1 A tragédia do Haiti sensibilizou toda a opinião pública mundial. Ninguém, absolutamente ninguém, consegue permanecer insensível aos milhares e milhares de dramas humanos que nos são transmitidos em directo pelas televisões. Como alguém dizia, o destino tem sempre um lado de incompreensibilidade e outro de ironia. As grandes catástrofes geralmente atingem quem menos preparado está para as suster. A pobreza parece favorecê-las e atraí-las como um íman. A realidade, porém, é outra e brutal. Os anacronismos constituídos por muitos países, submersos na corrupção, dominados pelo crime, subsistindo à custa da opressão dos povos, sem Estado, nem organização, nem condições mínimas de dignidade asseguradas às suas populações emergem como capa de revista nos momentos em que se transformam em notícia. No ínterim a comunidade internacional vai esquecendo-os. O Haiti, outrora colónia francesa e entreposto de escravos, tem uma história dramática de existência e de ostracização. Foi preciso um terramoto devastador para nele repararmos de novo. Pode ser que por entre os escombros renasça uma realidade diferente e que a centena de milhar de mortos dê um futuro diferente aos que, por sorte ou milagre, sobreviveram. Perguntarão o que têm estas considerações a ver com o desporto. Tudo. O desporto é um fenómeno universal, expoente de humanidade e de solidariedade. Isto mesmo será vivenciado hoje, pela iniciativa da Fundação Benfica e dos amigos de Zidane. Este jogo confere completo sentido à designação que nós, benfiquistas, damos ao nosso estádio — a Catedral. A Catedral do futebol e, sendo Catedral, um espaço de convergência, de acolhimento e de compaixão. A Catedral da Luz irá receber os melhores dos melhores da última década futebolística. Grandes estrelas que demonstram ser grandes homens. Unidos na alegria do jogo e no amor ao próximo. Convergentes no fazer bem e no bem fazer. Para deleite dos nossos olhos e auxilio dos que sofrem. Que ninguém falte. Independentemente de clubismos e de paixões. Parabéns à Fundação Benfica e aos meus amigos Luís Filipe Vieira, Carlos Moía e Rui Costa. Lá estarei para os aplaudir e dando algo a quem necessita de tudo.
2 Muito foi dito e escrito sobre o momento difícil que atravessa o Sporting. Os acontecimentos de quarta-feira não indiciam nada de bom. Mas tenhamos alguma distância e prudente reserva. Não sejamos precipitados nos juízos e nas valorações. Desconhecemos até agora a versão de Sá Pinto. Mas todos, todos em uníssono, insistem em crucificá-lo. Atribuem-lhe responsabilidades e culpas não em função dos factos, que, em rigor, se ignoram, mas do seu passado, qual mácula que o acompanha para todo o sempre. Insurrecto uma ou duas vezes, insurrecto toda a vida. Pior. Insurrecto uma vez, presumível responsável em todos os incidentes em que seja envolvido. Ora, isto nem é justo, nem é sério. Sá Pinto poderia não ser, na óptica de alguns, a escolha ideal para a direcção desportiva do Sporting. É um homem sanguíneo e impulsivo. Mas o que se sabe foi que advertiu publicamente Liedson pela sua atitude de impetração dos sócios que assobiavam o seu guarda-redes num lance inconcebível de desleixo e falta de concentração, dizendo-lhe que o descontentamento do público é merecedor de respeito porque é ele o destinatário último do trabalho de todos. Quis reunir a equipa após um jogo em que a permissividade, falta de empenho e facilitismo dos jogadores foram evidentes. Um jogador reage mal e tudo termina numa triste e indecorosa cena de pugilato, ignorando-se quem a começou. Episódio que tendo ocorrido no interior do balneário — que se deseja estanque — foi difundido no exterior com a rapidez de um meteorito. Se tudo isto ocorresse numa empresa, a reacção do director seria acatada e, se fosse excessiva, seria objecto de intervenção correctiva da administração. Se um trabalhador se insurgisse ostensivamente contra um director e o agredisse seria objecto de um processo disciplinar e de uma sanção de despedimento com justa causa. Aqui tudo ocorreu ao contrário. Porquê? Muito simplesmente porque a figura de director desportivo é mera retórica e o conceito de activo que consubstancia Liedson obriga a entidade patronal a consentir-lhe tudo, evitando, ao limite, a sua desvinculação que conformaria milhões de euros perdidos. Ora, Liedson sabe disto. Como todas as grandes estrelas. Dominá-las, impor-lhes regras de disciplina e de respeito, não é fácil e está ao alcance de poucos. São necessárias estruturas complexas e altamente profissionalizadas para o fazerem. E, sobretudo, estruturas dotadas de autoridade exercida verticalmente e sem fissuras, sabendo o jogador que acima dele se encontra uma cadeia hierárquica unida e que não claudica. Ora, esta é a grande diferença do Sporting de hoje para o Benfica e para o FC Porto. Paulo Bento foi massacrado por assumir tudo a uma vez. Sá Pinto foi corrido como bode expiatório de um situação que não conseguiu dominar. Carlos Carvalhal não ganhou ainda a autoridade necessária para dominar o balneário. E a administração vê-se perdida neste cenário. Independentemente da sanção que for aplicada a Liedson, o simples facto de, depois de agredir o director desportivo em funções, permanecer em Alvalade revela a perpetuação da indisciplina que vem vitimando o Sporting, mesmo perante a obstinada cegueira de alguns e o facciosismo exacerbado de outros que não lhes permite ver os exemplos bons que existem ao seu lado.
3 Este episódio justificou e fez compreender todas as atitudes assumidas por Paulo Bento. O tempo deu-lhe razão. Ou, como diz o povo, a verdade é como o azeite e vem sempre ao de cima.
3 Este episódio justificou e fez compreender todas as atitudes assumidas por Paulo Bento. O tempo deu-lhe razão. Ou, como diz o povo, a verdade é como o azeite e vem sempre ao de cima.
1 comentários:
É impressão minha ou durante esta semana passou-se mais qualquer coisinha acerca de Justiça?? Parece que o Sr Seara se esqueceu!!!
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