogadores e ver os jogadores do ponto de vista do dirigente?
— São planos distintos, há deveres e responsabilidades em ambos e, em ambos, tem de haver uma relação de respeito. Enquanto jogador sempre actuei desta forma e enquanto dirigente mantenho essa postura!

— Onde é sentida mais a pressão, a jogar ou a dirigir?
— Em ambos os casos há pressão, embora ela seja diferente. É verdade que para quem jogou, a sensação de incapacidade é maior quando estamos fora de campo, porque não podemos intervir directamente no jogo. Desse ponto de vista a pressão enquanto dirigente creio que é maior.

— Maurício Pellegrini disse esta semana que a influência do treinador é de 95 por cento ao longo da semana e a do jogador é de 95 por cento ao longo dos 90 minutos. Concorda?
— Percebo onde é que o treinador do Real Madrid quer chegar e concordo com a análise, embora alterasse a proporção de valores que Maurício Pellegrini indicou. O treinador pode ganhar um jogo no banco, uma alteração acertada pode mudar um jogo e isso vale mais do que apenas 5 por cento.

— Como caracteriza a época de 2008/09 do Benfica?
— Aquém das expectativas a nível desportivo, positiva a nível estrutural. É evidente que o terceiro lugar na Liga ficou aquém das expectativas de todos, mas consolidamos um grupo de trabalho (e não falo apenas de jogadores), um núcleo duro que, hoje, está perfeitamente identificado. Tivemos a confirmação de jovens talentos
— a média de idade da equipa é muito baixa. Ao contrário do que acontecia antigamente, foi a primeira vez que a estrutura de futebol (profissional, formação e prospecção) passou a funcionar como um só corpo, não há interesses cruzados ou divergentes e isso começa a dar os seus frutos. Tudo isto são aspectos positivos, mas é evidente que, no que à equipa de futebol profissional diz respeito, esperava — como todos os benfiquistas — bastante mais! E, desse ponto de vista, como comandante do navio, sou o primeiro responsável!

— O Benfica, essencialmente, perdeu a Liga Sagres na Luz. Como é isso explicável, num clube que fazia, historicamente, da mística e da força do Terceiro Anel os seus maiores trunfos?
— Toda a gente reconhece o que o Benfica passou nos últimos quinze anos, principalmente o deserto que atravessámos entre 1994 e 2004, e isso ajuda a explicar a ansiedade que se gera, nos jogadores, nos sócios e adeptos e, até, nos dirigentes, para resolver, para ganhar os jogos. Creio que é essa ansiedade que pode explicar, em parte, essa realidade. Depois há também os postes, as bolas que não entram. O caso, este ano, da Académica é o melhor exemplo, podíamos estar toda a noite a jogar que a bola não iria entrar. Agora, a força dos sócios, a mística do Benfica é igual, sinto isso, o que aumentou foi a ansiedade.

— Quique Flores falhou. Porquê?
— Não é uma questão de culpas. É sempre uma questão de resultados. Mais do que falar de uma falha do treinador, devemos falar de uma falha colectiva, onde eu naturalmente me incluo. Sou a pessoa que liderou o futebol e assumo as responsabilidades pelos resultados que tivemos. Faltou-nos regularidade, mas também é verdade que houve momentos 'chave' durante o campeonato em que algumas decisões erradas da arbitragem também nos prejudicaram, mas não quero ir por aí. Quanto ao treinador, permita-me que reserve para mim os detalhes das várias conversas que tive com ele e que destaque a correcção da nossa relação!

— Foi difícil abreviar o contrato de Quique Flores? Quais as verbas envolvidas?
— Nada disso. Sempre tive com Quique Flores uma relação correcta e de estima que, tenho a certeza, é retribuída. Não vou falar em relação a verbas, mas gostaria de dizer que as verbas nunca foram o factor determinante no acordo!

— Que tipo de conversa tiveram depois de jogos como o da Trofa ou o da Reboleira?
— Conversas normais que existem entre o director desportivo e o treinador. Conversei durante todos os jogos com Quique, o anormal teria sido não haver conversas. Garantidamente não foi por falta de diálogo entre director desportivo e treinador que as coisas não resultaram!

— Ficou satisfeito com os reforços de 2008/09?
— Este ano partiu-se para a reconstrução de um novo grupo, é evidente que podemos sempre esperar mais e que podemos errar em algumas opções, porque o erro faz parte do processo de decisão. Aqueles que dizem que não erram, seguramente é porque não decidem! Creio, sinceramente, que temos um grupo de excelentes jogadores, e tudo iremos fazer para o poder manter por muito tempo. É assim que se garante a estabilidade necessária. As revoluções anuais a nível de plantel são prejudiciais, sempre fui contra isso. Estou convencido que os resultados vão acabar por aparecer!

— A época de Pablo Aimar, sem ser brilhante, acabou por ser 'razoável'. Espera mais dele na próxima temporada?
— No início da época tive a oportunidade de explicar que o Pablo tinha chegado a Portugal com alguns problemas físicos e que o tínhamos contratado para quatro anos e não para quatro meses. O tempo veio dar-me razão. O Pablo é um jogador de classe mundial, está aqui de corpo e alma, entrega-se de forma incondicional e tenho a certeza de que no próximo ano vai render mais do que rendeu este ano. Todos esperamos mais dele, a começar, estou seguro, pelo próprio Pablo.

— A que se deveu o rendimento de Suazo ter ficado muito abaixo daquilo que ele vale?
— Há sempre um período de adaptação, foi vítima de algumas lesões, em alguns jogos. Com o espírito de sacrifício que se lhe reconhece, jogou alguns jogos sem estar totalmente bem do ponto de vista físico e tudo isso pode explicar esse menor rendimento. Mas ninguém pode negar a capacidade de entrega e a dedicação de Suazo. É um jogador de eleição.

— Cardozo não merecia mais oportunidades?
— Todos os jogadores trabalham para terem oportunidades. É um princípio universal, é o futebol! O importante é que se reconheça que sempre que teve oportunidades demonstrou que as merecia! Acho que isso é que merece ser destacado!

— Como é possível que Di María, tenha sido, simultaneamente, titular da Selecção A argentina, em jogos oficiais, e suplente do Benfica?
— Di María é um jovem talento com um futuro fantástico à sua frente e isso é o que verdadeiramente importa. Não vou alimentar a discussão que a pergunta sugere porque isso seria discutir opções técnicas. É preferível destacar que terminou bem o campeonato e que tem, ainda, uma grande margem de progressão. É, seguramente, um dos muitos jogadores de futuro com que o Benfica conta.

— José António Reyes, um génio intermitente, é carta fora do baralho benfiquista para a próxima temporada?
— É um jogador de qualidade indiscutível, um talento futebolístico. É um jogador importante e iremos fazer o possível para poder ficar com ele. Mas também é verdade que a conjuntura económica não é favorável — e não é favorável nem para o Benfica, nem para qualquer clube. Se pudermos alcançar um acordo com o Atlético de Madrid sem comprometer a nossa realidade orçamental ficaremos com Reyes. É o que posso dizer nesta altura. Tal como o Pablo, Reyes demonstrou uma capacidade de entrega que devemos destacar. Jogou durante um mês e meio com uma mão partida e nunca se recusou a dar o seu contributo!

— Depois dos concursos de Shaffer, Patric e Ramires, que outros lugares vai o Benfica acautelar, prevendo, inclusivamente, a saída de Katsouranis e, talvez, de um dos centrais?
— As necessidades do plantel estão acauteladas há muito tempo e aquilo que temos vindo a fazer é trabalhar no preenchimento dessas necessidades. Saberão, em breve, de que reforços estamos a falar, mas não agora!

— Na próxima época, o Benfica contará mais com Fellipe Bastos?
— É outro jogador jovem do plantel com muito talento e uma enorme margem de progressão. É evidente que contamos com ele sem, no entanto, querer apressar o seu crescimento enquanto futebolista.

— A renovação de Nuno Gomes é pacífica?
— O Nuno é uma referência do Benfica. Como devem calcular a mim não me incomodam nada as idades, interessa-me a qualidade. Enquanto qualquer jogador tiver qualidade para representar o clube, deve fazê-lo. Portanto, é uma questão pacífica para o Benfica.

— Com jogadores de nível internacional, como se explica a péssima campanha do Benfica na fase de grupos da UEFA?
— À semelhança do que aconteceu na Liga, comprometemos a nossa continuidade na UEFA nos jogos em casa. Tivemos a mesma ansiedade, a mesma vontade de resolver tudo muito depressa e isso comprometeu a nossa prestação. Esta conclusão obriga-me a equacionar soluções que nos permitam gerir melhor essa ansiedade.

DO MERCADO a... JORGE JESUS

— A que se deve a actual preferência pelo mercado sul-americano?
— O que verdadeiramente temos é preferência por bons jogadores, independentemente do mercado onde actuem, mas é evidente que os jogadores sul-americanos têm demonstrado uma melhor capacidade de adaptação ao campeonato português.

— Com os sete reforços previstos (aos já referidos junta-se, muito provavelmente, o guarda-redes Andújar, e ainda um trinco e dois avançados) o Benfica poderá lutar pelo título, com uma consistência que este ano não teve?
— Não vou falar dos reforços, ainda não é o tempo, mas o que posso garantir é que o Benfica irá lutar pelo título. O Benfica não pode entrar em nenhuma competição partindo do princípio de que não vai para ganhar. Creio que tivemos uma equipa consistente que falhou em alguns momentos, umas vezes por culpa própria, outras por culpa alheia! Fizemos um determinado caminho este ano, e no próximo vamos continuar a perseguir o nosso principal objectivo que é o título. Todos nós, no Benfica, estamos a trabalhar para isso!

— Confirma a escolha de Jorge Jesus?
— Tal como os reforços, só irei falar do treinador quando ele for apresentado. Apenas lhe posso confirmar que estamos a trabalhar no sentido de trazer o treinador que do nosso ponto de vista melhor garanta os interesses do Benfica.

— Será este o tempo de finalmente os treinadores do Benfica durarem mais do que uma época?
— Esse é sempre o objectivo de qualquer Direcção, mas para que uma relação dure tem de haver vontade de ambas as partes e é bom não esquecer que num passado recente houve vários treinadores que saíram contra a vontade do clube. A estabilidade é um princípio que não está dependente apenas da vontade do clube, é bom não esquecer isso! Já agora gostava de dizer mais uma coisa, o Benfica deve ser um clube para jogadores e treinadores que sintam esta camisola, que estejam aqui de corpo e alma. Enquanto for responsável pelo futebol, aqueles que não preencherem estes requisitos devem saber qual é a porta de saída!

— Que progressos foram feitos no clube, ao nível de infra-estruturas, no futebol do Benfica?
— O Benfica tem condições ao nível do melhor que há internacionalmente. O centro de estágio foi todo readaptado a nível de equipamentos, o laboratório (o Benfica-LAB) é um instrumento essencial e cujo desenvolvimento foi feito por profissionais do Benfica, permitindo-nos obter todos os parâmetros físicos dos nossos atletas, desde a formação até ao futebol profissional. Desse ponto de vista. este ano foi um ano de claro desenvolvimento, principalmente a nível do laboratório, apesar deste ter sido o seu ano zero.

— Embora essa seja competência do treinador, dá ideia de que o plantel está a ser formatado para um 4x4x2 em losango, como no tempo de Fernando Santos. É assim? Com que vantagens?
— Um plantel estará bem formado quando tiver jogadores que possam jogar em qualquer modelo. Essa é a nossa preocupação e a nossa função, acautelar os jogadores necessários para que o treinador possa optar pelo modelo que pretende implementar. Nenhuma equipa deve ter só um modelo de jogo!

— Está preparado para alguma nova exigência, em termos de plantel, do novo treinador?
— Estamos preparados para trabalhar com o novo treinador em benefício do clube, mas sempre dentro das possibilidades do Benfica.

— Vai trabalhar de perto com o novo treinador, mostrando-lhe os cantos da casa e criando-lhe um a estrutura de apoio que lhe permita uma mais fácil adaptação à realidade nova que vai encontrar no Benfica?
— Essa é uma das minhas funções. Foi assim com Quique Flores, será assim com o novo treinador. Há uma coisa que as pessoas devem entender, quem trabalha aqui tem um único objectivo: fazer ganhar o Benfica. Não será seguramente por falta de adaptação ao clube e à sua estrutura que o novo treinador não irá ganhar!

— Sem poder fazer investimentos tão avultados como os do ano passado, com que ânimo é que parte para a preparação de 2009/10?
— É evidente que vamos ter de adaptar o nosso investimento à crise mundial. É uma realidade com a qual vamos ter de viver, mas os investimentos que foram feitos no ano passado não se esgotaram, continuam dentro do clube. Quando fizemos o investimento na época que agora termina, sabíamos que ele não era repetível nos anos seguintes, mas a ideia sempre foi valorizar e rentabilizar esse mesmo investimento, nunca repeti-lo. Respondendo à sua pergunta, parto com o mesmo ânimo e com o mesmo entusiasmo com que parti na época anterior.

A ARBITRAGEM E OS DESEJOS PARA 2009/2010

— O Benfica queixou-se amargamente de algumas arbitragens. Tem razões para acreditar que na próxima época as coisas serão diferentes?
— Quero ter razões para acreditar que toda a gente vai partir em condições de igualdade para este campeonato, o que pressupõem arbitragens isentas. É neste princípio que quero acreditar!

— Sentiu o Benfica discriminado relativamente ao FC Porto e ao Sporting?
— Só vou falar do Benfica, e em relação ao Benfica senti que fomos prejudicados em alguns jogos, e em momentos críticos que condicionaram o desempenho da equipa!

— O que falta à arbitragem portuguesa que, por exemplo, a italiana (realidade que bem conhece) tenha?
— Os problemas de arbitragem não param na fronteira. Não é um problema nacional, também existem problemas no estrangeiro. Recordam-se da meia-final para a Liga dos Campeões entre o Chelsea e o Barcelona? Os problemas também existem lá fora. Temos é a obrigação de trabalhar todos os dias, em articulação com os responsáveis pela arbitragem, no sentido de diminuir o número de erros!

BENFICA TV, PÚBLICO E HORÁRIOS DOS JOGOS

— Assistiu ao nascimento da Benfica TV. Foi um grande passo em frente dado pelo Benfica?
— Quando regressei ao Benfica, vim de um clube que já tinha um canal de televisão, o AC Milan. Conhecia essa realidade e sabia da importância que um canal deste tipo pode ter. A Benfica TV é uma aposta ganha e um grande passo que o Benfica decidiu dar. Mais uma vez liderou, inovou no mercado português!

— Jogos à tarde e bilhetes baratos são duas formas que o Benfica vai explorar para ter ainda mais gente na Luz, sabendo-se que bancadas vazias não fazem bem a ninguém, muito menos à qualidade do futebol praticado?
— Não me parece que o problema esteja tanto no preço dos bilhetes — a política do Benfica passa por ter bilhetes bastante acessíveis. Creio que o problema está mais no horário dos jogos. Temos de ter a possibilidade de poder antecipar o horário dos jogos. Se tivermos jogos mais cedo tenho a certeza que teremos mais público nos estádios e o público é fundamental para o espectáculo e para a motivação dos jogadores!

— Chega ao fim da sua primeira época como director desportivo com que impressão da comunicação social, relativamente àquela que tinha enquanto jogador?
— Quando aceitei este cargo sabia o que me esperava. São análises diferentes, mas a pressão que a comunicação social coloca é igual. As críticas, quando são feitas de boa-fé, o que nem sempre acontece, servem para crescer. Nunca me preocupei em ler apenas as partes positivas.

— Apesar da temporada cinzenta (não só em resultados — salvou-se a Carlsberg Cup — mas sobretudo em exibições, excepção feita ao Nápoles e ao Sporting), a Luz registou um boa média de espectadores. Esse é um bom indicador para 2009/10?
— Mesmo falhando os objectivos que foram traçados, o público esteve sempre presente e os adeptos apoiaram sempre a equipa. É algo de que nunca ninguém se queixou. Os adeptos foram excepcionais. É evidente que o nosso objectivo passa por ter sempre o estádio da Luz com mais de cinquenta mil pessoas, mas temos de ser claros: os sócios e adeptos virão com mais facilidade ao estádio quando a equipa estiver a ganhar de forma continuada, quando estiver a discutir o título, e isso depende naturalmente do trabalho que fizermos. É normal que assim seja.

— Melhores e piores momentos que passou na época 2008/09, melhores e piores surpresas que teve?
— Escolheria as exibições contra o Nápoles e Sporting, que alimentaram a melhor expectativa em relação a resto da época e a Taça da Liga — o meu primeiro troféu enquanto dirigente — como dois dos melhores momentos. Quanto aos piores, a eliminação na fase de grupos da Taça UEFA, o jogo no Dragão que, em função de um erro de arbitragem, nos retirou a liderança do campeonato e, finalmente, o jogo contra o V. Guimarães, em casa, que nos afastou definitivamente do título.

— Que mensagem gostava de deixar aos adeptos benfiquistas, quer relativamente à época que passou, quer, sobretudo, ao que aí vem?
— Tenho uma grande ambição e um objectivo claro: trazer o Benfica de regresso aos títulos. Ganhei dentro de campo, sei que também o posso fazer fora dele. Tenho a convicção de que estamos a trabalhar bem, portanto a minha ilusão em relação à próxima época é enorme. E é essa palavra de esperança que queria deixar. Quanto ao passado, tenho o dever de partilhar com eles a desilusão que todos sentimos, assumindo, como sempre fiz na vida, a minha responsabilidade enquanto director desportivo.

A NOVA FASE DA FORMAÇÃO DO BENFICA

— É expectável que possa haver um melhor aproveitamento da formação encarnada, quer na entrada no plantel principal, quer graças a uma política de empréstimos mais consequente?
— Um dos meus objectivos é obter o melhor rendimento dos jovens da formação, mas isso não significa precipitar a entrada de jovens no nosso escalão principal só para dizer que o fizemos ou para que isso seja contabilizado a nível estatístico. Vamos fazê-lo quando sentirmos que estão preparados, e o Miguel Vítor este ano é um claro exemplo do caminho que queremos percorrer. Estamos a desenvolver um óptimo trabalho de base que começa a dar os seus frutos, ainda ontem conquistamos, ao fim de vinte anos, o Campeonato Nacional de Iniciados, e temos boas hipóteses de ganhar os títulos de Juvenis e Juniores. O centro de estágio foi, desse ponto de vista, uma obra fundamental para a consolidação da formação!

— O nome de Rui Jorge surgiu em alguns órgãos de comunicação como um possível novo treinador dos juniores do Benfica...
— Sou amigo e colega do Rui Jorge, tenho uma enorme estima por ele e sei que se trata de um bom profissional, mas a partir daqui não houve mais nada, não lhe fiz nenhum convite e, portanto, essa pergunta tem de ser feita a quem deu a notícia!

— Trabalhar com empresários FIFA foi uma nova realidade para si, potenciada pela política de os passes serem divididos por várias partes. Como se vê nesse papel? Confortável?
— Já conhecia a grande maioria desses empresários e é uma realidade com a qual sabia que tinha de conviver diariamente. Sinto-me perfeitamente confortável e eles passaram, igualmente, a conhecer-me melhor. Sabem bem como defendo os interesses do Benfica.

«Podemos e devemos gerar maiores receitas televisivas»
Nenhuma realidade da vida do clube passa ao lado do director desportivo dos encarnados. Por exemplo, relativamente aos direitos televisivos que os encarnados actualmente auferem, Rui Costa lembra que «o contrato foi assinado numa altura em que era necessário garantir financiamento para evitar o desaparecimento do clube e, todos sabemos, quando assinamos contratos nessas condições, é sempre a parte necessitada que sai mais prejudicada.» Relativamente ao futuro, as ideias são claras e os timingsdefinidos: «hoje em dia», prossegue Rui Costa, «todos sabemos que o Benfica pode e deve gerar em receitas televisivas, uma valor bem superior ao que actualmente recebe. É um processo que se irá reabrir quando acabar o actual contrato, em 2013.»

«Se Vieira decidir candidatar-se irei naturalmente acompanhá-lo»
Rui Costa clarifica as relações que mantém com Luís Filipe Vieira, explica as funções de cada um e anuncia que estará ao lado de Vieira, caso este se recandidate

— Especulou-se, ao longo da época, que a sua coabiatação com Luís Filipe Vieira tinha sido difícil? Confirma?
— Confirmo que foram ditas uma série de falsidades por parte de algumas pessoas que desde o início sempre tiveram um único propósito desestabilizar o Benfica. Trabalhamos em conjunto e diariamente sem qualquer dificuldade.

— As vossas maneiras de ser, pode dizer-se, estão agora encaixadas?
— Sempre estiveram, por isso o convite que o presidente me fez e a resposta positiva que teve. O resto são especulações! A última coisa que me apetece fazer é valorizar esse tipo de rumores. É dar-lhes uma importância que não têm.

— Passou a imagem, a páginas tantas, que Jesus seria um treinador mais desejado por Luís Filipe Vieira do que pelo Rui Costa. Qual é a verdade no meio disto?
— Repito não vou falar de treinador, mas essa ideia de divergência entre o presidente e eu próprio, tem sido alimentada em alguns meios sem que tenha qualquer fundamento. Repito, não tem qualquer fundamento! Estamos a falar de duas pessoas que, ocupando e desempenhando funções diferentes, estão sintonizadas no mesmo objectivo. Tudo o que se diga para além disto não deve merecer credibilidade.

— O Benfica vai para eleições antecipadas. Acompanha Luís Filipe Vieira nesta recandidatura?
— Trabalho todos os dias com o presidente e percebo o empenho e a vontade que coloca no desenvolvimento do Benfica. Partilho dessa vontade e desse entusiasmo, portanto, se ele decidir candidatar-se, irei naturalmente acompanhá-lo!

— No plano pessoal, como caracterizaria Luís Filipe Vieira?
— Posso defini-lo numa palavra: genuíno!

— E no plano negocial?
— Imbatível nesse capítulo! É muito intuitivo, consegue coisas que poucos arriscariam!

— Luís Filipe Vieira já disse publicamente que o via como um futuro presidente do Benfica. Duas questões: Acha possível? Gostava?
— Acima de tudo acredito no trabalho e agradeço a confiança que sinto da parte dos benfiquistas. Não posso deixar de agradecer a confiança do presidente quando disse isso, mas a minha grande preocupação é desempenhar bem as funções que hoje assumo. Quanto ao futuro logo se verá...

— Que expectativas podem ter os benfiquistas relativamente aos próximos três anos?
— O nosso objectivo passa por recuperar a hegemonia do futebol português dentro dos padrões éticos que devem ser respeitados. Pode levar mais algum tempo, mas é esse o nosso objectivo. Temos uma primeira obrigação que passa por estabilizar o futebol, por inverter um ciclo de muitos e muitos anos, e isso não se resolve no curto prazo. É evidente que o Benfica tem de entrar sempre para ganhar, mas não podemos esquecer o que foram os últimos 15 anos, temos de ser mais pacientes em alguns momentos. Todos queremos — e eu sou o primeiro — muito mais, mas nunca podemos perder de vista de onde vimos. As coisas não mudam em oito meses, é uma ilusão, mas se soubermos manter o rumo vamos lá chegar!

— O facto de a questão eleitoral ficar resolvida a 3 de Julho dá mais tranquilidade à equipa para trabalhar e encarar a nova época, do que se as eleições fossem só no final de Outubro?
— Terá — não tenho dúvidas — benefícios para a tranquilidade da equipa. Só quem nunca esteve no futebol é que pode pensar de forma diferente!

— Vê-se em acções de campanha ao lado de Luís Filipe Vieira?
— Caso o presidente avance com a sua recandidatura, e espero que tal aconteça, terá o meu apoio! Conheço os planos que tem para o Benfica e acredito nele!

— Já houve várias pessoas da chamada 'oposição' a afirmar que o Rui Costa seria compatível com José Veiga...
— Há muita gente que acredita em milagres! É uma opção de vida.

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